Pessoal
intransferível, Torquato Neto.
“Escute, meu chapa: um poeta não se faz com
versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e
estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem
e explodir com ela. Nada nos bolsos e nas mãos. Sabendo: perigoso, divino,
maravilhoso.
Poetar é simples, como dois e dois são quatro sei
que a vida vale a pena etc. Difícil é não correr com os versos debaixo do
braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não
é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está
sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes.
E sair por aí, ainda por cima sorridente mestre de cerimônias, herdeiro da
poesia dos que levaram a coisa até o fim e continuam levando, graças a Deus.
E fique sabendo: quem não se arrisca não pode
berrar. Citação: leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora
do perigo é o homem, nem que seja o boi.
Adeusão (14/09/ 1971 – 3a feira).”
Tudo do Torquato Neto, achado em Os últimos dias
de Paupéria ou em Torquatália.
só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o seu destino
só me queira enfeitiçado
velo macio felino
em pelo nu depravado
em sua cama sol à pino
e só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os seus meninos
só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino
Artur Gomes
In Couro Cru & Carne Viva – 1987
com os dentes
cravados na memória
1975. durante a primeira temporada da peça Judas o
Resto da Cruz no Teatro de Bolso, com direção de Deneval Azevedo, sonhei com
João Vicente Alvarenga, que me cercou na saída do Teatro, para me perguntar de
onde eu sabia tanta coisa. Respondi que não sabia de nada, quem sabe é o meu
espião Federico Baudelaire DuBoi, desde que ganhou uma cabeça criada por
Marquinho Maciel, com sucata de engrenagens de um laboratório de eletrônica na
Escola Técnica Federal de Campos, onde até hoje atormenta a vida de alguns campistas,
e desde então mora em Paris levando notícias daqui e trazendo notícias de lá. E
recitei pra ele um poema do Fernando Pessoa, um dos mestres que me ensinou o dom
da mediunidade.
Psicografia
O poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente
Os que lêem o que escreve
na dor lida sentem bel
não as duas que ele teve
mas só as que ele não tem
Assim nas calhas de roda
gira a entreter a razão
esse comboio de cordas
que se chama coração
no que fui imediatamente aplaudido pela professora
Hilda Mussa, que acabara de assistir a última sessão na Escola Jesus Cristo.
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
se este poema inocente
primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante
entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue
se misturar o meu sangue
em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo
em total porno grafia
na sagração da mulher
me diga deusa da orgia
se também tu não me quer
quando em ti lateja devora
palavra por palavra
por dentro e fora
em pornofonia sonora
me diga lady senhora
nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelos ânus
me diga bia de dora
num plano lítero/estético
qual cibernético ou humano
que te masturba ou te deflora?
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
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