domingo, 25 de setembro de 2022

Poesia Em Movimento - Mostra Visual De Poesia Brasileira

 







EntreDentes 3

 

olhei a cara do tempo

ela estava fechada

não me dizia nada

 

pensei as sagaranagens

que o tempo fazia comigo

peguei do tempo o umbigo

cortei na ponta da faca

 

e a tua cara de vaca

sangrei sem nenhum remorso

porque isso o tempo não tem

 

agora o tempo sorri

me mostra os dentes da boca

e a tua cara de louca

é a minha cara também

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

 

clique no link para ver o vídeo – filmado às margens da lagoa de Gargaú – São Francisco de Itabapoana-RJ – produção e edição: Letícia Rocha https://www.youtube.com/watch?v=jW9pxwwaftU



Soneto da Fidelidade

Vinícius de Moraes

 

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

 

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

 

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

 

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

 



Biblioteca


Mar morto

na biblioteca

sobre a estante

suas conchas

ainda é mar?

Por que marulham

em seu corpo surdo

praias desertas

ventos ondas areais?

 

Marise Manoel

Hoje  26 setembro – 2022

no canal do Poetariado

 

Marise Manoel é a autora deste poema, Biblioteca, publicado em sua antologia poética, Mundéus, lançada esse ano.

Para conhecer mais a poeta, assista ao Canal do Poetariado, na próxima 2ª. feira, dia 26, às oito da noite. Seus poemas, seu universo literário e poético, seu jeito de ser serão temas de nossa conversa durante o programa. Como leitor de sua obra, Paulo Venturelli, escritor e poeta, participará da conversa ancorada por mim, Cesar Augusto de Carvalho, e Hamilton Faria, companheiro da jornada.

Acho que você gostará de conhecer a poesia de Marise Manoel. Se não a conhece, aproveite. É só clicar no link e se programar. Não se arrependerá.

O Canal do Poetariado é conduzido por mim, Cesar Augusto de Carvalho, e Hamilton Faria.

Clique no link. Acione o sininho. Agende-se e bom programa.

https://youtu.be/YEBtmQpRClw




Camões/Lampião
(Sérgio de Castro Pinto)

 

1.
camões ao habitar-se
no olho cego
sentia-se íntimo,
mais interno
que o habitar-se
no olho aberto.

 

2.
lampião ao habitar-se
nos dois olhos
a eles dividia:
o olho aberto matava
e o outro se arrependia.

 

3.
camões ao habitar-se
no olho cego
polia as palavras
e usava-as absorto
como se apalpasse
e possuísse o próprio corpo.

 

4.
lampião ao habitar-se
no olho cego
chorava os mortos
do seu interno,
mas o olho aberto
era casto
e via no matar
um gesto beato.

 

5.
camões ao habitar-se
no olho aberto
via-se todo ao inverso,
(pelo lado de fora),
mas rápido se devolvia
e fechava o olho aberto
pra ser total a miopia.

 

6.
lampião ao habitar-se
no olho murcho
via o olho aberto
estrábico e rústico
e compreendia
o olho aberto
mais murcho
que o olho cego.

 

7.
camões ao habitar-se
no olho murcho
via o mundo claro
dentro do escuro
e o olho aberto
era inútil
ao habitar-se
no olho murcho.

 

8.
lampião
atrás dos óculos
sentia-se acrescido, somado
e era mais lampião
naqueles óculos de aro.

 

9.
os óculos
lhes eram binóculos
íntimos sobre a miopia
e quando os óculos tirava
lampião se decrescia:
o olho cego somava
e o aberto diminuía.

 

10.
camões molhava a pena
como se no tinteiro
molhasse o olho cego
e tateando, cuidadoso
saía do seu interno.

 

11.
(no tinteiro as palavras
em forma líquida
juntam-se uma a uma
à retina, à pupila.)

 

12.
camões
escrevia com o olho cego
por senti-lo mais seu
que o olho aberto
e por poder o olho cego
infiltrar-se, ir mais dentro
e externar o seu inverso.

 

obs.: poema vencedor do II FestCampos de Poesia Falada - 2000 -  evento de poesia que criei na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, e coordenei até de 199 a 2000 depois de 2018 a 2019.



Dandhara

tanto danda

quanto dhara

por serTão arara rara

em teu cio me empresta

fogo farto como festa

NU - teu corpo na floresta

em pleno sol de Araraquara



 do outro lado da janela

cravo o olho no espelho

dentro dos olhos dela

a moça que vive longe

que dou nome de FlorBela

 

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com


desenho de Felipe Stefani para a capa da 2ª edição do livro Pátria A(r)mada de Artur Gomes - Desconcertos Editora - 2022 


essa coisa de pensar assim

me faz lembrar que ainda moro

nos retalhos imortais do SerAfim

 

                     Rúbia Querubim



essa coisa de pensar desejo

ainda vai me levar

a roubar da tua boca o beijo

 

Artur Gomes Fulinaíma

www.porradalirica.blogspot.com


 

amanheceu

sem que percebesse a roseira vermelha estava podada
as quaresmeiras mortas
até ipês foram cortados
para o ano teremos pouca sombra
não haverá perfume das rosas
-
pouco descanso para os olhos e as almas

não cantarão as cigarras
os pássaros
As noites talvez sejam mais longas
e frias
mas ainda assim
há de chegar o dia
que renasceremos
e das cicatrizes faremos
música e poesia
música e poesia

venceremos
venceremos

há de chegar o dia.

Tonho França


santíssima trindade  

le gumes
para Jiddu Saldanha e Tchello d´Barros

o gume da minha faca
ainda está bem afiado
quando fura sangra
rasga o pano

não é fake nem funk
é punk koreano

Artur Gomes Gumes

do livro inédito
FULINAIMAGEM



Como eu escrevo – Artur Gomes
Entrevista concedida a José Nunes
para o site www.comescrevo.com


https://comoeuescrevo.com/artur-gomes/





dentro
de mym mesma
mora um anjo
negro
que lambuza
de batom
vermelho
a minha boca
no espelho

Marisa Vieira
in Balbúrdia Poética



 

BURACO NEGRO

de tudo
que mais amo no mundo
eu tiro o som

falo o que cala fundo
para que o poema,
buraco negro,
diga o que sou

por mais absurdo
só sobra cinema mudo
daquilo que eu acho bom

Roberto Prado
in AMPLO ESPECTRO (Nossa Cultura, Curitiba, 2019)



minha mãe

meu pai

sempre me dizia

tudo aquilo que amo

e que carrego no peito

                         é poesia

 

Artur Gomes

leia mais no blog

www.fulinaimagens.blogspot.com






Rafael Nolli

Poema para a minha avó Maria e minha mãe,  Maria Tereza!

clique no link para ver o vídeo

https://youtu.be/Dkxq-psTkPo



Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com 

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