Ariano Suassuna - oxente!
Noturno
Têm para mim Chamados de outro mundo
as Noites perigosas e queimadas,
quando a Lua aparece mais vermelha
São turvos sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis antigos e fantasmas
que, nesse Mundo vivo e mais ardente
consumam tudo o que desejo Aqui.
Será que mais Alguém vê e escuta?
Sinto o roçar das asas Amarelas
e escuto essas Canções encantatórias
que tento, em vão, de mim desapossar.
Diluídos na velha Luz da lua,
a Quem dirigem seus terríveis cantos?
Pressinto um murmuroso esvoejar:
passaram-me por cima da cabeça
e, como um Halo escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo, como um Fruto ardente,
a ventania me agitando em torno
esse cheiro que sai de teus cabelos.
Que vale a natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por quem meu Sangue pulsa?
Da terra sai um cheiro bom de vida
e nossos pés a Ela estão ligados.
Deixa que teu cabelo, solto ao vento,
abrase fundamente as minhas mão...
Mas, não: a luz Escura inda te envolve,
o vento encrespa as Águas dos dois rios
e continua a ronda, o Som do fogo.
Ó meu amor, por que te ligo à Morte?
A massificação procura baixar a qualidade
artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais
prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.
Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me
chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.
… que é muito difícil você vencer a injustiça
secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos
privilegiados e o país dos despossuídos.
Eu digo sempre que das três virtudes teologais
chamadas, eu sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança. Eu
sou o homem da esperança.
O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom
mesmo é ser um realista esperançoso.
LÁPIDE
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Ariano Suassuna
múltiplas poéticas viagens metafóricas por realidades reinventadas pelo serTão de cada um
segunda-feira, 6 de março de 2023
Ariano Suassuna
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
espiã confessa pedra que voa depois que choveu pedra em São Francisco do Itabapoana no final de 2024, por ficarem sem saber se gelo ou grani...

-
dia internacional da poesia Todo Dia É Dia D Poesia Todo Dia poesia do corpo nasce entre a carne a medula o sangue a nervura da alma e a...
-
“jurei mentiras e sigo sozinho assumo os pecados Os ventos do norte Não movem moinhos E o que me resta É só um gemido Minha vida, meus morto...
-
com os dentes cravados na memória vampiro goytacá canibal tupiniquim * poesia muito prosa viagens metafórica...
Nenhum comentário:
Postar um comentário