terça-feira, 25 de abril de 2023

Múltiplas Poéticas

1º de Maio

 

Aos trabalhadores

do corpo da palavra

todo o meu amor

que o suor o cio

nunca falte em seus ofícios

que a ins-piração

trans-piração

seja sempre maior

que o sacrifício

de sobreviver nesse brasil

de pandemônias

nesse país sobre as mazelas

que nos impõem

a conviver

com todo tipo de paupérias

onde o seu povo

é atirado ao gran circo do terror

até morrer sempre atolado na miséria

 

Artur Gomes 

www.fulinaimagens.blogspot.com 



nem sei o que dizer

sobre essa trança

transa de ouro

sobre a tela

óleo que escorre

em sua pele

na ótica do pintor

em seu estado

de transmutação

fora da terra

nem sei da ins-piração

que move os seus pincéis

nem a  musa  que foi  modelo

ao vivo a vera

mas sei que é linda

a vibração entre dois corpos

que se completam

na amplidão da atmosfera

 

Artur Gomes Fulinaíma


 Serge Marshennikov

Pintor Russo, 1971
"Trança de ouro"
óleo sobre tela



Olenka

para Olga Savary

 

ainda que seja tarde

arde

ainda em mim

tua voz selvagem

magma sumidouro

terra mato ouro

tua carne russa

ensolarada de pará

índia tupiniquim

ameríndia brazilina

ainda pulsa

em cada pulso

dos meus braços

seus traços

eróticos

no carnaval de palavras

que engendrou cada poema

 

Artur Fulinaíma

www.arturkabrunco.blogspot.com 


A flor dos meus delírios

tem cheiro de poesia

relâmpagos de Iansã

incêndio no meio dia

Netuno em polvorosa

me disse em verso e prosa

que ela vem com o frescor da maresia

e eu serei o seu Ogum

anjo da guarda e companhia

hoje mesmo distante

esse preamar me incendeia

ondas espumas explodem na areia

tempestades trovoadas ventania

e nem sei se estando perto

calmaria

Artur Gomes

https://fulinaimagens.blogspot.com/


 1º de Maio

se não me cuidar desmaio

tenho andado muito febril

bem quente

toda vez que me deparo

com a central desse Brasil

1º de maio

nunca foi 1º de Abril

 

Federico Baudelaire

leia mais no blog

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


hoje mais uma vez vou andar descalço com a sola dos pés nas águas da areia Iriri não é onde eu queria mas é o que tenho agora conchas e mariscos me farão companhia sei que encontrarei pedrinhas no meio do caminho como sempre obstáculos a serem ultrapassados vou ao encontro do não sei o que pode ser do nada mas como dizia o mestre Guima Pereira Nonada é o princípio de tudo.

é pra você Artur Gomes e para Uilcon Pereira in Memória.

 

Rúbia Querubim 

https://arturfulinaima.blogspot.com/


translúcida

 

levanta natureza morta

você não é cubism0 de Picasso

nem surrealismo de Salvador Dali

longe os cabelos de aço de Frida

calo

muitas vezes vejo muitas coisas

ao mesmo tempo na fotografia

dou um corte no pensamento

para que o vento me traga

o norte

levanta pássaro sem sorte

o passo em falso

o cadafalso

predestinada sina em sua morte

 

Federika Lispector

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/



Biografia de poeta

 

Concebeu poesia

e nasceu pro céu

engatinhou poesia

caiu por terra

não deu

 

foi pensar poesia

levou outra

e dessa não levantou

 

só lá pras tantas

do dia seguinte

é que renasceu poesia

ele já não tinha mais

pra onde ir

 

e foi só poesia

por não ter mais nada

que soubesse fazer

 

sem água nem pão

tirou leite de pedra

pra fazer poesia

 

e esteve um bom tempo

sumido poesia

 

bem mais tarde

seguro de si

(re)apareceu poesia

 

fez mais poesia

 

caiu no esquecimento

e pereceu

 

mas em algum canto

de uma estante poeira

ele permanece poesia.

 

Saulo de Oliveira

para Antônio Roberto de Góis Cavalcanti – Kapi

foto: Cesar Ferreira 

www.fulinaimagens.blogspot.com 

sábado, 22 de abril de 2023

tempo

tempo

 

ver Deus olhando nuvens

do pôr do sol da praia

sopro do vento nordeste

virando terral

virando o mar

virando outro cheiro

virando o tempo

mas tempo é tempo

é nada mais

é só tempo

tempo da morte

tempo da vida

crediário duma

prestação doutra

território do ponteiro

demarcado por mijo monótono

comum lugar do tic

perseguido por tac

e amanhã tem que acordar cedo

pra trabaiá

 

Aluysio Abreu Barbosa

atafona, 08/12/95


sábado, 15 de abril de 2023

Pessoal e Instransferível

 

Pessoal intransferível, Torquato Neto.

“Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela. Nada nos bolsos e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso.

Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes. E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, herdeiro da poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi.

Adeusão (14/09/ 1971 – 3a feira).”

Tudo do Torquato Neto, achado em Os últimos dias de Paupéria ou em Torquatália.


 Pátria A(r)mada


só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o seu destino

só me queira enfeitiçado
velo macio felino
em pelo nu depravado
em sua cama sol à pino

e só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os seus meninos

só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino

Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva – 1987

www.suorecio.blogspot.com


 

com os dentes cravados na memória

1975. durante a primeira temporada da peça Judas o Resto da Cruz no Teatro de Bolso, com direção de Deneval Azevedo, sonhei com João Vicente Alvarenga, que me cercou na saída do Teatro, para me perguntar de onde eu sabia tanta coisa. Respondi que não sabia de nada, quem sabe é o meu espião Federico Baudelaire DuBoi, desde que ganhou uma cabeça criada por Marquinho Maciel, com sucata de engrenagens de um laboratório de eletrônica na Escola Técnica Federal de Campos, onde até hoje atormenta a vida de alguns campistas, e desde então mora em Paris levando notícias daqui e trazendo notícias de lá. E recitei pra ele um poema do Fernando Pessoa, um dos mestres que me ensinou o dom da mediunidade.

Psicografia

O poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente

Os que lêem o que escreve
na dor lida sentem bel
não as duas que ele teve
mas só as que ele não tem

Assim nas calhas de roda
gira a entreter a razão
esse comboio de cordas
que se chama coração

no que fui imediatamente aplaudido pela professora Hilda Mussa, que acabara de assistir a última sessão na Escola Jesus Cristo.

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com


 Pornofônico confesso


se este poema inocente
primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante
entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue
se misturar o meu sangue
em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo
em total porno grafia
na sagração da mulher

me diga deusa da orgia
se também tu não me quer
quando em ti lateja devora
palavra por palavra
por dentro e fora
em pornofonia sonora

me diga lady senhora
nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelos ânus

me diga bia de dora
num plano lítero/estético
qual cibernético ou humano
que te masturba ou te deflora?

Artur Gomes 

www.fulinaimagens.blogspot.com


quinta-feira, 13 de abril de 2023

Múltiplas Poéticas

 


Jura Secreta 52

injúria secreta

 

Suassuna no teu corpo

couro de cor Compadecida

Ariano sábio e louco

inaugura em mim a vida

 

Pedra do Reino no riacho

gumes de atalhos na pedreira

menina dos brincos de pérola

pétala na mola do moinho

palavra acesa na fogueira

 

pós os ismos tudo e pós

na pele ou nas aranhas

na carne ou nos lençóis

no palco ou no cinema

a palavra que procuro

é clara quando não é gema

 

até furar os meus olhos

com alguma cascata de luz

devassa em mim quando transcende

lamparina que acende

e transforma em mel

o que antes era pus

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

https://secretasjuras.blogspot.com/

 

foto: Bruna Barreto

https://www.instagram.com/artesdepersona/


no tempo que eu era vivo
o país também era
agora que já morri
brasil também já era

Bracutaia Silva


dentro
de mym mesma
mora um anjo
negro
que lambuza
de batom
vermelho
a minha boca
no espelho

Marisa Vieira

in Balbúrdia Poética


 macerar a vida nas mãos


muito além da superfície
entrar com gosto, com todos os sentidos
nos labirintos das so(m)bras
amar muito além da pele
e das palavras da boca
amar os olhos e os seus desvios
amar o grito - jorro de vazios
amar os ossos, as vísceras, os rios
amar em mim e no outro o que fede
onde sangra
o que se esconde amedrontado
atrás das pernas fechadas do ego
amar cirurgicamente
cavando, curando, mexendo
que a vida, me parece
não é para os fracos de estômago

Clara Baccarin
do livro Vísceras


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