alta tensão
quando
penso
o
poema fica tenso
fio
suspenso no Ar
quado
teso
o
poema fica preso
peixe
surpreso no mar
no mangue
a fauna
sangra
a flora implora
qualquer palavra eu invento
na carnadura dos ossos
na escriDura do éter
na concretude do vento
na engrenagem da sílaba
vocabulário onde posso
dar nome próprio ao veneno
que tem o Agro Negócio
SagaraNAgens Fulinaímicas
guima meu mestre guima
em mil perdões eu vos
peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da hygia ferreira bem
casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é
madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais sagaranas
a morte em vidas
severinas
tal qual antropofagia
teu grande serTão vou
cumer
nem joão cabral severino
nem virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do meste drummundo
que o diabo giramundo
é o narciso do meu Ser
Artur Gomes
foto.poesia
www.fulinaimagens.blogspot.com
A flor da Pele
o mar lambeu o sal
das tuas coxas
https://www.facebook.com/cinevideocurtas/videos/501542120025851/?pnref=story
anda pelo ar
uma palavra interrogação
o que será?
o caranguejo
o beijo
objeto do desejo
linguagem movimento
ou será o éter pelo vento
escorrendo em minhas mãos?
onda que não cessa
nuvem cerebral espessa
depois do anoitecer
sob um céu de capricórnio
extensa teia que aranha
nunca cessa de tecer
Federico
Baudelaire
www.federicobaudelaire.blogspot.com
cena verbal 48
para D.
Dormes com a quietude
das laranjas,
com teus reinos
de hormônios e sementes.
Dormes para adoçar
abril, para
chover sobre o outono.
A carne febril
que sonegas ao pássaro
ferido, é teu realejo
secreto – donde
o impossível se esfarinha.
Agora, vem, despe
esse fruto
que doma os insanos;
que viceja os cegos
nas igrejas.
O tempo ausente está morto. Só
nos resta o agora em fatias. E
essa cadela rosnando
atrás do dia
Salgado Maranhão
PERSONAGEM SEM
AUTOR
Um “não pisar a cena” dantesco
(Uma composição apenas.)
Quem quer sair de cena
não enfeita a ribalta,
não faz propaganda
nem improvisa caco.
Quem quer sair de cena
tira máscara e maquiagem,
Some calado, sem figurino,
abandona o palco e vai.
Quem quer sair de cena
não muda o cenário
nem troca a cortina
ou provoca a platéia.
Quem quer sair de cena
abandona o elenco
muda o roteiro
ignora os aplausos
e sai de cena.
Vera Sarres
Santo Guerreiro
a noite arma seu manto
como a geometria de um circo
a brisa esparrama seu canto.
No drama do palhaço profeta
o amor fez morada
no coração do poeta,
Sobre o peito uma flecha acesa
atinge o corpo da criatura
uma fábula de tristeza.
Porém enquanto existir saliva
rasgo as sombras da morte
e cravo as estacas da vida!
Sady Bianchin
do livro Tráficos Utópicos
"Sou um taquígrafo da minha mente. escrevo o
que se passa
nela, não o que me circunda. sou um poeta”. Allen
Ginsberg
da horta
March 01, 2018
gosto do amor que
quando não frenquenta mais
a cama, a mesa, a aorta
a gente não precisa
fechar a porta
e varrer o peito
limpando
mágoas, descasos, ausências
Esses que a gente pode deixar
a fresta sempre aberta
que tem sempre um sopro
de primavera
onde nascem espontaneamente
Clara Baccarin
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te
falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os
poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
Hilda Hilst
Instruções de
bordo
para você, A. C., temerosa, rosa, azul-celeste
Pirataria em pleno ar.
A faca nas costelas da aeromoça.
Flocos despencando pelos cantos dos
lábios e casquinhas que suguei atrás
da porta.
Ser a greta,
o garbo,
a eterna liu-chiang dos postais vermelhos.
Latejar os túneis lua azul celestial azul.
Degolar, atemorizar, apertar
o cinto o senso a mancha
roxa na coxa: calores lunares,
copas de champã, charutos úmidos de
licores chineses nas alturas.
Metálico torpor na barriga
da baleia.
Da cabine o profeta feio,
de bandeja.
Três misses sapatinho fino alto esmalte nau
dos insensatos supervoos
rasantes ao luar
despetaladamente
pelada
pedalar sem cócegas sem súcubos
incomparável poltrona reclinável.
Ana Cristina Cesar,
em “Poética”. São Paulo: Companhia das Letras,
2013.
LAURA
O que fez
- flor inconclusa -
estiolar
inda menina
por sobre o abismo
do amanhã ?
Na memória do teu corpo
tua lida
pontas cruzes cicatrizes,
sei,
selaram tão breve vida.
A selva de cada esquina
dessa cidade cinzenta
deflorou tua inocência
te deixou chagas abertas
dor e pleno desamparo
no sol na chuva no frio,
sinal de trânsito fechado
no rito que não cumpriu
tua infância inexistente,
sei:
o quintal
o sorriso banguela
o pique a amarelinha
o amiguinho da escola
o remédio de vermes
a boneca de cachinhos
a família que era cuidado
a promessa de muito amor
o cobertor
nada disso aconteceu
a rua te negou
tua história desmentiu
a vida interrompeu.
Foste vítima
fotografia
escritura
baú de espantos:
fome doença pobreza
a cabeça, muita tonteira
- os últimos dias,
sem oratório,
sem beira,
ultrapassaram
o ponto a reta o limite
decidiram
curso e pouso
desse teu voo vertigem,
sei.
No chão do asfalto veloz
susto
o anjo te recolheu.
Nana, neném, nana
ao balanço do berço eterno.
Para onde foste,
projeto,
não sei.
Recado:
que te mandar deste mundo,
Laura,
a não ser que não é ninho ?
Álvaro Goulart
Esse louco esforço
de ser sempre novidade
nos afunda pouco a pouco
nas areias da vaidade
Roger Willian
pintura by Magritte
Do filho
malsucedido
há uma tristeza que não sai de mim
mesmo agora
segurando meu filho pela primeira vez
(foram os livros que me estragaram, reconheço)
um dia terei que dizer a essa criatura desagradável
se ela não morrer nos próximos dias
filho, não leia os livros que li
seja feliz
como essa gente que deixa a televisão ligada aos
domingos
e nos dias úteis
engorda o câncer que cresce dentro de si
Rodrigo Novaes de Almeida
EU, PÁSSARO
PRETO
eu,
pássaro preto,
cicatrizo
queimaduras de ferro em brasa,
fecho o corpo de escravo fugido
e
monto guarda
na porta dos quilombos.
Adão Ventura
do livro A Cor da Pele
Alucinações
Interpo(É)ticas
o que é que mora em tua boca Bia?
um deus um anjo ou muitos dentes claros
como os olhos do diabo
e um a estrela como guia?
o que é que arde em tua boca Bia?
azeite sal pimenta e alho
réstias de cebola
um cheiro azedo de cozinha
tua boca é como a minha?
o que é que pulsa em tua boca Bia?
mar de eternas ondas
que covardes não navegam
rios de águas sujas
onde os peixes se apagam
ou um fogo cada vez mais Dante
como este em minha boca
de poeta delirante
nesta noite cada vez mais dia
em que acendo os meus infernos
em tua boca Bia?
ARTUR
GOMES
https://www.facebook.com/cinevideocurtas/videos/419695281543869/?pnref=story
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