EntreDentes
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olhei a cara do tempo
ela estava fechada
não me dizia nada
pensei as sagaranagens
que o tempo fazia comigo
peguei do tempo o umbigo
cortei na ponta da faca
e a tua cara de vaca
sangrei sem nenhum remorso
porque isso o tempo não tem
agora o tempo sorri
me mostra os dentes da boca
e a tua cara de louca
é a minha cara também
Artur
Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
clique no link para ver o vídeo – filmado às margens da
lagoa de Gargaú – São Francisco de Itabapoana-RJ – produção e edição: Letícia
Rocha https://www.youtube.com/watch?v=jW9pxwwaftU
Soneto da Fidelidade
Vinícius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e
tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem
vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é
chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Biblioteca
Mar morto
na biblioteca
sobre a estante
suas conchas
ainda é mar?
Por que marulham
em seu corpo surdo
praias desertas
ventos ondas areais?
Marise Manoel
Hoje 26 setembro – 2022
no canal do Poetariado
Marise Manoel é a autora deste poema,
Biblioteca, publicado em sua antologia poética, Mundéus, lançada esse ano.
Para conhecer mais a poeta, assista ao Canal do Poetariado, na
próxima 2ª. feira, dia 26, às oito da noite. Seus poemas, seu universo
literário e poético, seu jeito de ser serão temas de nossa conversa durante o
programa. Como leitor de sua obra, Paulo
Venturelli, escritor e poeta, participará da conversa ancorada por mim,
Cesar Augusto de Carvalho, e Hamilton Faria, companheiro da jornada.
Acho que você gostará de conhecer a poesia de Marise Manoel. Se não a conhece,
aproveite. É só clicar no link e se programar. Não se arrependerá.
O Canal do Poetariado é conduzido por mim, Cesar Augusto de
Carvalho, e Hamilton Faria.
Clique no link. Acione o sininho. Agende-se e bom programa.
Camões/Lampião
(Sérgio de Castro Pinto)
1.
camões ao habitar-se
no olho cego
sentia-se íntimo,
mais interno
que o habitar-se
no olho aberto.
2.
lampião ao habitar-se
nos dois olhos
a eles dividia:
o olho aberto matava
e o outro se arrependia.
3.
camões ao habitar-se
no olho cego
polia as palavras
e usava-as absorto
como se apalpasse
e possuísse o próprio corpo.
4.
lampião ao habitar-se
no olho cego
chorava os mortos
do seu interno,
mas o olho aberto
era casto
e via no matar
um gesto beato.
5.
camões ao habitar-se
no olho aberto
via-se todo ao inverso,
(pelo lado de fora),
mas rápido se devolvia
e fechava o olho aberto
pra ser total a miopia.
6.
lampião ao habitar-se
no olho murcho
via o olho aberto
estrábico e rústico
e compreendia
o olho aberto
mais murcho
que o olho cego.
7.
camões ao habitar-se
no olho murcho
via o mundo claro
dentro do escuro
e o olho aberto
era inútil
ao habitar-se
no olho murcho.
8.
lampião
atrás dos óculos
sentia-se acrescido, somado
e era mais lampião
naqueles óculos de aro.
9.
os óculos
lhes eram binóculos
íntimos sobre a miopia
e quando os óculos tirava
lampião se decrescia:
o olho cego somava
e o aberto diminuía.
10.
camões molhava a pena
como se no tinteiro
molhasse o olho cego
e tateando, cuidadoso
saía do seu interno.
11.
(no tinteiro as palavras
em forma líquida
juntam-se uma a uma
à retina, à pupila.)
12.
camões
escrevia com o olho cego
por senti-lo mais seu
que o olho aberto
e por poder o olho cego
infiltrar-se, ir mais dentro
e externar o seu inverso.
obs.: poema vencedor do II FestCampos de Poesia Falada -
2000 - evento de poesia que criei na
Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, e coordenei até de 199 a 2000 depois
de 2018 a 2019.
Dandhara
tanto danda
quanto dhara
por serTão arara rara
em teu cio me empresta
fogo farto como festa
NU - teu corpo na floresta
em pleno sol de Araraquara
cravo o olho no espelho
dentro dos olhos dela
a moça que vive longe
que dou nome de FlorBela
Artur
Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
essa coisa de pensar assim
me faz lembrar que ainda moro
nos retalhos imortais do SerAfim
Rúbia Querubim
essa coisa de pensar desejo
ainda vai me levar
a roubar da tua boca o beijo
Artur
Gomes Fulinaíma
www.porradalirica.blogspot.com
amanheceu
sem que percebesse a roseira vermelha estava
podada
as quaresmeiras mortas
até ipês foram cortados
para o ano teremos pouca sombra
não haverá perfume das rosas
-
pouco descanso para os olhos e as almas
não cantarão as cigarras
os pássaros
As noites talvez sejam mais longas
e frias
mas ainda assim
há de chegar o dia
que renasceremos
e das cicatrizes faremos
música e poesia
música e poesia
venceremos
venceremos
há de chegar o dia.
Tonho França
le gumes
para Jiddu Saldanha e Tchello d´Barros
o gume da minha faca
ainda está bem afiado
quando fura sangra
rasga o pano
não é fake nem funk
é punk koreano
Artur Gomes Gumes
do livro inédito
FULINAIMAGEM
Como eu escrevo – Artur Gomes
Entrevista concedida a José Nunes
para o site www.comescrevo.com
https://comoeuescrevo.com/artur-gomes/
dentro
de mym mesma
mora um anjo
negro
que lambuza
de batom
vermelho
a minha boca
no espelho
Marisa Vieira
in Balbúrdia Poética
BURACO NEGRO
de tudo
que mais amo no mundo
eu tiro o som
falo o que cala fundo
para que o poema,
buraco negro,
diga o que sou
por mais absurdo
só sobra cinema mudo
daquilo que eu acho bom
Roberto Prado
in AMPLO ESPECTRO (Nossa Cultura, Curitiba, 2019)
minha mãe
meu pai
sempre me dizia
tudo aquilo que amo
e que carrego no peito
é poesia
Artur Gomes
leia mais no blog
www.fulinaimagens.blogspot.com
Rafael
Nolli
Poema para a minha avó Maria e minha mãe, Maria Tereza!
clique no link para ver o vídeo
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