com os dentes cravados na memória
Jiddu Saldanha - irmão, meu mestre Artur Gomes. Viajamos por muitos lugares, essas fotos me fazem chorar porque só quem viu viu, só quem viveu viveu...
Simplesmente LINDRO! como você conseguiu tornar a poesia uma
causa de vida, durante toda uma vida?
*
Artur Gomes – Para te responder esta pergunta Jiddu é preciso uma retrospectiva para eu mesmo tentar compreender melhor como os caminhos com a poesia foram se tornando vitais em minha vida e de alguma forma sem nenhum tipo de planejamento pensado, mas sim, intuitivamente, como se tudo fosse acontecendo por acaso, mas aí te devolvo esta pergunta: será que nas nossas vidas as coisas acontecem por acaso?
Lá pelos idos dos anos de
1961 a 1964 dentro da tipografia da Escola Técnica de Campos, onde fiz o curso
ginasial e me tornei linotipista(minha primeira profissão), que tive o primeiro
contato mais íntimo com a poesia de Casemiro de Abreu e Gonçalves Dias. Mas não
imaginava que um dia chegaria a
escrever, apesar da emoção que
experimentava.
Em 1965 aos 16 anos tive o
meu primeiro emprego de linotipista no jornal A Cidade, em Campos, e nesse mesmo ano estudei contabilidade na
extinta Escola Técnica de Comércio.
Em 1966 foram implantados os
primeiros curso técnicos na ETC, comecei então a fazer o curso técnico em
Eletrotécnica, a tarde, e pela manhã trabalhava no escritório da Cacomanga,
fazenda em que nasci.
Em 1967 sofri um acidente, já
estava alistado para servir o exército, mas com as marcas deixadas por este
acidente, imaginei que seria dispensado em Campos mesmo, quando me apresentasse
para o embarque para o Rio de Janeiro. Mas isso não aconteceu, então passei
metade do ano de 1967 no quartel de Cavalaria de Guarda em São Cristóvão no Rio
e metade do ano de 1968 em Brasília-DF.
Em Brasília, comecei a
encarar a solidão das mais diferentes formas que encontrava para aplacá-la e
uma delas era escrever cartas para os meus familiares, minha mãe Cinira Gomes e
meus irmãos, Ana Maria, Regina Lúcia, Vicente Rafael e Ricardo. Aí começou o
meu contato com a escrita de uma forma totalmente emocional, sem a mínima noção
de alguma técnica para a narrativa.
Retornando do exército em
junho de 1968, fui convidado pelo meu ex-professor de linotipo, José Leitão,
para assumir a vaga de linotipista na então Escola Técnica Federal de Campos. A
partir desse momento começam as mudanças comportamentais e experimentais de
vida que vão determinar os caminhos a trilhar e a poesia passa a ser a
companheira constante para a expressão cotidiana.
A partir de 1973 começo a
publicar na sequência Um Instante no Meu Cérebro, Mutações Em Pré Juízo(1975) e
Além da Mesa Posta(1977). Até então não havia mergulhado ainda em nenhum estudo
sobre técnicas, linguagens ou movimentos
poéticos, escrevia intuitivamente, na tentativa de expressar o
sentimento presente, era a forma que
tinha encontrado para dialogar com as pessoas.
Em 1974 começa a minha
trajetória na música, nasce a parceira com Paulo Ciranda e uma de nossas
primeira canções Caminho de Paz, é premiada com o 1º lugar no IV Festival de
Música de São Fidélis, cidade natal do Ciranda. Parceria que neste ano de 2024
chega aos 50 anos.
Em 1974 com direção de
Antônio Roberto de Góis Cavalcanti, apresentamos no Teatro de Bolso em Campos,
o musical Gotas de Suor, composto por textos e canções autorais. É a minha
primeira experiência no palco.
Tinha começado a experimentar
nesse período, revolta e indignação, por
passar a entender as questões políticas-sociais, e sistema ditatorial governava
o país a ferro e fogo, a partir do dia 31 de março de 1964.
Em 1975 começa minha experiência com teatro, através da adaptação feita por Deneval Siqueira Filho, textos e poemas dos livros Mutações em Pré-Juízo e do ainda não lançado Além da Mesa Posta é criada a primeira versão da peça Judas – O Resto da Cruz. Em 1975 mesmo ela ganha uma outra versão ampliada com textos escritos especialmente para a encenação, que é realizada no Teatro do SESC em Campos, tendo no elenco uma turma de alunos da ETFC, e dessa montagem nasce a Oficina de Teatro da ETFC, que dirigi até 2002 quando me aposentei.
Em 1976 começo uma trajetória
no palco com o monólogo de minha autoria: 20 Anos de Sonho e Sangue, inspirado
na música Apalo Seco, de Belchior. Na sua primeira edição tenho a companhia no
palco de José Jorge Santiago, na época estudante da ETFC e já com uma vivência permanente
na cena teatral de Campos e hoje doutro
em Antropologia, e professor na Universidade de Lion na França.
Começo também em 1976 as minhas experiências como ator em montagens
como Fando e Lis, de Fernando Arrabal, com direção de Orávio de Campos Soares
encenada no Teatro do SESC Campos e em 1977 O Auto de Elevação da Vila de São
Salvador, texto e direção de Winston Churchil Rangel, encenado no Ginásio de
Esportes da ETFC.
Em 1979 começa a
publicação da minha poesia de cunho
social com o lançamento do poema de
cordel: Jesus Cristo Cortador de Cana e em 1980 O Auto do Boi-Pintadinho, e
começa a minha incursão com a cultura popular e o teatro de rua. O
Boi-Pintadinho encenado com alunos da Oficina de Teatro da ETFC, agita as ruas
de Campos até 1987, quando para comemorar a eleição de Luciano D´Angelo para a
direção da ETFC transformo o Boi-Pintadinho em A Ciranda do Boi Cósmico,
incluindo na confecção do Boi, elementos eletrônicos criado por Marcos
Guimarães Maciel e elementos pictográficos no cenário criados por Genilson
Soares, na encenação que fizemos no Ginásio de Esportes da ETFC, que foram
apelidados de “caralhos voadores”.
XIII
Desde o meado dos anos 70 o
mergulho nas leituras de poesia e teatro já tinham se tornado exercícios
constantes, mas a música continuava a ser a minha maior fonte de ins-piração,
músicos cantores/compositores como Bob Dylan, Jimmi Hendrix, Caetano Veloso,
Chico Buarque, Gilberto Gil já haviam se tornado minhas referências e cantoras
também como Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina eram presenças constante
nas agulhas dos meus toca-discos de vinil e nos canais de youtube.
Em 1983 crio o projeto Mostra
Visual de Poesia Brasileira, e com ele começo a ter contato com a maior parte
dos poetas brasileiros contemporâneos e a espalhar poesia em Exposições e com a
a publicação dos Cadernos da MVPB, que imprimia na Tipografia da ETFC.
Com a MVPB começo a ter contatos com poetas que considero essenciais
para a minha trajetória, Olga Savary, Leila Miccolis, Tanussi Cardoso, Aricy
Curvelo, Dalila Teles Veras, Hugo Pontes, Paulo Bruskc, Moacyr Cirne, Carlos
Lima, Alcides Buss, Helio Letes, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Torquato Neto e
Joaquim Branco, Avelino Araujo, Almandrade, Philadelpho Meneses, Augusto e
Haroldo de Campos.
A partir desses contatos, com
poetas e do material poético que expunha e editava, as minhas técnicas e
linguagens vão ganhando outros contornos abrindo-se para outros focos
temáticos.
As duas primeiras
edições/exposições da MVPB foram realizadas em Campos, 1983 e 1984 no Palácio
da Cultura.
A terceira em 1985 foi
realizada em Macaé com o apoio do Jornal O Fluminenses através do poeta e
jornalista Martinho Santafé, apoio também que tive para a quarta edição
realizada no Centro Cultural da UFF em Niterói-RJ e contando com as parcerias
de Joaquim Brando e Moacyr Cirne que atuaram comigo na montagem da exposição da
seção de poemas visuais
De 1983 a 1987 eu ficava entre Campos e o Rio de Janeiro, onde tive a oportunidade de ter uma
convivência e atuação em projetos com poetas e críticos cariocas, como Moacyr
Felix, Douglas Carrara, Luis Sérgio Azevedo Santos, Geraldo Carneiro, Salgado
Maranhão, Kátia Bento, Gerardo Melo Mourão, Carlos Lima, Cairo Trindade,
Samaral e Paco Cac.
ENGENHO
minha terra
é
de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho à luta
mesmo sabendo – o vão
- estreito em cada porta
Carne Proibida
o preço atual
proíbes que me comas
mas pra ti
estou de graça
pra ti
não tenho preço
sou eu quem me ofereço
a ti
músculo & osso
leva-me à boca
e completa o teu almoço
*
Em 1984 poemas meus foram publicados na Antologia Carne Viva, organizada por Olga Savary, considerada a primeira
Antologia de poesia erótica publicada no Brasil, com a presença de poetas como
Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant´Anna.
Em 1985 depois de um longo
estudo sobre a poesia de Paulo Leminski e Torquato Neto, lanço Suor & Cio,
com uma poesia totalmente mergulhada em questões sociais:
o corte da cana nos canaviais
de Campos dos Goytacazes e as relações patrão/empregado nas usinas de açúcar e
em contra/partida um foco também nas questões que envolvem os relacionamentos amorosos
entre seres humanos e animais.
Em 1987 lanço Couro Cru &
Carne Viva com focos também em questões
sociais e amorosas, só que agora o social é um foco nas questões que
envolvem a história do Brasil.
Com a criação da MVPB os
contatos vãos aos poucos se ampliando, não apenas com poetas, mas também com
pessoas interessadas em arte, poesia, críticos, editores e produtores
culturais. De repente me via dentro de um caldeirão de efervescência cultural
que jamais cheguei imaginar que isso pudesse acontecer comigo, uma pessoa
nascida no interior de Campos, dentro de uma fazenda, a Cacomanga, onde passei
toda a minha infância e boa parte da juventude, só aos 26 anos, em 1974 que
passei a morar na cidade.
Terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tuia ferida
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
Em 1985 lanço o Suor & Cio, com a performance Rock And Roll & Poesia, no Bar Doce Bar, ao lado da banda Avyadores do BraZyl: Luiz Ribeiro, Armandinho Ribeiro, Sérvulo Souto e João Pimentel.
Participo a convite
de Gabriel de La Puente do Encontro de Escritores em Jardinópolis, uma
cidadezinha incrível do interior de São
Paulo próxima a Ribeirão Preto. Nesse encontro passo o a conhecer pessoalmente,
pessoas que já vinha mantendo correspondência desde 1983 tais como: Uilcon Pereira(filósofo e crítico professor
da UNESP, que assina o prefácio do livro Suor & Cio e para muitos
considerado o guru de uma geração), os poetas: Márcio de Almeida, Roberto Piva,
Luis Avelima, Floriano Martins e o estudante
de jornalismo Ricardo Pereira Lima que viria a se tornar um grande
parceiro na execução de alguns projetos e eventos culturais que vieram a seguir,
como a criação da editora Makondo, onde foi editado em 1990 os 20 Poemas Com Gosto de JardiNÓpolis e Uma
Canção Com Sabor de Campos.
Em 1986 na VI edição da MVPB
fizemos uma homenagem a poesia de Manuel Bandeira, com uma exposição do
escultor Jorge Salles com o apoio do
grande amigo de trabalho na ETFC Leonardo Vasconcellos. Nesta edição tivemos o
apoio do Jornal Folha da Manhã e do Departamento Municipal de Cultura de Campos
dos Goytacazes-RJ onde atuei como assessor de 1986 a 1988. Uma das grandes
performances e intervenções poéticas desta edição foram realizadas pelo grupo
Passa Na Praça Que A Poesia Te Abraça, dirigido por Douglas Carrara, com quem
eu já tinha como parceiro em minhas intervenções pelas praças do Rio.
Em 1987 transformo O Auto Do Boi-Pintadinho, na Ciranda do Boi-Cósmico espetáculo encenado com alunos da Oficina de Teatro da ETFC no Ginásio de Esportes, nessa montagem aparecem no palco pela primeira vez, os personagens Federico Du-Boi, que mais tarde o transformo em Federico Baudelaire e Federika Bezerra, que mais tarde se torna a Porta Bandeeira da Mocidade Indepentende de Padre Olivácio - A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo.
Lanço o Couro Cru
& Carne Viva, com prefácio escrito pelo xará Arthur Soffiatti. Realizo com
alunos da Oficina de Teatro da performance Ensaio 87, no repertório, poemas do
livro recém lançado e de Carlos Drummond de Adrade.
sagaraNAgens fulinaímicas
guima meu mestre guima
em mil perdões eu te peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da hygia ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais sagaranas
a morte em vida severina
tal qual antropofagia
teu grande serão vou cumer
nem joão cabral severino
nem virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
o da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do mestre drummundo
que o diabo gira mundo
é o narciso do meu ser
Participo de mais um encontro realizado pensado e organizado pelo intrépido Gabriel de Lapuente, desta vez em Batatais-SP, o seminário: Brasil: Uma Cultura Em Questão. Nele o reencontro pessoal com Uilcon Pereira, Ricardo Pereira Lima, Roberto Piva, Hugo Pontes e com outros poetas que pessoalmente encontrava pela primeira vez como: Cesar Augusto de Carvalho, Paulo Brusck, Dalila Teles Veras, a pesquisadora e professora da UNESP em São José do Rio Preto, Hygia Calmon Ferreira (a musa do poema SagaraNAgens Fulinaímicas - através dela passo a ter um contato mais direto com a obra de João Guimarães Rosa), e o cineasta Guilherme de Almeida Prado. Pela dimensão da proposta do evento e a quantidade de participantes oriundos de várias regiões do país, esse encontro gerou uma série de controvérsias.
Em parceria com Genilson
Soares, Nilson Siqueira, Mário Sérgio Cardoso e Oscar Wagner, criamos o Studio
52 que funcionou por alguns anos nos altos da Adega 52, na Praça de São
Salvador em Campos dos Goytacazes.
Em 1988 a convite de Hygia
Calmon Ferreira, fui a UNESP em São José do Rio Preto fazer uma performance com
os poemas do livro A Cor da Pele, do poeta mineiro Adão Ventura e um palestra
sobre o teatro de Oswald de Andrade. O evento tinha como foco temático o Centenário da Abolição.
Com este mesmo foco
realizamos também na ETFC com a participação dos alunos da Oficina de Teatro, a
encenação A Cor Da Pele, e uma roda de conversa, com as participações da
historiadora Lana Lage, do poeta Ele Semog, e do Diretor da Casa de Cultura
José Cândido de Carvalho, Alberto Ferreira Freitas.
Neste ano de 1988 também fiz
uma performance em Belo Horizonte no Teatro Francisco Nunes, na posse de Adão
Ventura na presidência do Sindicato de Escritores de Minas Gerais, neste dia conheci o poeta de Montes Claros Aroldo
Pereira, criador do projeto Psiu Poético.
Em 1989 passo a atuar pela
primeira vez, na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, onde permaneci até
o ano de 1991. Criamos em parceria com
Genilson Soares, o projeto: Faça Farol Nesse Verão.
Crio também em 1989 o Festival de Música da Primavera, com suas
duas primeiras edições realizada na arena do Parque Alberto Sampaio inaugurada
em 1988 com as peças Arena Canta Zumbi, com direção de Kapi.
Coordenei também as duas primeiras edições do
Encontro Nacional de Poesia Em Voz Alta.
Em 1989 também encenei Jesus
Cristo Cortador de Cana, para com a participação de 9 alunas da Escola de
Serviço Social da UFF, além do poema, a encenação teve textos também das
próprias estudantes, criados a partir das suas experiências com as mulheres dos
cortadores de cana e empregados da Usina de Outeiro em Campos dos Goytacazes. O
poema Jesus Cristo Cortador de Cana, foi interpretado por Eugênio Soares, na
época aluno da Oficina de Teatro da ETFC, hoje doutor em História, pesquisador
e professor na Universidade Federal do Espírito Santo.
Em 1990 lanço pela editora
Makondo, o livro 20 Poemas Com Gosto De JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor
De Campos. A performance aconteceu na Casa Amarela, uma casa de arquitetura
centenária, que funcionava com uma espécie de centro cultural, com café bar e
restaurante.
O livro foi impressão na
gráfica de Elias Jabur, músico, advogado e vereador.
A Makondo sob a direção de
Ricardo Pereira Lima editou também Ruidurbanos e Entre/Vistas, de Uilcon
Pereira e Jardinovelíssimas, de Ademar
Cardoso.
Em Campos fiz uma
apresentação no Cantinho do Poeta ao lado do saudoso amigo e músico Eros Lopes
Raphael.
Na cidade de Registro região
do Vale do Ribeira em São Paulo, estive participando do Seminário: Brasil:
Cultura & Resistência, volto a me encontrar com Hygia Calmon Ferreira, que
me apresenta sua turma de alunos de Letras na UNESP e recebo o convite de
Ademir Antônio Bacca, para a primeira edição do Congresso Brasileiro de Poesia,
em Nova Prata-RS.
Em Registro dirigi uma Oficina de Teatro, e nela conheci o poeta e diretor de teatro capixaba Wilson Coelho.
Numa viagem com estudantes da ETFC a Ouro Preto-MG crio a Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo escrevo a o poema para o seu primeiro samba-enredo: Federika Bezerra – A Porta/Bandeira Que BorTou Olivácio Doido. Em Ouro Preto começo o romance com Gisele que se transforma em Gigi Mocidade, a Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.
Em
mil novecentos e vinte e cinco
na noite de orgias satanazes
um raio de trovão incandescente
rachou a Igreja em Goytacazes
um vulto do despacho então desceu
movido por farol de grande luz
tocou na pedra quebrou cruz
a Rainha do Fogo dessa gente
Federika
de ouro azul e prata
na porta da igreja foi parida
criada pelo Padre Olivácio
que logo depois lançou na vida
aos cindo de idade encantada
foi pega masturbando em sacristia
por causa de um sonho com o príncipe
DuBoi da mais sagrada putaria
Expulsa
da cidade foi pra longe
cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis
mas se você pergunta Froid Explica:
- o seu palácio agora é em Petrópolis
Aos
dezenove plena de alegria
conheceu Gigi da Bateria
na porta do Beco de Satã
na festa federal do Bar da Lama
a Deusa dos Lençóis de toda cama
sorrindo para ver como é que fica
dá um corte na história
inverte o drama
e transforma Ouro Preto em Vila Rica
e assim vamos cantar em verso e prosa
a saga dessa Deusa Iansã
que em busca da mordida na maçã
sonhava encontrar Guimarães Rosa
Viemos
do SerTão para os seus braços
porque a Mocidade Independente
é a mais fina e pura Flor do Lácio
afilhada do secular Padre Miguel
e fiel ao seu pai Padre Olivácio
e para completar a grande roda
trazemos o cacique Pau Brasil
o centenário Oswald de Andrade
filho da paulicéia que pariu!
Passando pelas bandas do Catete
dançando na maior intensidade
macumba com o índio brasileiro
nossa Ex-Cola campeã da liberdade
Federika engravidou o grafiteiro
do famoso cacete Samaral
que escrevia pelos muros da cidade:
Mocidade já ganhou o Carnaval!
e assim vamos cantar na grande roda
tudo o que deu e o que não deu
o dia que um pastor bem collorido
pensou ser pai de santo e se fudeu!
XXI
Volto a UNESP em São José do
Rio Preto, a convite de estudantes de Letras, para dirigir uma Oficina de
Criação Poética, durante a semana de execução desta Oficina, tendo como
referências meus diálogos com Hygia Calmon Ferreira, sobre a obra de Guimarães
Rosa, começo a escrever alguns poemas
que viriam a compor o espetáculo Magma – O Planeta Onde O Poema Dança, que
apresentei em Campinas-SP com produção de Ricardo Pereira Lima, em 1996 ao lado
da bailarina Nirvana Marinho. No repertório deste espetáculo, além dos poemas
de minha autoria, incluí poema dos livros Magma e Ave Palavra, de Guimarães
Rosa.
Estava ainda em São José do Rio Preto quando recebi um convite de Dalila Teles Veras, para realizar uma performance nas comemorações do primeiro aniversário da Livraria e Espaço Cultural Alpharrabio, em Santo André-SP. A performance aconteceu numa noite de sexta-feira e no sábado fui acompanhado por um grupo, formado por Dalila Teles Veras, Jurema Barreto, Antônio Possidônio Sampaio e J Marinho e Wilma Lima, fui apresentado aos espaços históricos de Santo de André, e nesta caminhada nasceu a ideia para a 10ª Mostra Visual De Poesia Brasileira, assunto para o próximo tópico.
*
XXI
Em
1993 depois de um longa correspondência por cartas, com Dalila Teles Veras, crio
o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade 100 Anos,
executado pelo SESC-SP na unidade de São Caetano.
Para
criar o repertório do evento, levei 6 meses em São Paulo, pesquisando vida e
obra de Mário de Andrade com o objetivo de encontrar o tropicalirismo em sua
poesia.
A
programação além da unidade do SESC São Caetano, teve atividades no Alpharrabio em Santo André,
na UBE-São Paulo, no Bar Porto das Garrafas em Santo André e no Colégio
Objetivo.
Além
da exposição criada pelo artista gráfico José César Castro, fizemos uma performance
com poemas do livro Paulicea Desvairada, tendo como companheira de palco, a
atriz andreense Mônica Cardela.
Participaram
também das múltiplas atividades do evento Dalila Teles Veras e poetas do grupo
Livre Espaço de Poesia, Jurema Barreto, J Marinho, Rosana Crispim e Claudio
Feldman, o músico Carlos Careqa, o poeta piauiense Rubervam Du Nascimento, o músico
e crítico literário Zé Miguel Wisnik, os professores Alexandre Takara e Wagner
Calmon Ferreira
Foram 15 dias de efervescência poética em São Caetano, Santo André e São Paulo e a partir daí toda a minha concepção de poéticas e linguagens começou mais uma metamorfose provocando busca por outras formas para expressar os meus desejos e mergulhar na leitura de outros poetas modernistas essenciais para o nosso conhecimento.
No final de 1993 recebo através de Dalila Teles Veras a notícia que a Mostra Visual de Poesia Brasileira – Mário de Andrade 100 Anos, recebeu o prêmio de Evento do Ano, pela Associação de Profissionais de Críticos de Arte de São Paulo (APCA).
XXIII
Início de 1994 Rubervam Du Nascimento, começa a me instigar que precisávamos levar a MVPB para Teresina, e acabou me convencendo. Percebi que era o momento em um mergulho na -poesia de Torquato Neto e Mário Faustino e assim foi feito, nesses dois livros fundamentais para compreender com mais profundidade a poesia desses dois magníficos representantes da poesia brasileira contemporânea. Torquato eu já vinha lendo desde 1983 e Mário Faustino foi um presente que ganhei em Santo André da minha querida e saudosa amiga Wilma Lima
De São partimos para Teresina
na companhia de Dalila Teles Veras e do músico Carlos Careqa. Lá além do
próprio Rubervam, encontramos o poeta visual do Rio Grande do Norte, J Medeiros
e o professor e crítico de arte Jommard Muniz de Brito.
Uma semana de encontros,
rodas de conversa e intervenções poéticas, no Teatro da Cidade, no Mercado
Municipal, nas praças e na Universiade Federal do Piauí.
Um dos momentos mais hilários
da MVPB em Teresina, foi a visita que fizemos ao túmulo do Torquato Neto, com o
discurso emocionado do poeta J Medeiros.
*
quando nasci meu
pai me deu caju minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manhã vã
filosofia lembra daquele dia dezembro mil novecentos e noventa e quatro? j
medeiros deu um show trepado no túmulo do torquato saímos do cemitério pro mercado para lamber a
cajuína era uma tarde de sol em teresina –
EuGênio Mallarmè
https://www.instagram.com/p/Cz6hwyRtnSW/?igsh=MWFuejZlOXhpY24xcg==
*
Me encontrava hospedado na casa da minha
amiga Vilma Lima, e recebi uma ligação de Danilo Miranda, (campista), gerente
regional do SESC-SP, me parabenizando pela MVPB Mário de Andrade 100 Anos e me
desafiando para a criação de um projeto sobre vida e obra de Oswald de Andrade,
porque era o seu preferido. Respondi que o desafio estava aceito.
Já vinha lendo Oswald, pois impossível pesquisar vida e obra de Mário e não se esbarrar no seu parceiro da Semana de Arte de 1922. Já havia assistido também algumas montagens da peça O Rei da Vela. Mas a partir de então mergulhei na leitura da vida e obra antropofágica de Oswald de Andrade.
Em 1994 ainda, depois que li Serafim Ponte
Grande, criei a performance teatral Retalhos Imortais do SerAfim, com o casal
de alunos da Oficina de Teatro do CEFET-Campos, Rey de Souza e Clarice
Terra. Para a montagem, criei 18 personagens ligados a vida e obra de Oswald
mais o poema Cântico dos Cânticos Para Flauta & Violão. A primeira encenação
se deu ainda em 1994 em Campos no Auditório Miguel Ramalho, no CEFET.
continua na próxima postagem
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