Oswald de Andrade Re-Visitado
como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando Oswald pariu A Morta
tinha os dentes
nos teus olhos preso
Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca
Lançamento previsto para o dia
27 de novembro no Sarau Gente de Palavra
São Paulo-SP
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https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/
Mostra
Visual de Poesia Brasileira
Muito em
breve Ocupação Poética no Palácio da Cultura – Campos dos Goytacazes-RJ
OFÍCIO
ESQUISITO
hoje acordei meio Bandeira
com a sombra da Derradeira
cutucando as minhas costas
não é o delírio que me apavora
é o agora!
são os planos, o olhar pra frente
e ao mesmo tempo a memória
a impulsividade por dentro
ainda me controla
são pensamentos se debatendo
por um rápido momento
malditos 15 minutos...
me inflamam!
o que me salva
ou me armadilha em precipício
me mantém cada vez mais vivo:
o embate literário em busca
de um motivo pra tudo isso
eu me alimento dos riscos!
vou rasgar a noite embriagado em palavras
sacudir minha alma inquieta
afogar meus excessos
violentar minha máquina
Marcelo
Perez
cacomanga
vou xingar minha poesia
em teus ouvidos cacomanga
de onde saí, sem de mim
você nunca ter saído
espalhar teus versos,
moídos em carne crua,
pelos saraus cariocas
e pelas pauliceias desvairadas...
nua dos teus canaviais,
vi passarem por ali
na velocidade dos automóveis,
na vertigem dos viadutos,
na beleza fria dos neons,
na tontura inebriante dos vapores...
enfim, em tudo que devorava
tuas planícies lamacentas,
os sonhos antropofágicos
de uma geração.
espargi por todos os cantos
o açúcar que deliu entre os dentes,
o caldo que escorreu entre os ossos,
o prazer que rodopiou no corpo,
feito algazarra de boi pintadinho...
e das agruras de quem sangra
com ternura, cacomanga
50 anos depois de tantas fulinaimagens
50 anos após tantas sagaranagens,
tantos ventos, tantos sóis, tanta nervura,
vejo-te ainda nos aceiros de paralepípedos
sobre os quais construí minha ventura.
Joilson Bessa da Silva
Alphaville, 18 de agosto - 2023
Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
Torquato Neto
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Paulo Leminski
SagaraNAgens Fulinaímicas
guima meu mestre guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da hygia ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais sagaranas
a morte em vidas severinas
tal qual antropofagia
teu grande serTão vou cumer
nem joão cabral severino
nem virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do meste drummundo
que o diabo giramundo
é o narciso do meu Ser
Jura secreta 57
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
jura não secreta 19
quero dizer que ainda arde
tua manhã em minha tarde
a tua noite no meu dia
tudo em nós que já foi feito
com prazer inda faria
quero dizer que ainda é cedo
inda tenho um samba-enredo
e tudo em nós é carnaval
é só vestir a fantasia
quero ser teu mestre-sala
e você porta/bandeira
quando chegar na quarta-feira
a gente inventa outra fulia
Artur Gomes
in Juras Secretas
Editora Penaluz – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
(Para o poeta, Artur Gomes, no dia do
seu aniversário)
MARIA BOCA DE POESIA
Retirem as crianças da rua,
vai passar a Poesia despudorada,
desencarnada, é só osso luminoso e
ofício,
a que não domina sua língua de fogo,
navalha flamejante.
Vai descer a avenida central,
se benzer na catedral,
insana matrona
de filhos mortos
dos dilacerantes abortos
em nome do pai que sumiu.
Freme os quadris
como se fizesse sexo grupal,
ao sol da via pública.
Potra,
pútrida,
puta,
contudo, é Poesia seminal.
Literatura do caos.
Sua risada estrala,
parece taça de vidro
jogada contra o mármore
do altar-mor.
Riso que revela dentes de animal,
dissolvida pastilha de sonrisal,
grossa espuma no canto da boca,
que avisa a hora do vômito,
alerta indômito
da praga rouca:
- aos que roubam nossa saúde,
defuntos no fundo do açude,
que violam a consciência das
crianças,
e as deixam desmaiadas nas carteiras
escolares,
tumulares.
cavaleiros da política
guias da resignada cegueira
da grande malta servil,
desejo-lhes o grande inferno de Dante
e antes que me assassinem,
vão-te à puta que lhes pariu!
Fernando Leite Fernandes
jogo de dadaísta
não sou iluminista/nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
amanhecer nova poética
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca/negra
amar/ela vermelha verde
ou cafusa
eu sou do mato curupira carrapato
eu sou da febre sou dos ossos
sou da lira do delírio
são virgílio é o meu sócio
pernambuco amaralina
vida leve ou sempre/vida severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina
devorar é minha sina
profanar
é o meu negócio
artur gomes
http\://www.youtube.com/watch?v=cy6CTrAgDtA
GOYA TACÁ AMOPI
ao criar todo o universo
deus foi com campos perverso
tal como diz a piada
em terras de massapê
de vista a se perder
semeou povinho de nada
dizem ser deus brasileiro
mas eu digo que é fuleiro
o deus que fez isto aqui
pois quando criou o mundo
não hesitou um segundo
em esta terra punir
é praga de goitacá
é praga de mungunzá
é praga de jesuíta
é tanta desgraça junta
que ninguém mais se pergunta
por que terra tão maldita
e pensar que o paraíba
rasgando a serra em ferida
um dia pariu a planície
enfeitou-a de ingazeiros
e de pássaros trigueiros
e por fim nos deu habite-se
e nos deu tanta riqueza
que engalanada nobreza
pra do povo se servir
não mediu regras e esforços
dizimou a indiada
escravizou a negada
sem pena, dó ou remorso
e em seus campos primeiros
semeou mato brejeiro
transformando em aceiro
este jardim de delícias
cultuado em prosa e verso
por poetas ufanistas
“Ó Paraíba, ó mágica torrente
Soberana dos prados e vergéis
Por onde passas como um rei do oriente
Os teus vassalos vêm beijar-te os
pés”
eta destino perverso
que pra ti deus reservou
pois onde o verde se espraia
chove fuligem nas saias
do santíssimo salvador
pois dele é mais que preciso
proteger-se do inimigo
que em teus brejais hoje grassa
pois tanto que lhe usurparam
tanto que lhe ultrajaram
tanto lhe vilipendiaram
que caístes em desgraça
apesar do ouro negro
és em si nosso degredo
em ti somos expatriados
de ti somos extirpados
nada do que é seu é nosso
trazemos no peito remorso
já não temos amor próprio
mais andamos cabisbaixos
sem saber pronde seguir
goya tacá amopi
o que fizeram de ti
nesta virada de século
foi um estupro perverso
de colo seio e gentio
que em nada lembra o bravio
e ancestral goitacá
goya tacá amopi
mais que nunca precisamos
as tuas rédeas tomar
e recantar com prazer
os versos de azevedo
na música de perissé
e de você nos orgulhar
“Campos Formosa, intrépida amazona
do viridente plaino goitacás
predileta do luar como Verona
terra feita de luz e madrigais”
Antonio Roberto Góis Cavalcanti - Kapi
Porque não só rio
Porque me cortas a cidade
E o peito
Com águas e lembranças,
Deságuas nos meus olhos
Alegrias e detritos,
Alimentas e derrubas
Minhas casas e esperanças
E quando seco
Meninos brincam nas areias de teus quintais
Porque inspiras protestos e poesias
Dais abrigo a beatas e piranhas,
Lavas homens e animais...
Rio
E te atravesso apesar das correntezas
E
Só
Rio
Porque tens lágrimas demais
E meus dentes se misturaram a teu lodo fértil,
Manguezais formaram-se em minha boca,
Guaiamuns fartaram-se de poesia
E as palavras tragaram os catadores de livros
E puãs
Entre a minha
e a tua vida
há o naufrágio de grandes vapores
e a teimosia de pequenos barcos
Rio
Porque me guarda um beijo quente
O oceano
Adriano Moura
Goytacá Boy
musicado e
cantado por Naiman
no CD fulinaíma sax blues poesia - 2002
ando por São Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara
juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara
para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha
mineral da mais profunda
lágrima que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucum de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
metáfora
meta dentro
meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
Artur Gomes
Campos dos Goytacazes-RJ
Artur Gomes
do Livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
leia mais no blog www.centrodeartefulinaima.blogspot.com
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