Que em 2023 possa florescer
a sua Arte o seu Amor a sua Paz
e a sua Liberdade em
canteiros sem mitos
canta cidade canta
que hoje já não tem mais
tarde mansa
nem cheiro de lança no ar
e do outro lado da linha
carne seca com farinha
panelas vazias na cozinha
este país onde é que está?
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
50 Anos de Poesia – Memória
e Resistência
Fragmento de Canta Cidade
Canta
1º lugar no Festival de
Poesia, realizado no Teatro de Bolso, em 1978, pelo Departamento Municipal de
Cultura de Campos dos Goytacazes-RJ. Dirigido na época pelo jornalista e poeta
Amaro Prata Tavares.
https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/
Savana Grill
6.
De
repente fez-se a face
nos
novelos desatados (antes
que
o sopro do areal
desmanche
a escrita).
Ninguém
traduz a árvore
de
teu umbigo: teu solo
afundado
de lendas (e da música
que
a voz não canta).
Um
mundo ilegível
te
cumprimenta: ante
o script das rapinas.
Porém,
não
estás só. Marcham
contigo
a vastidão dos milênios
e
as caravanas que te ouvem
sem
resposta.
–
Todas as coisas te reconvocam.
Nenhum
pássaro canta
para
si próprio.
Salgado Maranhão
Pedra
de Encantaria
7Letras - 2021
1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
cidade
voracidade
ainda ontem queria te ver
mas não pude – cidade rude
oculta atrás do espelho
do outro lado da calçada
não decifrei teu mapa
muito menos cais da lapa
onde queria mergulhar teu rio
desbravar teu cio para depois dormir
Artur
Gomes
https://fulinaimargem.blogspot.com/
Aos amigos & cia., um dia, ao
menos, de tal amor que alimente uma vida. E feliz ano todo: em que a gente
possa respirar mais, rir mais, gozar mais. [Por algum tempo, vai parecer que
estou aqui, mas não estarei aqui: férias merecidas. Até a volta.]
Excerto do Poema
"cabeça-labirinto" (inédito - breve nas melhor casa do ramo/ Editora
Lobo Azul), by Ziul Serip.
"...
um fio de p(r)oesia
(i)nú(til) te(n)são
de energia
da minha gula minha (f)agulha
que me enfio goelabaixo
costurando entranhas
até explodir os (es)por(r)os
do meu coração:
agora eu berro
pelo degredo dos segredos
pelos nós pelos (a) pelos de nós
pelos apóstolos de todos
não dar ponto sem nó
que nunca aconte-
céu entre todos
(os) nós
pelo
início
meio
e fim
do que não vivemos
e morremos entre nós
(nós do olmo contra tudo)
contra homoplásticos
contra homofóbicos
contra omoplatas
(cobre-ouro-prata)
ao contrário do côncavo osso
o arco em convexo es
cava (n)o escuro
cadáverminoso
desconexo
que escorre turva
que é cor ruiva
que vibra
brumosa viva
e raivosa uiva
é a cor dar com(o)um
escor pião rosa
ébrio
de (ch)uva e bagas (chei)rosas:
um guerreiro
à beira do riacho
cheiro de salgueiro
a dor da salmoura
nacos de pele escarlate
ardia a
só lida alma
erguendo voo
em buenos aires:
em antagorda antonina antares
em antananarivo antuérpia
em antofagasta antígua
em angola antióquia
onde antanho
estorvalhava a (p)
retidão do esplendor
ardia invadindo as bordas
do abismo – devagar com o andor
cadáver vivo ostra oclusa
no mar da solidão
cor rompendo
a dor nada
em tez
ouro
orando
em matadouros
a c(l)aridade dos dias
entreodiados murm ur
(r)ando sussurros
– entre céu e inferno –
entre o horror do pecador
e a tortura do salvador
onde se sobe de eleva-
dor em velo(z)cidade póstuma
(nem mínima nem máxima)
pois a máxima é: elevar-se
dentro de si para ser
..."
*
by Ziul Serip, in "cabeça-labirinto"
(inédito)
Amar você é
coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
Paulo Leminski
A carnadura do mal
Disseca-se
o
corpo vivo
em
praça pública.
matéria
fétida,
antes
oculta.
paralisados,
como
num transe.
Outros escarram
seu
gozo-bílis
verdeamarelo.
com
a carne pútrida
que
se fez verbo?
O COISA RUIM
me querem manso
cordeiro
imaculado
sangrado
no festim dos canibais
me querem escravo
ordeiro
serviçal
salário apertado no bolso
cego mudo e boçal
me querem rato
acuado
rabo entre as pernas
medroso
um verme, pegajoso
mas eu sou osso
duro de roer
caroço
faca no pescoço
maremoto, tufão, furacão
mas eu sou cão
lato
mordo
arreganho os dentes
incito a revolta dos deuses
toco fogo na cidade
qual nero
devasto o lero lero
entro em campo
desempato
eu sou o que sangra
um poeta nato
Ademir Assunção
do livro Zona Branca (2001)
NÃO HÁ VAGAS
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone a sonegação
do leite da carne do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário que esmerila
seu dia de aço e carvão
nas oficinas escuras
— porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
AGOSTO À CONTRAGOSTO
O tempo nos tece uma veste
E muito custa esse imposto
Pois lento nos dá outro susto
Gastou-se mais um agosto
Posto que vasto é o tempo
E visto que nos é imposto
Viver só um tempo sucinto
Numa sina à contragosto
E a soma insana dos anos
Aos poucos sela um desgosto
No raso espaço do espelho
O tempo esculpe seu rosto
Tchello d`Barros
abrilhanta a lua
ai, que frio!
em meus sonhos
o telefone toca
acordo.
a lua no céu
estrelas cintilam
oh, insônia
a lua sumiu
o céu escureceu
nada aconteceu
Cesar
Augusto de Carvalho
do livro Curto Circuito
Editora Patuá - 2019
www.editorapatua.com.br
cheguei ao céu
diz o pinheiro
eu sempre quis
mas
o meu lugar
é a raíz
Hamilton Faria - Poemas da janela
poesia fulinaimargem
arte
revolução
não gosto de panelinha
mas adoro um caldeirão
Federico
Baudelaire
www.fulinaimargem.blogspot.com
Afiando a CarNAvalha
cocada
agora
só se for de coco
paçoca de amendoim
cigarro só se for de palha
cacique só se for da mata
linguagem só tupiniquim
bala só se for de prata
água só se aguardente
tônica só se for com gim
estado só se for de surto
eleição só se for sem furto
brilho só no camarim
golaço só
se for de letra
Ronaldo só se for Werneck
malandro só se mandarim
política só se for decente
partido só sem presidente
governo eu que mando em mim
batismo só se for de pia
Congresso só de Poesia
Reinaldo pode ser Valinho
ainda melhor se for Jardim
Roberta Agora só se for Cainelli Bruna só se for Polleto Tecido pode ser a própria pele Que cobre a nudez do esqueleto
Artur
Fulinaíma
O Poeta
Enquanto Coisa
Editora
Penalux – 2020
é chegada a véspera
do juízo final
no vento o agouro
da hecatombe
espera e reza
não fuja, não tombe!
a cada um, a parte que cabe
pois riqueza recompensa o
espólio
partilha feita
aquém e além de nós
herança e legado
e se não foste convidado ao
banquete
nem vinho, nem pão, nem
peixe
todo quinto dia útil
receberá sua
condenação
Carolina Rieger
DE TEMER A MORTE
CARAVANA – grupo editorial - 2022
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