quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Mostra Visual De Poesia Brasileira




Geleia Geral – Revirando A Tropicália

Quarta Edição

30 – setembro 19h – Santa Paciência – Casa Criativa – Rua Barão de Miracema, 81 – Campos ex-dos Goytacazes-RJ

 

Programação: leia no  blog  

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/



Jura secreta 1


a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica

tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero

a pele em flor a flor da pele
a palavra dandi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua

fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem

Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018
 





BARDO ETÉREO
para Carvalho Junior,
in memorian

Teu canto nômade
aos deuses e ao silêncio
nunca cessará, antes brotará
das águas mutáveis de Heráclito.
Teu canto afinado nutre
a terra, ouriça os pássaros,
entoa a sinfonia das palavras
e a magia das estações.
Tu renasces a cada manhã,
ó homem-tijubina! Teu olhar
alcança o horizonte e o infinito,
pois teu espírito é livre e, somente
a ele, cabe o enlevo ao Sol que
se despede no crepúsculo
e irrompe a cada amanhecer.
Eclode de ti, ó bardo irrequieto,
a ânsia e a transmutação ao rio
que tu tanto exaltas! Teu diálogo
com o Itapecuru é o murmúrio
calmo em meio ao silêncio
e a serenidade das vozes.
Nas folhas, o orvalho,
nas árvores, tijubinas
te observam e traduzem
o teu riso e a tua récita
em cada palavra proferida.
A noite te abraça, te embala,
te dormita, te faz sonhar,
para que, no próximo amanhecer,
tu virás abraçar os que te amam.

Dudu Galisa



"Araruta"

somos feitos
das mesmas fomes
dos nossos pais,
das mesmas lenhas
que os guardaram
do frio súbito das noites
caseadeiras de exílios.
de vez em quando,
ouço de longe
a voz da lágrima
do meu pai
e de minha mãe.
um quintal de ararutas
nasce dentro
do chão cansado
dos meus olhos.

Carvalho Junior



Pífaro

evita
o salto
suicida
de Safo,

não a minha sombra morta
dentro do papiro-capemba,

na manhã grave ferida
de faca e ferrugem,

a flauta do índio
no meio do rio.

:
funda o pífaro de taboca
de um gamela

treze aldeias de sopro
e milagre nos co(r)pos
de flores

Carvalho Junior

que saram os acessos
de flechas
nos meus calcanhares.



Regina Pouchain - poema visual








poética 55

Eva
uva
vinho
quantas eras
quanto inho
em que paraíso
Adão mordeu a maçã
no meio do caminho ?

Artur Gomes
poéticas fulinaímicas



Entre
a rosa
e
o sal
se insinua
uma fogueira
que
trepida
lágrima.
Entre
a rosa
e
o sal
se esconde
uma ternura
que
invade
tudo.
Entre
o sal
e
a rosa
se instaura
um coração
que
sangrando
faz nascer
o deserto.
*
Mell Renault in: "Patuá" - Editora Coralina 



ama-me em cada vestígio

meus cabelos caindo durante o banho
o sangue descendo do meu sexo todo mês

ama-me a mendiga de pizarnik
a boca descamando no frio de agosto

o corpo que perco do meu corpo

o rio
as águas que se vão de mim

ama-me como se mesmo meu choro fosse precioso

como se valesse mais que ouro

a lágrima, o grão de sal retido
à ponta do meu cílio

---

mar becker
em: estudos em torno do caderno dos fins, 2019 



às vezes

o substantivo carece
de mais substantivos

o verbo de verbos
verbos de advérbios

as palavras fazem crescer o mundo
mas a língua não é a realidade
nem a arte se assemelha à natureza

criam outra
realidade que expande a realidade
(às vezes)
no branco da página

Aricy Curvello
do livro 50 poemas escolhidos
Edições Galo Branco
foto: Artur Gomes - 



Saco de Pancada


crivado
de imagens

baleado
por notícias

refém
de fatos
filmes & fotos

cercado
por trás
frente & lados

assim me refaço:
juntando meus cacos
pelo chão
espalhados

Marcelo Mourão
do livro Máquina Mundi
Oficina Editores - 2016 



Amavisse

Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

Hilda Hilst 



Algo sobre céu

Pousam nas xícaras da noite passada
borboletas da Índia, tons de corais.
Sobre a borra de café, aroma salino
e profundo do Índico.

Asas transparentes, projetam azuis
no banco silencioso e frio da parede
como se fosse primavera.

Telas de anjos e outras divindades
(dessas que não lembramos de onde vem)
como se vivas, vertiam lágrimas
intactas pétalas de flores
bordando o tapete da sala
da mais pura igualdade e paz.

Nas borras do café da noite passada
abriu-se cristalino, o destino
nas asas das borboletas da Índia
no cheiro de incenso de mirra.

E todo ser fez-se um pedaço do Divino
pausa no tempo, no acorde menino
por instantes, o brinde do vinho
e tudo em volta fez-se céu
e tudo em volta, céu
profundamente céu.

Tonho França
Do livro Quarto de Azulejos
Editora Penalux - 2014 


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