quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Mostra Visual de Poesia Brasileira


Que em 2023 possa florescer

 a sua Arte o seu Amor a sua Paz

e a sua Liberdade em canteiros sem mitos

 

canta cidade canta

que hoje já não tem mais tarde mansa

nem cheiro de lança no ar

e do outro lado da linha

carne seca com farinha

panelas vazias na cozinha

este país onde é que está?

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

50 Anos de Poesia – Memória e Resistência

Fragmento de Canta Cidade Canta

1º lugar no Festival de Poesia, realizado no Teatro de Bolso, em 1978, pelo Departamento Municipal de Cultura de Campos dos Goytacazes-RJ. Dirigido na época pelo jornalista e poeta Amaro Prata Tavares.

 

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/



Savana Grill 

6.

 

De repente fez-se a face

nos novelos desatados (antes

que o sopro do areal

desmanche a escrita).

 

Ninguém traduz a árvore

de teu umbigo: teu solo

afundado de lendas (e da música

que a voz não canta).

 

Um mundo ilegível

te cumprimenta: ante

o script das rapinas.

 

Porém,

não estás só. Marcham

contigo a vastidão dos milênios

e as caravanas que te ouvem

sem resposta.

 

– Todas as coisas te reconvocam.

Nenhum pássaro canta

para si próprio.

 

Salgado Maranhão

Pedra de Encantaria

7Letras - 2021

 



1º de Abril

 

telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão

na rua sob patas
tombavam homens indefesos

esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta


 

cidade voracidade

 

ainda ontem queria te ver

mas não pude – cidade rude

oculta atrás do espelho

do outro lado da calçada

não decifrei teu mapa

muito menos cais da lapa

onde queria mergulhar teu rio

desbravar teu cio para depois dormir

 

Artur Gomes

https://fulinaimargem.blogspot.com/



Aos amigos & cia., um dia, ao menos, de tal amor que alimente uma vida. E feliz ano todo: em que a gente possa respirar mais, rir mais, gozar mais. [Por algum tempo, vai parecer que estou aqui, mas não estarei aqui: férias merecidas. Até a volta.]


banquete
[sil guimarães]


a mesa posta
cerejas lichias
uvas castanhas
ameixas pão

o corpo morto
arvorado-devorado
vísceras-alvíssaras
em vinho & pernil

o estupor nos
fios de ovos
no arroz com
passas & nozes

nas asas fincadas
ao meu redor


[imagem de nick stern conforme banksy]


Excerto do Poema "cabeça-labirinto" (inédito - breve nas melhor casa do ramo/ Editora Lobo Azul), by Ziul Serip.

"...

um fio de p(r)oesia
(i)nú(til) te(n)são
de energia

da minha gula minha (f)agulha
que me enfio goelabaixo
costurando entranhas

até explodir os (es)por(r)os
do meu coração:

agora eu berro
pelo degredo dos segredos
pelos nós pelos (a) pelos de nós

pelos apóstolos de todos
não dar ponto sem nó
que nunca aconte-
céu entre todos
(os) nós

pelo

início
meio
e fim

do que não vivemos
e morremos entre nós

(nós do olmo contra tudo)

contra homoplásticos
contra homofóbicos
contra omoplatas

(cobre-ouro-prata)

ao contrário do côncavo osso
o arco em convexo es
cava (n)o escuro
cadáverminoso
desconexo

que escorre turva
que é cor ruiva
que vibra

brumosa viva
e raivosa uiva

é a cor dar com(o)um
escor pião rosa
ébrio

de (ch)uva e bagas (chei)rosas:

um guerreiro
à beira do riacho
cheiro de salgueiro

a dor da salmoura
nacos de pele escarlate

ardia a
só lida alma
erguendo voo
em buenos aires:

em antagorda antonina antares
em antananarivo antuérpia
em antofagasta antígua
em angola antióquia

onde antanho
estorvalhava a (p)
retidão do esplendor

ardia invadindo as bordas
do abismo – devagar com o andor

cadáver vivo ostra oclusa
no mar da solidão

cor rompendo
a dor nada

em tez
ouro

orando
em matadouros
a c(l)aridade dos dias

entreodiados murm ur
(r)ando sussurros

– entre céu e inferno –

entre o horror do pecador
e a tortura do salvador

onde se sobe de eleva-
dor em velo(z)cidade póstuma

(nem mínima nem máxima)

pois a máxima é: elevar-se
dentro de si para ser

..."

*
by Ziul Serip, in "cabeça-labirinto" (inédito) 


Amar você é
coisa de minutos…

 

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui

 

Paulo Leminski


A carnadura do mal

Disseca-se

o corpo vivo

em praça pública.

 O que se vê:

matéria fétida,

antes oculta.

 Uns observam,

paralisados,

como num transe.

Outros escarram

seu gozo-bílis

verdeamarelo.

 O que fazer

com a carne pútrida

que se fez verbo?

 Edelson Nagues 


O COISA RUIM

me querem manso
cordeiro
imaculado
sangrado
no festim dos canibais

me querem escravo
ordeiro
serviçal
salário apertado no bolso
cego mudo e boçal

me querem rato
acuado
rabo entre as pernas
medroso
um verme, pegajoso

mas eu sou osso
duro de roer
caroço
faca no pescoço
maremoto, tufão, furacão

mas eu sou cão
lato
mordo
arreganho os dentes
incito a revolta dos deuses
toco fogo na cidade

qual nero
devasto o lero lero
entro em campo
desempato
eu sou o que sangra
um poeta nato

Ademir Assunção
do livro Zona Branca (2001) 


NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás
a luz o telefone a sonegação
do leite da carne do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário que esmerila
seu dia de aço e carvão
nas oficinas escuras

— porque o poema, senhores,
está fechado:

“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

 Ferreira Gullar - Antologia Poética


AGOSTO À CONTRAGOSTO

 

O tempo nos tece uma veste

E muito custa esse imposto

Pois lento nos dá outro susto

Gastou-se mais um agosto

 

Posto que vasto é o tempo

E visto que nos é imposto

Viver só um tempo sucinto

Numa sina à contragosto

 

E a soma insana dos anos

Aos poucos sela um desgosto

No raso espaço do espelho

O tempo esculpe seu rosto

 

Tchello d`Barros


o negro do céu

abrilhanta a lua
ai, que frio!

em meus sonhos
o telefone toca
acordo.

a lua no céu
estrelas cintilam
oh, insônia

a lua sumiu
o céu escureceu
nada aconteceu

Cesar Augusto de Carvalho
do livro Curto Circuito
Editora Patuá - 2019
www.editorapatua.com.br


cheguei ao céu

diz o pinheiro

eu sempre quis

mas

o meu lugar

é a raíz

 

Hamilton Faria - Poemas da janela

poesia fulinaimargem

             arte revolução

não gosto de panelinha

mas adoro um caldeirão

 

Federico Baudelaire

www.fulinaimargem.blogspot.com

Afiando a CarNAvalha

cocada agora
só se for de coco
paçoca de amendoim

cigarro só se for de palha
cacique só se for da mata
linguagem só tupiniquim

bala só se for de prata
água só se aguardente
tônica só se for com gim

estado só se for de surto
eleição só se for sem furto
brilho só no camarim

golaço só se for de letra
Ronaldo só se for Werneck
malandro só se mandarim

política só se for decente
partido só sem presidente
governo eu que mando em mim

batismo só se for de pia
Congresso só de Poesia
Reinaldo pode ser Valinho
ainda melhor se for Jardim

Roberta Agora só se for Cainelli Bruna só se for Polleto Tecido pode ser a própria pele Que cobre a nudez do esqueleto

Artur Fulinaíma

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

https://secretasjuras.blogspot.com/ 


Salário

é chegada a véspera

do juízo final

no vento o agouro

da hecatombe

espera e reza

não fuja, não tombe!

a cada um, a parte que cabe

pois riqueza recompensa o espólio

partilha feita

aquém e além de nós

herança e legado

e se não foste convidado ao banquete

nem vinho, nem pão, nem peixe

todo quinto dia útil receberá sua

condenação

 

Carolina Rieger

DE TEMER A MORTE

CARAVANA – grupo editorial - 2022

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