O ENCONTRO DE ZÉ CELSO COM DIONISO
Quando Zé Celso morreu,
O mundo teve um abalo,
Um anjo do céu desceu,
Veloz igual a um cavalo.
Disse ao grande dramaturgo:
— Vim aqui para buscá-lo.
Zé Celso perguntou logo:
— Vai me levar para onde?
— Para o céu, meu bom velhinho,
Onde o bem é uma fronde,
E a vida eterna uma bênção
Da qual o mal se esconde.
Zé Celso então perguntou:
— Lá posso fazer teatro?
Passar batom, rebolar
E também ficar de quatro?
Fazer minhas oferendas
Ao deus o qual idolatro?
— E quem será esse deus?
Pergunta o anjo vexado.
— Ora, pois, é Dioniso,
Companheiro de tablado,
Senhor do vinho e da ira,
Eternamente adorado.
— Não, senhor — responde o anjo. —
Lá no céu só tem um Deus
E todos comem dobrado
Seguindo os desígnios seus.
Zé Celso declinou logo:
Na certa, não são os meus.
— Vá em paz, meu bom amigo,
Dê lembrança a quem quiser.
Irei errar pelo espaço
Porque esse é meu mister.
Estou livre da matéria,
Não sou homem nem mulher.
O anjo ganhou os céus,
Retornou ao paraíso.
Logo após surgiu um jovem
De deslumbrante sorriso
E disse: — Venha comigo,
O meu nome é Dioniso.
E, pegando a mão do mestre,
Seguiu como segue o Louco
Do Tarô pelos abismos,
Sem medo, raiva ou sufoco;
Galgou abismos e nuvens –
Zé Celso ainda achou pouco.
Foram numa terreirada,
Visitaram muitas gentes,
Transmudaram-se nos ventos,
Movedores das torrentes,
E foram vistos no céu
Como dois astros luzentes.
E, alcançando o monte Olimpo,
Zé Celso foi incensado
Por todas as divindades,
Terminando coroado
Como o Grande Dramaturgo,
Por sua vida e legado.
Mas ele lá não ficou:
Com seu talento incomum,
Transita entre outras esferas,
Passando um tempo no Orum.
Sei que, igual ele na Terra,
Jamais surgirá nenhum.
Marco Haurélio
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