quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

             Artur Gomes


vampiro goytacá

canibal tupiniquim


            poesia  prosa

viagens metafóricas por  realidades reinventadas 



almoço quartetos

 ouvindo hermetos

na ausência quântica

       afogado em casa

nessa correnteza

de maresia rasa 

para Eurídice Hespanhol 


queremos saber mais como foi que  os Portugueses trucidaram os índios na confederação dos Tamoios. para isso devo seguir os passos de Anchieta e me embrenhar pelo litoral. seguir as entranhas das florestas é o que me resta. Cristina Bezerra cuidará do virtual.

                                                  Rúbia Querubim


Cidade VeraCidade

as vezes me inquieto e me pergunto: uma cidade só é uma cidade, se de forma total e plena ela se concreta?

se conhecimento é o que liberta e indignação o que desperta, não me espanto, entretanto Nilo Peçanha deve estar se perguntando:

"por onde andará minha biblioteca" ?

                              Federico Baudelaire


 vampiro goytacá

 

nesse país do zeus me livre

da calhordice de deputados e

senadores

que um escrivão  já confessou

nesse congresso em bacanal

quem foi que o livro rasgou? 


em ave-maria voz digo:

bendito meu pão

que o diabo amassou

no livro profano pergunto

:

por onde andará Macunaíma?

e me responde Fulinaíma

:

“ainda estou aqui

aqui ainda estou”

 

pá/lavra

 

 a palavra fala

grita

canta irrita

 encanta

 quando a verdade

 na cara

se levanta 

irina me olhou

com dois olhos grandes

de jabuticaba

 me avisa

:

e se não fosse apenas brisa

na prova dos nove alegria

sorriu

quando lhe convidei a dançar

na roda de poesia 

 

Car Navalha Na Carne

 

quantas navalhas

na carne enterrei

quantas feridas   já sangrei

na pele nos nervos no osso

 do boi só para ti

quantas lágrimas já chorei

quantas  vezes mergulhei n

o fosso fundo do poço

e ainda estou aqui?


ins/piração 

bebo em fontes preciosas e viajo em pétalas/diamante onde a lira muito mais que um sol brilhante cristalino é gema pura que descobri desde menino os olhos verdes quase azul safira multi/cor da oxum/menina que decretou o meu destino minha sina de poeta medieval e   trovador

 

todos nós à meia noite

kabruncos lobisomens

lamparões ou serAfins

estrupícios garrutios

severinos querubins

amantes de uma cidade

nas ruas da solidão

querendo-a veracidade

com tudo que seja não

ser transmutado no sim 

Em Vampiro Goytacá

Canibal Tupiniquim

muito mais que SerAfins

todas nós somos Vampiras

numa página a gente transa

noutra página a gente pira

 

                Rúbia Querubim


lanterna

lamparina

 lampião

 farol da barra

vela lamparão

 cabra da peste

corisco

kabrunco

no olho do furacão


EU 

tenho

muito mais que 25 mil palavras sem perguntas

mais que 25 mil perguntas sem respostas

eu tenho um presente às minhas custas

um futuro à minha frente

um passado às minhas costas


muito mais que um instante no meu cérebro

 mutações em pré-juízo

judas o resto da cruz

jesus cristo cortador de cana

boi-pintadinho

Suor & Cio

Couro Cru & Carne Viva  

SagaraNAgens Fulinaímicas

Juras Secretas

Pátria A(r)mada

O Poeta Enquanto Coisa

O Homem Com A Flor Na Boca

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

e não é cena dela

muito mais que Além da Mesa Posta


escrevo para rasgar tudo de mim

não apenas o que você gosta


minhas hipotemusas

estão completamente libertinas/desvairadas

simplesmente desnudadas

com os Retalhos Imortais

do velho lobo Ponte Grande SerAfim

o Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim


santíssima trindade

brincando de zeus e vênus
plantei uma conchinha do mar no teu umbigo
- mora comigo - o amor nunca é de menos
transcende o sol e sua luz
atravessa o litoral da santa cruz

afrodite me atirou na tempestade
quando subi a pedra do arpoador
para o salto no abismo
a flor de cactos feriu meus olhos
ali sangrei – matei a morte
            a santíssima trindade 

me deu o norte para ainda estar aqui.

Simone Bacelar - Como você imagina que os leitores irão se conectar com o personagem principal de "Vampiro Goytacá"? Há elementos específicos na cultura Goytacá que você acha que serão especialmente ressonantes ou intrigantes para o público?

Artur Gomes – Apesar de ser Goytacá o vampiro é um andarilho que anda os telhados do presídio Federal de Brazilírica, um observador atento do que se passa pelos bastidores dos palácios. Acredito que ele tenha nascido em 2000 em alguma passagem do livro BraziLírica Pereira : A Traição Das Metáforas

Simone Bacelar - Quais são os desafios e as recompensas de escrever um livro que mistura elementos sobrenaturais com uma rica herança cultural como a dos Goytacás? Como você equilibra o respeito pela história e as lendas dessa cultura com a liberdade criativa necessária para desenvolver a narrativa?

Artur Gomes – Os desafios são muitos, e enormes, já  as recompensas não posso prever se virão. Tentei  algumas narrativas  provocativas  deixando a interpretação por conta de cada um.  Não sei como o leitor campista, irá recebê-las ou digerí-las , mas esta nem é a meu ver a grande questão, a questão  é provocar esse choque, sonhar  tirar a cultura Goytacá da sua estagnação espacial e levá-la a outras plagas, erguê-la acima  da planície para que outros ou mais olhos possam lê-la, já que não foi escrita pelos “historiadores oficiais”, graças a deus sim senhor. É poesia e ficção, não existe   compromisso com a “história”, mas com a criação.

Fernando Rossi - Como foi pensado a construção do "Vampiro Goytacá"?

Artur Gomes – Foi sendo criada aos poucos, no correr dos anos, a partir do que cada personagem viveu e escreveu a partir do momento em que foram criados. Eles não nasceram no Vampiro Goytacá, já estavam presentes em livros anteriores. E a ideia de “Vampiro” me surgiu de estalo, num período em 2023 em que fiquei hospedado no Hotel Amazonas, observando aquelas paredes e corredores, aqueles muros, colocando a pele os poros em contato com o cheiro do pátio.  Ah! Quantos mistérios, quantas estórias que não foram contadas, quantos fantasmas e lobisomens ainda habitam aqueles telhados? 

Fernando Rossi - Onde termina a ficção e fica a realidade nessa obra?

Artur Gomes – A ficção começa a partir do fato de que cada personagem tem suas viagens, suas narrativas, suas vivências detalhadas por vários “campos” do planeta terra, não são campistas, e nem em Campos dos Goytacazes moram, são seres andantes, viajantes no tempo e no espaço, mas acredito que não findam aqui  , o livro é uma obra inacabada, e as realidades nele são realidades absurdas e reinventadas.

Dinovaldo Gillioli - Quando venta a poesia na sua cachola de pólvora, que fogo anuncia?

Artur Gomes – O fogo é de Iansã é vento de tempestades, relâmpagos coriscos e trovões, todos os meus personagens femininos tem um pouco dessa ventania da não definição em suas sexualidades, não só os femininos mas alguns masculinos também, acredito que a poética neles nasce daí, do desejo de matar a fome comendo o que estiver ao alcance de suas mãos. 

Dinovaldo Gillioli -  Das palavras que ficam, das que somem, o que mais te provoca lobisomem?

Artur Gomes – Acredito que em cada um de nós poetas, tem um pouco de vampiro um pouco de lobisomem e as palavras que ficam são exatamente aquelas, que no momento exato flui do homem e sua hora e as que somem são exatamente aquelas que tem mesmo que ir embora.

Tanussi Cardoso -  Em sua obra, há uma carga estreita entre sua vida e sua poética. Questões como a linguagem, o ofício do poeta e, igualmente, os grandes desafios cotidianos, incluindo a amorosidade carnal e espiritual, tudo isso, num verdadeiro comprometimento com o mundo que nos cerca. A sua poesia – para quem acompanha sua obra – tem voz própria, única, reconhecida à primeira leitura. De que modo você pensa a coisa ética na produção de um artista?

Artur Gomes – Creio que todas essas questões colocadas acima foram aos poucos me dando a consciência do que é um ser poeta, artista, um ser dedicado a  criação de linguagens e os desafios do cotidiano que nunca foram poucos. Se eu fosse pensar em ética, talvez não escreveria metade do que tenho escrito ao longo desses 52 anos de produção poética. Me preocupa mais a experimentação, o processo criativo para chegar na finalização de uma escrita, seja ela prosa ou verso. Talvez meus personagens nem tenham ética mesmo, pois se tivessem não satisfariam os meus desejos da forma que podem e querem.

Tanussi Cardoso - Você, além de um poeta exponencial, é um grande produtor e agitador cultural, desde o final dos anos 70. Qual a importância dos eventos e movimentos culturais, na produção brasileira atual?

Artur Gomes – A partir da minha entrada para o Teatro em 1975, comecei a perceber a diferença como um público percebe o texto lido, e o texto falado. E aí entendi que a poesia muitas vezes precisa da fala para ser melhor sentida por quem ouve, que vai muito  além do que é entendido por quem lê. E aí entra também a questão da falta de incentivo a leitura, para a maior parte da população do planeta terra. E os Saraus, as Balbúrdias são fundamentais a meu ver  para tentar preencher esses vazios, essas lacunas.

Tanussi Cardoso - Em que momento ou circunstância você se deu conta da poesia possível em você? Ou seja: de onde vem e como nasceu o Artur poeta?

Artur Gomes – Artur Gomes o ser humano, nasceu em uma madrugada do dia 27 de agosto de 1948 na Fazenda Santa Maria de Cacomanga, começou a ter contato com  poesia na tipografia da Escola Técnica  de Campos em 1961 onde estudoo no Ginásio Industrial até o ano de 1964 . E começou a escrever poesia na mesma Tipografia em 1968 da então Escola Técnica Federal de Campos e partir de 1973 começou a publicar.

Mas acredito que o Artur Gomes poeta nasceu pra valer a partir de 1983 quando comecei a ter contato com a poesia dos grandes mestres da poética universal, com a criação do projeto:  Mostra Visual De Poesia Brasileira. E a partir daí veio em 1985  o  livro Suor & Cio, a focar todas as questões que envolvem os  relacionamentos humanos dentro da sociedade onde vivem.

Tanussi Cardoso - Para você a literatura, ou a arte em geral, exige algum papel social de seu criador? Se positivo, qual seria o papel social do artista, principalmente, o do artista brasileiro?

Artur Gomes – Acredito que sim. Porque toda arte e a poesia também é, tem seus princípios e fundamentos. E o homem como me disse certa vez o Padre Olímpio, é um ser social/político/religioso,  e  sendo um artista não pode se eximir dessa condição. Agora no Brasil, essa talvez seja a questão mais complexa para quem tenta viver de sua arte, porque aí começa a surgir por exemplo, os valores dos mercados da arte,  a não aceitação de um grande público consumidor, e isso acaba levando a maioria do artista brasileiro, a seguir por caminhos que menos conflitem a sua arte, seja música, poesia, teatro, artes plásticas, cinema,  com as condições  impostas pelos donos do mercado.

Tanussi Cardoso - Como você vê a poesia brasileira contemporânea?

Artur Gomes – Vejo com uma diversidade nunca antes vista e uma expansão imensa na quantidade de poetas que surgem em todos os cantos e recantos do país, e do planeta, produzindo uma poética de altíssima voltagem. E muitos deles utilizando-se dos recursos tecnológicos que tem em mãos, com  sensibilidade e inteligência.

Eugênia Henriques - Irina, esse ser meio apaixonante... Irina existe mesmo ou é um lindo nome propício a uma rima ?

Artur Gomes – Irina não é assim tão santa como uma bela rima . Irina é ficção de uma paixão platônica pela palavra que lhe dá o nome  como um bom prato que a gente come para saciar  a fome.  Acho que ela deve existir sim no inconsciente  coletivo  personagem que é um ser vivo para muito além das mortes. Certas palavras me vem assim num sopro ao sabor do vento nas minhas viagens metafóricas.

Eugênia Henriques - O Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim é médium? Exótico é o coração do Vampiro Goytacá: ora povoado de musas ora  cravando os dentes em alguma carne insensível. Como pode, no coração dele, coabitar lirismo e atrocidade?

Artur Gomes – Acredito sim, que em todo ser humano cabe um pouquinho de mediunidade, ou uma multiplicidade de Eus, que nos possibilita a metamorfose das personalidades que extravasamos de acordo com o nosso instante no “estado de poesia”. O Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim, no livro não é um. São 12 personas em seus  estados brutos de lirismo ou em seus momentos de amores traídos e não concretizados como tudo o que não fizeram em seus encontros marcados.

Carmen Moreno - O poema “Meu santo dai-me” revela a poesia, e a arte em geral, como um remédio. As diferentes linguagens artísticas, tão bem integradas na sua criação, curam sua alma e seu corpo? Curam o Vampiro?

Artur Gomes – Meu corpo e minha alma sim. Mas se curam o Vampiro Goytacá ainda não sei, porque ele continua atravessando os telhados do presídio Federal de Brazilírica para provocar suas balbúrdias diante do estado de coisas em que nos encontramos. E talvez seja esse fogo, essa febre ardente como água quente que o faça assim em vários multifacetado.

Carmen Moreno - Neste livro, que reafirma seu perfil autoral, o inconsciente flui de forma generosa, agrupando palavras em metáforas originais e dinâmicas. Há, inclusive, muitas referências a autores e leituras diversas. Como funciona seu processo de seleção, ou “organização”, para o formato de texto, desse fluxo farto do seu inconsciente criador?

Artur Gomes – O meu processo de criação não é muito organizado não. Só a partir de alguns poemas, textos, narrativas escritas, que vou entendendo com mais clareza qual o personagem, de quem é a v0z autora desse poema ou dessa narrativa, ai é que penso como organizar em livro a sequência do seu repertório. Como já afirmei várias vezes, não planejo muito as coisas, deixo que elas fluam e ocupem  o espaço branco da página, para que eu possa refletir o que fazer com elas.

Carmen Moreno - O livro é permeado por uma atmosfera de humor e leveza, mesmo quando o teor do poema/ texto retrata um fato mais denso. O humor também é sua marca na vida?

Artur Gomes – Acho que sim, o humor deve  ter sido herdado de Oswald de Andrade e o teatro apesar de ser arte dramática, foi o que me ajudou a ser bem humorado, muitas vezes irônico e sarcástico até. Aprendi a contornar os dramas da vida real com a fantasia das metáforas, as figuras de linguagens do meta/poema/meta. Uma forma que encontrei de rir do trágico sem fazer tragicomédia.

Antônio Cunha - Amigo Artur, o Vampiro Goytacá é o nosso Canibal Tupiniquim. Quem é, quem são ou o que são os Bispos Sardinha da vez?

Artur Gomes – Acho que são vários espalhados pelos telhados dos presídios brazilíricos. Os fantasmas que precisam ser trucidados urgentemente para que o país volte a ser um país. E que talvez, país mesmo de fato nunca tenha sido.

Antônio Cunha - A poesia não pode acomodar. Na sua, a palavra arde. Esta é a meta e o alvo?

Artur Gomes – O alvo são os olhos dos distraídos e acomodados, os que poderiam e podem fazer alguma coisa para que essa cruel realidades das coisas que vivemos no Brasil fosse mudada, mas pelo contrário só contribuem para que a realidade continue e se perpetue mais cruel ainda. Mais que nunca é preciso “desafinar o coro dos contenters”

Antônio Cunha - Você é um poetator. Há algo na poesia que só a palavra dita alcança para além da palavra escrita e vice-versa?

Artur Gomes – Sem dúvida acredito, porque testemunho os resultados de tudo o que escrevo quando é lido, e quando é por mim interpretado, dito, falado. Por isso uma das coisas que contribuíram  a me levar para o teatro foi querer aprender a falar poesia. Em 1975, tinha 3 livros já publicados, e me incomodava não saber o que os leitores achavam quando liam, que sensações ou impressões tiveram do que leram. Daí a partir do teatro, comecei a ter essas respostas. o furor que a poesia falada pode provocar em quem ouve.

Jiddu Saldanha - irmão, meu mestre Artur Gomes. Viajamos por muitos lugares, com vivências que  me fazem chorar porque só quem viu viu, só quem viveu viveu...

Simplesmente LINDRO! como você conseguiu tornar a poesia uma causa de vida, durante toda uma vida?

Artur Gomes – Acho que a própria vida vivida foi me levando a fazer da poesia o meu ofício, a minha forma de viver e me relacionar com as pessoas mais próximas, ou até mesmo as mais distantes mas que de alguma forma tenha tido a felicidade de me contactar com elas. Só através da poesia consigo dizer o que é mais fundo, mais profundo em mim. Isso foi um processo de aprendizado, não nasceu de uma hora para outra.

Muitas circunstâncias fatos, amores vividos, amores perdidos, vitórias e fracassos, cada um desses acontecimentos acredito que foram sedimentando um caminho para que eu pudesse me compreender melhor e entender todo o sentido do que seja nossa vida aqui nesse planeta terra.

Antes que alguém morra  escrevo prevendo a morte arriscando a vida antes que seja tarde e que a língua da minha boca não cubra mais tua ferida. 

Cesar Augusto de Carvalho - No subtítulo, “poesia muito prosa” você já anuncia que seus poemas o aproximarão mais da prosa poética do que aos padrões formais de versificação. Por quê, exatamente nesse, Vampiro Goytacá, você optou pela, como gosto de chamar, proesia?

Artur Gomes – Em livro anteriores, eu já experimentava narrativas em prosa, mas de uma forma tímida, cautelosa, nesse como percebi que em algumas narrativas os personagens, não teriam condições de escrever com o rigor que o poema exige, em verso, resolvi ampliar o leque da escrita em “proesia” mesmo.

Cesar Augusto de Carvalho - Em seus livros anteriores há inúmeras referências à obra uilconiana. Aliás, um deles leva o sobrenome de Uilcon no título, o BrazyLírica Pereira. Neste Vampiro você cita figuras de linguagem criadas pelo Uilcon Pereira como, por exemplo, Assombradado, Biute e outras referências mais. Sinto, como leitor, que a influência de Uilcon em seu estilo vai além das referências. Minhas suspeitas têm algum fundamento?

Artur Gomes – Sim, ninguém melhor que você para testemunhar isso. Uilcon foi e continua sendo um grande guru, mestre, de muitos escritores que tiveram a felicidade de conviver com ele, e se enriquecer com a literatura criativa que dele conseguimos extrair. Convivi com Uilcon de 1983 a 1996, pessoalmente nos grandes encontroes, promovido pelo Gabriel de La Puente(nossa Ponte Grande), e na farta correspondência que trocamos por todo esses 13 anos. Meu livro Suor & Cio de 1985, tem prefácio assinado por ele.

Erorci Santana escreveu uma bela resenha sobre o BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas também tocando nesse assunto das referências. Nesse Vampiro Goytacá, eu crio a partir de Assombradado e todos os personagens os serAfins que são derivações “biúticas” mesmo, sem nenhuma vergonha de ser. 

    O chão que nos espera

tem pessoas que ainda gostam de fantasias ilusões ideias que não cultivo mais a pedra pólen inda me guia quando admiro céus sóis estrelas luas cheias vez em quando pedalo até a praia a procura de ouvir o canto da sereia à beira mar yemanjá  continuo caminhando nesse chão que nos espera poesia além da morte bem pra lá dos girassóis para encontrar nas pradarias a  orelha de van  gog  e seu instante em desespero não espero muito como alguém que do outro lado do oceano me espera


o alvo do poeta é a meta

 

nem todo poema curto

nem todo endereço acerto

a meta do poeta é o alvo

o alvo do poeta é a meta

a flecha estendida no arco

o arco estendido na seta

 

eu quero teus olhos de vidro

não poema em linha reta

nem toda cidade prova

nem todo poema povo

a clara da gema nova

pode estar dentro do ovo

a massa e o biscoito fino

o biscoito fino pra massa

no Dia D da fornalha

acendo a fogueira na praça

 

 portugais meus eus meus ais pátria fátria minha de onde veio meu pai e alguns meus ancestrais desejos ocultos poemas não escritos fonemas não falados  circunstanciais meu porto tejo rio que não passa em  minha aldeia e agora vem coimbra  lisboa mais antiga que me navega ao braga  me descuida e me desfaz

 

 amazônica

 

tuas digitais tatuarei

em minha pele

sem  segredo

que o secreto me foi roubado

na missa do sétimo dia

me profanou

 o mais que sagrado

pano de chão pra poesia 

 


 não vendo ilusões

diante da miséria

que assassina corações  


 "Nunca fomos catequizados fizemos foi carnaval".

Oswaldo de Andrade.

 

 Nunca fomos colonizados, fizemos foi Balbúrdia anti-colonial.

                               Sady Bianchin

 

Ou a gente se Raoni

Ou a gente se Sting

                                                       Luis Turiba

uma cidade sem memória não é uma cidade

                           Federico Baudelaire

Campos precisa acordar para voltar a ser 

                                 Rúbia Querubim

tocar-te por dentro lentamente calmamente como quem morde a maçã na boca da serpente e uiva mastigando a carne como sobremesa

                                            Artur Kabrunco

o gosto da tua carne não conheço não me deste o endereço

                                              Federika Bezerra

transverso anjo avessso atravesso as artérias da cidade águas do paraíba emporcalhadas de esgotos

                                                Irina Serafina

como poesia devoro para matar a fome quando oro o prazer tem outro nome

                                                    Artur Gomes

 absinto impossível te sentir mais do que já sinto

                                            Pastor de Andrade

cidade veraCidade nossas angústias penduradas nos varais

                                            Federika Lispector

 viva a lira do delírio antropofágica paulistana metendo a língua desbragada nos bordéis de copacabana    

                                           Lady Gumes

o delírio é a lira do poeta se o poeta não delira sua lira não concreta                                                                                    Artur Fulinaíma

 desde os tempos de moleque para descascar carne de manga faca facão canivete arma branca de pivete nos quintais da cacomanga

                                     EuGênio Mallarmè

não tenho papas na língua  nem pastor me come as coxas eu sou do mar da tempestade beira mar é quem   lambe  as minhas ostras

                                            Gigi Mocidade 

Artur Kabrunco e suas metáforas vagabas me enclausuraram entre os corredores do presídio federal de brazilírica perdi a lírica nem sei o que estou fazendo por aqui -  enlouqueci

Macabea – A Outra 

Por Onde Andará Macunaíma?

 

no poema na metáfora

no palco no livro

na tela do  cinema

no Acre na Amazônia

em Minas Bahia Pernambuco

Pará Sergipe Piauí

 Rio de Janeiro Espírito Santo

Macuaíma está em todo canto

Paraná Santa Catarina

até nas mais remotas

matas virgens  do Xingu

ou nas águas frias

do Rio Grande do Sul

ou nas termas quentes

do Rio Grande do Norte

Macunaíma vento forte

se misturou nas maravilhas

e também nas sutilezas

divina preguiça da beleza

das terras do bem virá

comeu o pão que o diabo amassou

quando se transmutou por São Paulo

no trampo do caos urbano

quase desapareceu do país

mas como um bom feiticeiro

seu pai não se enganou

te fez tornar-se encantado

para que o povo então  entendesse

as profundezas do teu  significado


Eva já subiu a serra de Pacaraima? já viu o sol nascer na terra de makunaima? já beijou a pedra marco zero de Roraima? Piamã disse que não,  mas Irina já experimentou o experimental de Wally Salomão 

de onde estou em Itabira eu te pergunto Nilson Siqueira por onde andará Macunaíma? Eva  não soube me responder se subiu serra do pacaraima ou beijou a pedra de muiraquitã, Cy a rainha mãe mato continua desfilando na Portela – Paulo Victor que esteve por algum tempo incorporando Macunaíma escafedeu-se tomou chá de sumiço com medo de Piamã com o seu descompromisso - preguiça só quem pode ter mesmo é o próprio Macunaíma. Já dizia Mário de Andrade em, seus delírios febris.

 serAfim 1 -             artur gomes 



onde vais cinzia farina

vestida de quase nada

rasgaram as letras do teu corpo

despiram tua carne de fada


A inocência do mortos

para Adriano Moura


mesmo  não tendo lido ouso dizê-lo: objeto direto -  é substantivo - a inocência dos mortos  espanta a ignorância  dos vivos


para ademir assunção

um nome escrito no vento

 

não quero o sentido normal

da coisa como me aparenta

quero a realidade

exatamente como a gente

   simplesmente  inventa  

                     nonada

 ela me inspira me transpira me transborda estico a corda para alinhar o plumo no rumo certo do poema a seta no foco o poema em linha torta para entortar a linha reta

no concreto do abstrato

na argamassa do concreto

sou

vampiro bêbado de sangue

assassinei os alpharrábios

para inventar meu alphabeto


no lado esquerdo

do peito

o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso

nu poema 

a porta
que se abre
à procura do inciso


o barro de alguns barracos  continuam entranhados na carne com seus  nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri itapemirim

trago a poeira na sola dos sapatos lama nos meus pés e o sangue das pessoas trouxe impregnados na ferrugem das unhas carcomidas

no  branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido juazeiro coqueirinho nas mallarmargens da BR já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista

 roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória quando  criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde 


no porão da casa onde aprendi a enxergar   clara/luz da escuridão quando   seus olhos de vidro   viraram espelhos para os meus numa madrugada  27 agosto  1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu  quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha  a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista


tem noites que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia algum poema na veia vestido de ventania


a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu ofício de perfurar na carne o que não cabe inverso nem por um segundo nem por um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu veneno


quem me vê

assim

tão comportado

não sabe

o que se passa

aqui no centro

 

não sabe do vulcão

em erupção

nesse serTão

do mato dentro


a traição das metáforas

para juliana stefani

 

dandara ainda mora naquela beira  de estrada com seu vestido amarelo no rio grande do sul mesmo que não esteja ainda a vejo atravessando a calçada saindo do carro azul abrindo o portão da casa de 7 portas douradas com mil  garrafas de vinho psicografadas na sala por algum poeta dos pampas que escreveu por aquelas rampas o que testemunhou nos vinhedos quando italianos chegaram nas serras dos meus segredos

 

 origem

 sou afro-tupi guarani goitacá que subiu o paraíba para o litoral paulista nasci na cacomanga bicho do mato curupira carrapato sou campista não tiro onda de turista sou retalhos imortais do serAfim comigo é assim : nem fiado nem à vista


 II


áfrica sim minha mãe de sangue cresci mamando do teu leite lambendo o sal da tua carne quente bebendo água suja no tanque sou fel pimenta azeite quem quiser que me aguente eu sou a lama do mangue

 

metáforas em linhas curvas

quando manhã canta e não chove lucia me fala das coxas de yve mergulhadas no pontal até a última sílaba do poema letras salgadas de mar embora mesmo que agora chova e a noite seja um relâmpago de estrelas sinto que nos falta um vagalume para alumiar a escuridão tantas vezes lamparina acesa no bar de neivaldo foram lâmpadas florescentes entre olhos             famintos de luz no verão de 2010

 

minha escrita

grita

muitas vezes

invento 

palavras soltas ao vento


a flor dos meus delírios 

tem cheiro de poesia relâmpagos de iansã incêndio no meio dia netuno em polvorosa me disse em verso e prosa  ela “que também gostava de bichos” vem com o frescor da maresia e eu serei o seu ogum anjo da guarda e companhia hoje mesmo distante essa preamar me incendeia ondas espermas/espumas explodem na areia tempestades trovoadas ventania e nem sei se estando perto                                      calmaria



estação 353
para cecília in memória


eu planto
minha estação existe
a adubagem orgânica está completa
não sou negacionista nem sou triste
sou poeta

irmão das coisas da alegria
eu sinto o gozo no tormento
atravesso noites e dias - invento

eu sei que planto
e o sistema é bruto
mas a terra gira como pomba gira
amora minha eterna namorada
e amanhã eu sei colherei teus frutos
nessa minha estação amada


       hoje me surgiu esta ideia:

estava lendo antonio cícero

e antonio carlos secchin

e ai pensei - ler ler ler ler re-ler

não escrever - parece-me brincadeira

aprendizado para vida inteira

do mim dentro de mim

o Eu dentro do Eu

o Não dentro do Sim


metáfora 1

suspenso no ar às vezes penso se devo pensar tanto como um poema de mayakówski ela um dia virá ao meu encontro e ressuscitará o poema que ontem não nasceu a vida não é só flores ela me disse clarice em cada coisa tem o instante em que ela é as vezes também penso ela não virá aí vou para praça jogar milho aos pombos ao jardim zoológico dar comida aos patos os meus sapatos já conhecem os anos de espera na última primavera os lírios não nasceram e as rosas eram só espinhos com minha língua na faca cortei a fala ainda na garganta e fui pra sala afiar o taco ela não sabe que o vinho que guardei pra ela é de      uma safra             especial de bacco

                     hipotemusa

a menina da lanchonete hoje rói as unhas de ira pira quando quero  o que ela pensa que é apenas bolero na praça são salvador com esse poema torto que te leva ao desconforto de pensar o que não sinto como ela vive sozinha entre pastéis e empadas sua vida é hora marcada de entrada e de saída não conhece uma outra vida por isso me olha estranha com uma sede faminta de comer meus olhos  com palavras – quando te digo : não minta


hipotemusa 1

 

a menina da lanchonete

em frente a floricultura

são salvador

mexe na flor dos cabelos

dedos entre pelos

enquanto aguço os olhos

pensando mar de abrolhos

na terceira margem do rio

leio um poema no cio

 grafitado em isopor

 

não sendo assim

    que seja como for

  

hipotemusa 2

 

ela bagunça meus 7 sentidos

aguça lambuza

planta um punhado de brócolis

no pé do meu ouvido

me dá de beber mastruz com leite

de comer esphirra koreana

lhe chamo de sacana

ela me diz que é bacana

me fazer de pé de moleque

pra lamber meus sustenidos 

  

hipotemusa 3

 

 ela agora usa piercing no nariz

sem medo de ser feliz

joga capoeira no mercado

aprendeu dançar suing

não dá mole pra racista

nem para patrão

que escraviza empregado



hipotemusa 4


essa garota me alucina não sabe ficar quieta com santa teresa no parque das ruínas tem mais de mil desejos um deles é quebrar meus óculos com sua fome de beijos tem mais de mil ofícios um deles é mapear o litoral das minhas costas pelas praias de são francisco essa garota é bárbara afrodite artemanha de iansã me banha com sua língua de vênus as         terças-feiras de manhã



hipotemusa 5


quero botar no seu orkut um negócio sem vergonha um poema descarado já chegando fevereiro e meu rio de janeiro fica lindo mascarado

 quero botar no seu e-mail um negócio por inteiro eu não sou zeca baleiro pra ficar cantando a mama que ainda tem medo do papa

 meu negócio é só com a mina que me trampa quando trapa meu negócio é só com  a mina que me canta ouvindo                 rappa

 

hipotemusa 6


vou encontrá-la no rio psiu poético sentidos todos plural um tanto cético nessa ponte para o nada - duvido que não exista alguma esperança nos olhos de uma criança disse-me a hipotemusa no amarelinho da lapa antes de atravessarmos para o ccjf com alguma poesia na manga do lado esquerdo do pulso rasgar o verbo da fome e entregar a  cara à tapa



hipotemusa 7


hoje acordei com uma vontade da porra de trepar na goiabeira talvez assim quem sabe ela me chame de jesus e tire ele da cruz

 ou quem sabe bacurau ou quem sabe bacuri para acabar com carkamanos

 ou então até quem sabe ela me chame de exu cabra da peste do nordeste koreano



hipotemusa 8


pode ser que ela nem saiba o quanto o tanto o torto pode ser que ela me queira bem debaixo do vestido e me chegue como sempre me rasgando a roupa me lambendo a boca sem vergonha alguma e me pegue bem assim descabelado displicente distraído pra querer mais uma poesia para entortar 7 sentidos

 

hipotemusa 9


ela me deu um beijo na boca e me disse carne seca me interessa assada na brasa como sua língua quente salivando entre meus dentes enquanto conto peixinhos na baia da guanabara na hora do gozo pode cuspir na minha cara essa gosma de lesma na calçada pedra faca trinca ferro na janela casa mal assombrada cosme velho coisinha de sal e o bruxo          ainda escreve dentro dela 

 

hipotemusa 10

 

quando alvoroçar os teus cabelos quero outras coisas alvoroçadas poros pelos entradas maria padilha pomba gira cigana presente na trilha de qualquer oxossi caçador beatriz sua filha de santo foi quem vi no espelho da minha mesa de búzios quando joguei para xangô

 

hipotemusa 11

 

fulinaimânica sagarânica

fulinaímica sagarínica

algumas vezes muito prosa

tantas vezes muito cínica



hipotemusa 12 

foi em são carlos a última vez que fui encontrei alzira pira da pira de piracicaba incendiou minha carne devorou meu esqueleto o lance só acaba quando mergulhamos em são josé do rio preto era uma japinha que conheci em batatais depois da prova dos 9 deu adeus e nunca mais 


hipotemusa 13 


como ninfa estrangeira ontem me veio envolta de plumas em estado de poesia na baia da guanabara estudava antropologia pelas marinas do rio no sexo sempre quentinha feito uma gata selvagem gozando a vida no cio vestida em pele de algas despida nos desvarios lambeu o mel entre as coxas    desapareceu no navio

 

hipotemusa 14 


nem bem havia anoitecido no parque das ruínas teus olhos de lamparina tocaram a pedra do reino nas águas da guanabara coisa rara aquele peixe brilhante dentro daquela boca com seios de primavera e vinhos da santa ceia em tua língua muito louca

 

todo dia que não amanhece

anoitece

quem nunca leu sagaranagens

não pode dizer que me conhece

anjo torto

 

 quando nasci torquato neto

veio ler a minha mão

tinha chegado de teresina

com uma garrafa de cajuína

e um livro na outra mão

e eis o que o anjo me disse

apertando a minha mão  

com um poema entre os dentes

vá bicho!

não tenha medo do inferno

seja     poeta moderno

cheire as flores do mal

que a poesia de Baudelaire

             vai te salvar no final 


onde tudo é carnaval

minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao lado do colégio estadual nilo peçanha primeiro endereço que conheci nesta cidade antes de estudar no colégio estadual  xv de novembro de onde muitas vezes assisti desfilar a mocidade louca ao lado do meu padrinho benedito que inventou deixa que eu chuto meu guardião absoluto


entre muros e paredes do presídio federal de brazilírica macabea foi jantada pelo pastor de andrade no carnaval da mocidade tem memórias por lá adormecidas que ninguém ousa contar a hipocrisia  varreu daquele território a rebeldia marca registrada de um tempo que não podemos apagar trago nas nervuras entre a   carne e os ossos marcas de explosões da caldeira na tipografia das letras onde tentaram me domesticar

mas sou vampiro goytacá

          endiabrado serAfim

    sou canibal tupiniquim


afora em mim grafitemas  nenhuma figuralidade  frutas legumes verduras quem cala a fala consente  houve um tempo que a dita/dura  calou a fala da gente grafito em tua carne de pedra  medusa de sete patas  poema de sete cabeças  miragens do amor que enlouqueça  apóstolos na santa ceia  miró brincando de circo  com os olhos na lua cheia 

 

meus dedos esticados
como cordas de pianos
roçam teus olhos azuis
eu tenho muito planos
para  te tocar feito blues

o poeta é um fingidor

chove aqui dentro
mais do que lá fora
eu tenho pressa
de olhar teus olhos
nesse mar de angra
o pau brasil ainda sangra

enquanto isso
ela passeia no egito
entre templos sagrados
dessas múmias quânticas

me perdoa
o poeta é um fingidor
mas eu não sou fernando pessoa

qual lamparina me ilumina
e por onde andará macunaíma?

 

sombras na parede as vezes me invocam falas delírios outros nem precisa tapa na pantera muitas vezes uma dose de conhac basta como quando editávamos o curta tropicalirismo jiddu me colocou na mala da fama foquei lá e até hoje não achei outro endereço minha cama tem colchão de palha e a tua tem     lençóis que não conheço



quem diria

filho de lavrador

e mãe analfabeta

um dia no brasil

ser chamado de poeta 

ainda existe uma mulher

que me lança chamas
que me distorce o crâneo
me disseca e me atraca
quando chego ao cais

com esse barco em movimento
essa carcaça de lâminas e ossos
uma mulher que me estica o plumo

e me satisfaz

me enrola em desenredos
e me deixa arame farpado
a ponto de me sangrar os dedos


vampiro lobisomem

 

tenho frequentado os telhados junto aos fantasmas da planície visitando os territórios lamacentos da cidade em cambaíba por exemplo espreito os fornos crematórios de um passado inda recente voltei aos braços dos desamparados indigentes da contra mão os que foram trucidados por gritarem contra ditadura e escravidão


               do som dessa palavra

nasce uma outra palavra

fulinaimicamente

no improviso do repente

do som dessa palavra

nasce uma outra palavra

fulinaimicamente


 teatro do absurdo

no próximo dia seis vou me despir de vez rasgar os p(l)anos no próximo dia seis no parque desengano plantar amoras pedra bonita – metáforas para os olhos de quem não vê isa bela acha bonito tudo aquilo que não falo no próximo dia seis desmontar o circo no universo paralelo montar pirandello beckett  ionesco artaud fernando arrabal no próximo dia seis vou me despir pro carnaval da irreal/idade botar fogo na cidade e nas fardas do imperador 


resumo

 

ela tinha as mãos tão suaves que tocavam-se como quem tem a pele sob a chuva de setembro eu procurava colher maçãs no horto de santa maria madalena olhava a montanha e lembrava-me de quão  selvagem  fui aos olhos dela enquanto ainda vivia na tapera o meu cavalo deixava na porta da cidade escrevi sobre isso no poema quando o tempo rasgou meu corpo na calçada e trouxe-me folhas de papel em branco.

serAfim 2 -               rúbia querubim a desejada de federico baudelaire

nos currais dos mares salgados
Federico pensou Iracema
com seus grandes vestidos folgados
como a grande ninfeta Iolanda
trajada em vestes de penas
nos bailes do império em Luanda

nas barras da sai da fama
ele então grafitou grumixama
palavra que ouviu numa cena
na língua da formosa dama
no teatro da rua ipanema
nos bordeís de copacabana

os cogumelos de Santa Cecília
nas barras incandescentes da cama
pornofônicas palavras fonemas
pitanga urucum colorau açucena
com os caldos da salsaparrilha
qualquer grande orgia é pequena

 

entre os dentes

trago uma língua afiada

carnavalha

para tudo que me valha

irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a gente não sabe qual foi o pincel         usado pelo pintor


 a travessia vou fazendo

no inverso

entre os lábios da tua boca

e as letras do teu inverso

 

além de tudo meu olho foca

meu olho toca meu olho vê

tudo aquilo que você não lê


quieta aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora seco mas ele gostava até queria que fosse assim como um biúte me chamava de vários nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da lâmpada e os cálices nos lençóis de algodão as vezes linho para atiçar nossa luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores falando para o vento que entra pelos                 buracos das fechaduras

 

não conheço

mas é como

se conhecesse

 disse-me ontem

a psicóloga

 antes que

amanhecesse

 depois de uma noite

de trégua

depois de passar a régua

 na direção dos des/caminhos


os olhos da janela

me espreitam

enquanto devoro

este poema

       salgado de luz e  sol 


sede

eu tenho sede de água
eu tenho sede de mar
girassol nos meus cabelos
espuma de sal esperma e pelos
por onde eu possa delirar
eu tenho sede de sexo
em noites claras de luar

 

                se eu não beber teus olhos

não serei eu nem mais ninguém

 

quando beijar teus lábios

desço garganta mais além

 

quando tocar teu íntimo

onde o desejo é mais intenso

 

jura secreta não penso

bebo em teus seios também

 

a flor da tua pele
me provoca
me toca
e não sei o que fazer
me perco nas esquinas
do teu corpo
em noites de lua nova
como uma prova de física
que eu nunca soube resolver


espírito santo


guarapari aqui estou
aqui me encontro
em estado de espírito santo
nesse mar azul e branco
como as cores da portela
o rio já passou em minha vida
nas marés de um serafim
mar é o que me fica
como o deus que me habita
sem princípio meio ou fim

 

musa
que é musa
não tem vergonha de nada
escancara a cara no espelho
se desnuda pra fotografia
teu corpo camisa de vênus
a flor da pele irradia
rasgando a camisa de força
tua carne                só poesia

mulher de nuvens
para micaela albertini

fosse eu uma mulher de nuvens
não estaria aqui presa
a este mar nas marés suor ou cio
passaria com o vento
sem deixar rastros vestígios
pegadas
voaria sobre estradas
sem destino cais ou porto
viajar mesmo

sem nenhum conforto
ou calmaria nas partidas
e ventania nas chegadas


o belo me excita quando vem assim seminua não importa o sexo gênero cor na imagem que me traga essa leveza de estar como pluma levitando sobre o poder da gravidade não importa o nome ou o tipo de sangue que circula pelas veias nem o sal do suor sem ver o nome escorrendo pela pele enquanto aqui teço homenagem ao                 eros que me come


metáfora por metáfora


se ele pensa  também penso mas não compenso carência de ninguém  e vou além do outro lado do cerne tudo o que está dentro ou fora do corpo o que vai e vem na hora do sexo se não me agrada meto a faca corto metáfora por metáfora  o músculo/pênis que nunca me deflora


poema de 7 patas

para pisar a amargura
e extirpar de vez
o pus dessa gangrena

não sou santa maria madalena 

queremos saber mais como foi que  os Portugueses trucidaram os índios na confederação dos Tamoios. para isso devo seguir os passos de Anchieta e me embrenhar pelo litoral. seguir as entranhas das florestas é o que me resta. Cristina Bezerra cuidará do virtual.

 serAfim 3 -        federico baudelaire o mestre sala dos mares 


meu abraço pra brasilha a minha ilha de creta  a catedral insana secreta no bacanal dos desamores essa estranha cidade concreta onde  o fascismo e seus louvores um belo dia se instalou vai ser preciso muito amor vai ser preciso muito sexo vai ser preciso muita luta chutar o balde convidar as putas para cantar em alvoradas muitas vezes no congresso muitas vezes na papuda quem sabe um dia a coisa muda quem sabe um dia essa pátria se desnuda e se solte  então dessas correntes com as mãos  jorrando   outras sementes no carnaval de salvador 


irina serafina

nem minha

nem tua

toda dela semi-nua 


escrevo

como quem

pesca uma piaba

no rio ururaí

 vou por aí

de itabirina

a iriri

 se não cansar

cato conchinhas

de anchieta

                   a quipari 

 

você ainda não conhece tudo que um dia bem-te-vi no pontal de atafona no portal do imalaia ou na lagoa grussaí você está se aproveitando da nossa situação e está de olho na minha mulher não vai colar porque gigi federika lady rúbia eugênia agora é minha quem mora com ela em iriri do espírito santo sou eu pode tirar seu cavalinho da chuva seu tempo de guarapari passou se não é capixaba que se dane quero mais que o quiabo voz carregue porque sua banda de reggae aqui não toca aqui não é freguesia do ó e você nem conhece quibe de peixe pra ficar jogando isca no meu quintal de areia sua sereia já morreu faz tempo o templo agora é outro pastor de andrade me deu a chave de entrada 


só quem sabe do riscado

        entende o seu ofício

 procura palavra nua toda viva toda crua  

o resto que se foda

 quero toda palavra toda

      toda bruta toda puta

 na artimanha do concreto

        no abstrato do ereto

no suor que vem da luta 

 

          para rúbia querubim


a pétala da flor deságua sobre a flor da tua pele nas águas salgadas desse mar nas correntezas desse rio eu bebo tudo que revele cada gota dessa água na leveza do teu cio sob os lençóis da tua cama acenderei os          meus pavios


alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam mayara doida cigana
que me deixou no desconforto


A

travessia no inverso do meu tempo sem lenço sem documento janelas abertas ao vento

                                          o poema freudelérico

não tem nada de pessoa

na vitrola rola um demônios da garoa

e o poema mete a língua

no avesso da linguagem

rasga os tecidos da mortalha

assombrado com o verbo desemprego

afia ainda mais a carnavalha

com sua faca de dois gumes

no descompasso do desassossego

 

 

 bolivariAndo 2


eu sempre andei no encalço dos olhos de carolina na fantasia dos meus passos
tem confete/serpentina
onde o profano e o sagrado em puerto viejo cavajarro se encontram em outro tom a cigana boliviana com seus olhos de pimenta com suas pimentas nos olho me levou para lá sierra de santa cruz da bolívia onde se masca folhas de coca antes do coito das cinco sem chá e nem torrada e cerveja muito menos o sexo ali é na porrada(verdade não invento)  com  fogos de artifícios botando fogo em   carnaval  no serTão  do mato dentro


poética 43

 a percepção acho que é um dom uma descoberta um pássaro que pousa em nossa cabeça e nos atira aos fios elétricos do corpo  liberdade vem de dentro do motor  dos músculos os ponteiros que só se movem quando querem o repouso absoluto é uma forma de silêncio não vejo muita graça em ser sozinho solidão as vezes faz bem noutras assusta mas se tenho um amor que ainda não me diz abertamente do diamante que mora dentro dele toco -  a música dela tem itálias e palavrões as vezes quando me pergunto onde vou nem sempre tenho  respostas  aliás respostas é o que menos tenho encontrado para as 25 mil perguntas paradas no ar  no além da amesa posta o rascunho dos meus primeiros dias ficou esquecido numa tipografia do tempo emoldurado na    tinta que mudou de cor


pedra dourada


amo a pedra
onde ela mora
estive lá
já vim embora
assim sozinho
mas é como se essa pedra
estivesse ainda em meu caminho


pérola dourada 

houve um tempo numa primavera passada conheci pérola dourada numa pedra onde o tempo agora é saudade por toda pele grafia na minha íris/retina trouxe a pérola dourada na menina dos meus olhos olhando os olhos da menina em cada pedra que havia


drummundianas


no hotel amazonas - galvez o imperador do acre  hospedou-se  em  sua passagem por campos dos goytacazes em direção a vitória do espírito santo e deixou por aqui o vampiro goytacá que mora neste hotel até hoje e passa as madrugadas na janela do quarto olhando o pátio interno tentando reencontrar o seu amor nina aroeira vestida de benta pereira nos cavalos do imperador muitas vezes vi lágrimas descendo dos seus olhos e as mãos apontadas para o telhado do outro lado do corredor enquanto rezava para santo antônio  se espantou com alguns  passos nos  corredores da linda  flor  florlisbella dos  passos que ali mesmo   conquistou


princesa morta


I

dorme a princesa encantada
no portal dos desenredos
na bruma das madrugadas
evoé - Eros meus dedos
tocando o vinho na língua
da saliva em tua boca
ó princesa adormecida
que vens na pele da pedra
quantos anos quantas Eras
tivemos nesse abandono
por estações de primaveras
sem chegadas só partidas
nas luas de tanta espera
nas marés das despedidas
na carne o sal das promessas
silêncio o som das feridas

II 

ó princesa adormecida
enquanto guardas na flor da carne
dos teus lábios indefesos
sorrisos palavras mágicas
ou só meus poemas presos
o que imanta teus olhos
que ímã me tens me tesa
me armas com tuas entradas
de tantas delicadezas
elétrico me põe na fala
faíscas de um tempo aceso
no mito a chave da porta
a corda que o plumo estica
no mito a princesa morta
     no poema onde vivafica


pedra brava


a vida aqui no recife  é pedra brava federika não dá mole só quer me ver duro não compartilha a grana diz que não paga cerveja pra amante tremenda sagaranagem além de amante sou o seu acessor nas artemanhas pelas areias da boa viagem pedra por pedra estou pensando voltar pra itabira para iriri nem pensar o espírito santo mora  longe não passa por aqui federika está pior que lampião pensei que vindo para pernambuco fosse amolecer seu  coração qual nada virou pedra que nem  marreta quebra


 

o último goytacá


quando te tocar

é para alvoroçar os teus cabelos

eriçar teus pelos

molhar os teus mamilos de saliva

                         com essa língua viva

 aqui na minha boca

 

o último goytacá

       coisa muito louca

 feiticeiro – resistente

mastiga os mamilos da musa

a(r)mado com poesia nos dentes 



Studio 52

nada como uma noite
de queijos e vinhos
um belo poema
e uma musa levemente leviana

seria uma puta sagaranagem
bem sacana
se o poeta não conhecesse
as dunas do barato
altas ondas de ipanema

e um edifício chamado 200
na barata ribeiro em copacabana

serAfim 4 -                gigi mocidade rainha da bateria 


um dia desses
quero ser sérgio sampaio
porque hoje tô de bode
na cabeça um para raio
tô comigo ninguém pode
soltando bichos no porão
tô faísca tô kabrunco
tô um relâmpago lamparão


a vida não basta

se me bastasse seria outra
clarice quem sabe
beatriz que fosse
fruta que gosto de comer
antropofagia canibal
pronta para o bacanal
filha que sou deste país
de fevereiro
onde todo ano é carnaval
e a vida do meu pai
se foi em sangue
uma bala no estômago
e uma manchete de jornal


por mais paradoxal
que possa parecer
bailarina
não é um ser normal
como qualquer um outro ser

  

 insônia

I

nesta noite quieta
entre lençóis e travesseiros
eu aqui inquieta no meu canto
ouço bob dylan
bebendo esse conhac
com tua língua
em minha boca
pelas noites lá do sul

meu brinquedo verde/azul
 

II

trago de volta os vinhedos
tua pele entre meus dedos
o poema    em guardanapo
até hoje está guardado
na moldura em teu retrato


voragem

para ferreira gullar - in memória

não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia

eu sou voragem
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia

as vezes distância dói
no centro
as vezes o buraco é fundo
não sei entender direito
como se mede um mundo

geleia geral

I

geleia é um personagem misterioso meio dionisíaco que vivia nos porões do studio 52 lá pelos idos de 1987 nem sei quando onde como nasceu vivia aprontando com o seu projeto de psicanálise popular com um divã em cada esquina na primeira festa das bacantes nos altos da catedral  quando pensávamos ser eunuco devorou a  santíssima trindade  dela hoje só resta rúbia querubim e um sacrossanto serafim que despachou federika  para os corais do recife nas marés de pernambuco

II

vez em quando geleia passeia pela igreja universal do reino de zeus para tirar um sarro com seu pastor de andrade na missa pagã do sétimo dia coloca os dedos e a  hóstia na língua das ovelhinhas para a encenação do ciúme nos olhos da sacristia em tudo que  é sagrado pra ele não  tem segredo os cinismos da hipocrisia em  suas juras secretas decreta estado de sítio em estado de poesia


com o amor trincando os dentes


parece até que eu não sabia
que ela fugiria da raia
golpe com rabo de arraia
deixa qualquer uma tonta
ela não estava pronta
se encontrava semi nua
sem coragem de despir o resto
sem coragem de encarar a cama
amarrou-se nas correntes
sem coragem de escancarar a porta
fechou-se então nas janelas
com o amor trincando os dentes


anti/lírica

um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nos 4 cantos da casa
instigante satírico sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é como um anjo
de belas brancas asas

que me toma arrasta domina arrasa


poética 86


teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca

bebe do esperma/leite a nata
e rasga essa mortalha
que te mata


penso em vão não escrever certa vez comecei um poema com vírgula as curvas dos seios no branco do papel o caminho entre tecidos sob a pele para o túnel onde não passam automóveis a vírgula não é ponto apenas um sinal no início do poema que não precisa ter ponto final apenas curvas em direção a outras curvas para encontrar as outras   vírgulas no início do poema


diante do espelho sou
e sempre serei outra
agora o que não sou
fica do outro lado de fora
a lâmina acesa, a brasa
o sal do suor do cio
o mar entre minhas coxas
e mangue entre minhas pernas
os caranguejos que me invadem
                  sempre que me olham


hoje vou comer  coxinhas na santa ceia paulistana vou comer fiado vou comer de graça coxinha só se paga a prazo a perder de vista na pia no banheiro no telhado na cozinha coxinha se come aos montes nas ruas nas praças nos palácios nas garagens coxinha é massa de manobra amassada com trigo com farinha carne que se presta pra usar comer e jogar na lata de lixo

coxinha não é gente
coxinha         é pior que bicho


linguagem

abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos meus dentes


toda nudez não será castigada

estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do assalto
e seus metralhas

minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha

onde houver canalha
         toco fogo dentro


pecadora confesso


estando toda no cio
no corpo querendo tudo
minha mãe que me descreve
já me conhece do parto
eu sou vadia e não te iludo
eu tenho as veias abertas
um furacão entre as coxas
um vulcão no ventre/útero
mas só um homem me come
desde a minha tenra idade
nas ostras cravei meu nome
            eu sou gigi mocidade


fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento


a tentação sou eu


deito pra lua
só ela me p(h)ode como eu quero
penetrar-me com sua luz de fogo
me deleitar com seu leite
eu quero a lua cheia
que me entre o mar das cochas
e me engravide com seu manto
e que não fique algum quebranto
o mal olhado o olho gordo
que me lave com seu líquido
e me leve até são jorge
montado em seu cavalo branco


o rei está Nu

e  a rainha também

o palácio dava para

os fundos

do submundo

onde morava

a loucura tântrica

em suas garras semânticas

como física quântica

ela gozava solitária

no anoitecer de todo dia 

E u não sou santa
a vida é bruta
e vou a luta
uma quadrilha
de filhos da puta
tomou o Planalto de assalto
o lugar deles é a lata de lixo
de onde nunca deveriam ter saído

vamos enxotar essa putada
varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete
a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída
subverter a ordem
acelerar o ritmo da libertação

a Arte é arma
e não temos tempo
de Temer a morte
Arte é intervenção da massa
armemos o povo
para o povo entender
e aprender a Ocupar
Democracia é palavra gasta

“a arte existe
porque a vida não basta”

se a massa está inerte
vamos fermentá-la
vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino
antes do anoitecer

“quem sabe faz a hora
não espera acontecer”

vamos a hora é essa
eu tenho pressa
não temos tempo pra espera
o trem das onze está partindo
e quem perder já era

serAfim 5 -           federika lispector a ponta da lança 


desconcerto


o poeta é um jogador
joga com palavras
letra por letra
sílaba por sílaba
com nomes sobrenomes
universo das coisas
artifício das cores
tira um sarro com metáforas
desconcerta a lírica
a métrica a fonética
e os significados
onde não tem sentido
enfeitiça o sub-mundo
enaltece o desdentado


não tenho trava não tenho treta
branca ou preta eu traço o tempo
ao sabor do vento que vem
ao sabor do vento que vai
onda do mar eu tenho o sal
e quero sol a solidão não pega
de surpresa nunca fui presa
fácil pra tua armadilha
eu tenho a trilha que os teus pés
                            jamais irão pisar


não tenho certeza que isto é um país ando por recife entre pedras como quem vomita um planalto dentro do palácio grafito a porra no muro tenho vontade de explodir este barril de pólvora esta é a palavra que não basta eu trovoada relâmpago ventania temporal elevada a múltipla potencialidade dessa  miséria quântica nessa imoral brasilidade


o dia que eu estiver vestida

não me toque
deixe que eu troque
o sentido para o truque
na armadura de ogum
a trama pro desejo
que não dou a qualquer um



desassossego

o meu amor não tem sossego
morde lambe chupa come
teu corpo que ainda não conheço
tua carne - nem se quer tem endereço

o meu amor não tem apego
agarra larga prende solta
atira ampara - é cachoeira
escorre como trovoada

iansã em tempestade
o meu amor é livre e limpo
quando a alma está lavada



desejo sexo amor paixão

fantasia

aos olhos de wermmer
tudo é possível crer
até em quem não cria


diante do espelho fico zen
chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
              canto a mina da esquina
                que se chama lys cabral


lys não a de fando nem do bando do rancho das  carmélias  passeava certa noite em itapoã de bunda pra lua ouviu o canto da sereia se despiu de toda amélia  foi me procurar na federal na ciranda do boi cósmico não ouviu seu pai de santo queria me dar por todo canto até mesmo na plateia mas voltou pro morro de são paulo para espanto da geleia 


mitológica

fosse afrodite ou fosse vênus
mariana fosse quanto
a flor sagrada de lótus
secreto o espírito santo
os girassóis entre os cabelos
nos lábios lírios do campo


carnívora


o amor é feito de corpos
o amor é feito de membros
o amor é feito de meses
janeiro fevereiro março
todos os dias acordo e me lembro

o amor é feito de abril
maio junho julho
o amor é feito de agosto
setembro outubro novembro
o amor é feito dezembro

o amor é feito de anos
o amor é feito de agora
horas minutos segundos
é razão de estar no mundo
o amor se faz toda hora

serAfim 6 - artur kabrunco garrutio lamparão 


Federika Bezerra: A Porta/Bandeira que Bortou Olivácio Doido
Samba/Enredo do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo  no carnaval de 1993 - em 1995 integrou o repertório do projeto Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim - Realizado pelo SESC-SP

Em
mil novecentos e vinte e cinco
na noite de orgias satanazes
um raio de trovão incandescente
rachou a Igreja em Goytacazes
um vulto do despacho então desceu
movido por farol de grande luz
tocou na pedra quebrou cruz
a Rainha do Fogo dessa gente


Federika
de ouro azul e prata
na porta da igreja foi parida
criada pelo Padre Olivácio
que logo depois lançou na vida
aos cindo de idade encantada
foi pega masturbando em sacristia
por causa de um sonho com o príncipe
DuBoi da mais sagrada putaria


Expulsa
da cidade foi pra longe
cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis
mas se você pergunta Freud Explica:
- o seu palácio agora é em Petrópolis

 

Aos
dezenove plena de alegria
conheceu Gigi da Bateria
na porta do Beco de Satã
na festa federal do Bar da Lama
a Deusa dos Lençóis de toda cama
sorrindo para ver como é que fica
dá um corte na história
inverte o drama
e transforma Ouro Preto em Vila Rica

e assim vamos cantar em verso e prosa
a saga dessa Deusa Iansã
que em busca da mordida na maçã
sonhava encontrar Guimarães Rosa


Viemos
do SerTão para os seus braços
porque a Mocidade Independente
é a mais fina e pura Flor do Lácio
afilhada do secular Padre Miguel
e fiel ao seu pai Padre Olivácio
e para completar a grande roda
trazemos o cacique Pau Brasil
o centenário Oswald de Andrade
filho da paulicéia que pariu!


Passando pelas bandas do Catete
dançando na maior intensidade
macumba com o índio brasileiro
nossa Ex-Cola campeã da liberdade

Federika engravidou o grafiteiro
do famoso cacete Samaral
que escrevia pelos muros da cidade:
Mocidade já ganhou o Carnaval!

e assim vamos cantar na grande roda
tudo o que deu e o que não deu
o dia que um pastor bem collorido
pensou ser pai de santo e se fudeu!



 operação de risco 

 aqui  assumo o kabrunco como sobrenome de um  desses  12 apóstolos de zeus nessa profana e canibalesca santa ceia para provocar os lobisomens assombrados espalhados pelos telhados dos laranjais da  paulicea desvairada do presídio federal da brazilírica do campos dos goytacazes e dos manguezais  são francisco


não sou de morder comer chupar calado como mordo chupo e canto com meu coração de galinha depois que boto o ovo e o sangue escorre pelos ânus depois da dentada do vampiro por mais que me chame espanto sou muito mais que isso lingüiça de chouriço sangue de porco na tripa cachorro louco cão danado nascer em agosto não me é desgosto pelo contrário me ins-pira


por quê me chamas fulinaíma? fumaça escorre pelos orifícios de esqueletos refratários caramujos passeiam paredes emporcalhadas de vinhoto unhas navalhas sangram carnes dos deuses desencarnados os vermes ainda mordem nas camas dos palácios urubus pantanais pastos de minotauros no planeta não sei onde ó minha nossa senhora das tempestades quando me livrar desse pesadelo?

 

arte manha

 

 depois de ler o mapa da tribo como um tigre incendiado me visto agora com a flor da pele de salgado maranhão nem sei se wally sabia dessa arte manha salomão não posso dizer o que o poema espreita nestas tardes de brazilha  o sol o céu em quantas bocas tudo que é meu está guardado em tudo o que eu criei e o que ainda está pra ser criado e depois do que for re inventado na cor da pele  um serAfim res-guardarei como uma onça em pantanal quem sabe até flor do cerrado mandacaru brotando em  mim por serTão do carnaval 


talvez não tenha lógica o que escrevo minha escrita grita do inconsciente coletivo vivo re-par-ti-do em três em quatro em  cinco em seis em  sete quem não conhece não se mete

                em tudo aquilo que excita

 

salve meus erês meus eguns meus xangôs e meus exus salve meus oguns meus oxossis omulus salve iemanjás oxuns e iansãs todas as manhãs que ainda ardem minhas mordidas nas maçãs das plenas coxas de das santas filhas  de nanãs

 

irreverência ou morte disse gigi mocidade pra federico baudelaire homem com flor na boca mestre/sala dos mares mocidade independente de padre olivácio  escola de samba oculta no inconsciente coletivo não fujo do perigo no asfalto o beijo sujo “é preciso estar atento e forte não temos tempo de temer a morte” disse-me caetano na canção tropicalista o genocida  anda solto ainda não podemos nos perder de vista


linguagem


o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca

o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída

sem ter adeus na despedida


a traição das metáforas


durante a viagem olhava a paisagem através da janela árvores montanhas casas abandonadas gado bovino ferro velho onde foi que não estive neste país mal assombrado tenho a leve sensação que o outono nunca vai chegar o patriarca nem vem vindo e um morcego continua na porta principal na entrada da cidade minha avó xingava quando fugia do curral e minha mãe nunca mais me esperou desde o dia em que me fui embora e o 02 não é apenas um traficante de joias no lado b da nossa história


a paisagem vista durante a viagem na janela mexeu com as minhas unhas sujas de lorca nem era nova granada de espanha nem canção de milton nascimento ouvia caetano cantando -  

"o haiti é aqui'  - com sua língua pontiaguda e pensava o dia que o genocida vai me olhar com seus olhos ensandecidos detrás das    grades                        da papuda


se eu não fosse Macunaíma


fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta não caberia
mesmo se filho eu fosse

de uma nossa senhora
ou de uma santa maria
afilhado de grande otelo
neto da romaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não podia
tinha que ser cacomanga
           onde EU então nasceria


poema atávico


e se a gente se amasse uma vez só a tarde ainda arde primavera tanta nesse outubro quanto de manhãs tão cinzas nesse momento em bento gonçalves mauri menegotto termina de lapidar mais uma pedra tem seus olhos no brilho da escultura confesso tenho andado meio triste na geografia da distância esse poema atávico tem a cor da tua pele a carne sob os lençóis onde meus dedos ainda não nasceram algum deus anda me pregando peças num lance de dados mallarmaicos comovido ainda te procuro em palavras aramaicas e a pele dos meus olhos anda perdida em teu vestido


para gigi mocidade

procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por              amor qualquer


miles davis fisgou na agulha

oscar no foco de palavra

cobra de vidro sangue na fagulha

carne de peixe maracangalha

que mar eu bebo na telha

que a minha língua não tralha?


eros

tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes eros
eletrizou os nossos dedos?


escridura

esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre
o beijo quando for que seja
de língua mordendo  a carne quente



algaravia

eu sou o vento que remove teus cabelos e repousa em tua face a outra face do que sente mas não vê a palavra que um dia escreverá – algaravia nas películas da memória na ficção que entender come poesia menina come poesia pois não há mais metafísica no mundo do que comer poesia


come poesia menina  come poesia  não há mais metafísica no mundo do que comer poesia  come poema menina come poema temos delicados drops de anis ou chocolate de café para festejar leila diniz  temos as líricas  tímidas românticas abstratas metafóricas  atrevidas temos  os chuviscos

bomucados maria mole  rapadura temos também as ácidas viscerais eróticas concretas  sensuais as que não livram a cara dos fascistas  e    dão porrada em ditadura 


embriague-se

 já me dizia Charles Baudelaire

hoje estou em estado de vinho

  só venha comigo quem flor acaso bem-me-quer


suspenso no Ar não penso

 atravesso

o portão da tua casa

o corpo em fogo

a carne em brasa

 

tudo arde nas cinzas das horas

no silêncio da tarde 

 

vou entrando sem alarde

sem comício como o pássaro

que acaba de cantar

                    em pleno hospício 


se me perguntam

respondo

:

não tenho a mínima ilusão pelo futuro dessa cidade  veracidade

mas não me entrego

sou curisco kabrunco capeta

candeias

ainda tenho muitos poemas de brecht

                     pulsando em minhas veias 


leandra andra como quem escapa da cilada de uma palavra acesa e eu kabrunco acendo a lamparina para iluminar a encruzilhada ainda hoje os dentes mordem a lavra da palavra quando ela se despe atrás da porta para ter sua carne devorada no poema sem nenhum pudor ou receio de   problemas 

 serAfim 7 -          artur fulinaíma o outro 


se o amor fosse apenas desejo quantos beijos neste dia roubaria do teu corpo por inteiro se a paixão fosse primeiro

quantas horas passaria no teu corpo noite e dia de janeiro a janeiro  se nada disso resolvesse fome sede fogo febre mergulharia em ondas novas todo mês de fevereiro


cidade veracidade

                 campos 189

 

transverso atravesso esta cidade que me atravessa em silêncio ouço o gemido dos teus ecos por ruas avenidas e vielas sinto saudade dos terreiros de jongo nas favelas  e as lavadeiras das pinturas aquarelas em teus aceiros  fiz meus trilhos  em cada  trilha dos meus traços no encontro ao ururau no cais da lapa teu por do sol pode ser beijo ou também pode ser tapa quando olho a catedral  e seu contorno seres famintos alimentando o desalento  me solto ao vento quando penso o infinito beijo teu rio o paraíba que me leva  em teu lamento me                                 concentro em minha reza

 

 carne viva da loucura

 

escrevo pra não morrer antes da morte me disse gigi mocidade no homem com a flor na boca transitivo ou intransitivo vivo na mais sagrada ilógica do inconsciente coletivo na semeadura dos ossos carnadura  enquanto posso palavrar o que procuro enquanto ócio vou lavrando o criativo na carne viva da loucura quando da morte sobrevivo


irina é um sol

que dói no crânio

quando dentes ardem

e mordem

 os beiços da tarde 


não posso permitir irina vestida de cetim de seda fina se a quero felimina vestida de sombra e luz a carne em flocos de lua olhos de não sonhar um abajur cor de carne nas pedras de lumiar


impossível pensar irina vestida com outras vestes este ser cabra da peste     do inconsciente coletivo do                   imaginário incandescente

inútil pensar irina vestida de serpentina como fez cinzia farina em seu poema visual era uma tarde de chuva num sonho de carnaval


meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste

como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece

eu sou avesso atravesso a cidade  com o que me interessa  as vezes sou sossego outras vezes tenho pressa não procuro o que não quero  me abstenho no que faço  me abstrato quando posso  me concreto em cada passo  o compasso é argamassa o absinto é quando traço  uma linha nunca reta da palavra em descompasso  se sou torta não importa  em cada porta risco um ponto  pra revelar os meus destroços   no alfabeto do desterro a carnadura dos meus ossos


um dia desses


um dia desses não quero ser paulo leminski  nem dançar como nijinski ou escrever feito pessoa   numa boa /  quero voltar a curitiba e sair da pindaíba escancarar o Beleléu -  quero ouvir carlos careqa esse - filho de ninguém e botar fogo no céu onde o anjo diz: amém!   quero ser o nego dito ou será o benedito do itamar da assumpção

um dia desses quero ser um joão gilberto  e quem sabe caetano seja como for em dó ré mi fá lá si dó pra explodir o meu silêncio e tropicanizar   em salvador   um dia desses quero ser um pai de santo para fazer da flor de  lys a minha flor e como um filho de xangô festejar o meu amor com meu salgueiro campeão. 

um dia desses  quero ser um celso borges  quero ser um cláudio willer  quero ser eliakin  um ademir assunção   quero ser sempre plural   estar sempre em profusão   um dia desses  quero ser zeca baleiro  pra dançar boi no terreiro   com salgado maranhão

um  dia desses quero ser celso de alencar para esporrar com   as 111 picas do massacre do carandiru na cara dos fascistas de brasil de norte a sul

um dia desse quero ser césar augusto de carvalho anistia pra golpista é o caralho!

 

fulinaíma sax blues poesia

  

ela era Bruna

em noite de blues rasgado

soltou a voz feito Joplin

num canto desesperado

por ser primeiro de abril

aquele dia marcado

 

a voz rasgou a garganta

da santa loucura santa

com tanta força no canto

que até hoje me lembro

daquela musa na sala

 

com tua boca do inferno

beijando meus dentes na fala 


poÉtica fulinaímica:  fulinaimicamente falando   dar - é se doar  emprestar a voz a quem está mais necessitado do que nós  quem quiser que pense o que quiser  escrevo no instante  visceral  que sou   esteja onde estiver  venha o que vier  posso ser um homem  ou emprestar a voz   a uma mulher profana qualquer pense o que quiser escrevo o que me dá na telha  centelha da faísca viva   brasa cerebral do instinto animal pensante que sou : insPiração é um estado de purificação divina   do humano ser


quem disse que amor
é mudo surdo cego
não sabe o que carrego

em meu estado de sítio
em meu instante  de surto


 

“uma palavra LIMPA é uma palavra possível”                            

                                   (Viviane Mosé)

 

passeio os pés descalços sobre covas rasas contando ossos no poema exposto

                                     no sujeito do objeto

tudo isso exposto nesse papo reto

                          segue o passo norte

não leio cartas de suicídio

nem decreto de hospício

na tentação que me conforte

quero matar o genocídio

          pra não morrer antes da morte

 

o outubro

me deixou no tudo nada

a luz branca sem sono

em nossos corpos de abandono

ela arquitetava uma nesga

entre as frestas da janela

luz do luar nos olhos dela

girassóis em desmantelos

por entre poros entre pelos

minhas unhas tuas costas

amsterdã nos teus cabelos

o que van gog me trazia

era branca noite de outono

que amanheceu sem ver o dia

nossos corpos estavam tomados

de vinho tinto e poesia

 

diante de tudo que tenho falado despido lido escrito ser  mestre sala   não é uma missão apenas por ter incorporado a mocidade independente  de padre olivácio em ouro preto das minas   e não é sina  tem mais angu nesse caroço cabeça nesse prego  não nego estou metido nessa trama dos pés aos fios de cabelo em cada uma das nervuras desse osso  debaixo dos lençóis de cada cama tem segredos e mistérios que sendo revelados deixariam qualquer país em alvoroço


aves de rapina sobrevoam os céus  de brazilírica  vender é o grande jogo  dos governantes de negócios  não é metáfora metafísica figura de linguagem  é a mais pura sacanagem   eles dão o golpe na calada da noite   no romper da madrugada   vendem a coisa pública   porque gostam da privada 

 

irina se escondeu na pluma feito bruna se libertou da bruma e flutuou no ar voou de nova deli  a bagdá tentou me encontrar mas foi inútil eu tinha seguido para o norte procurando a sorte que não tive aqui no sul  bati em portas de marabaia a estambul  e foi um corte que dei no tal destino e num instante meio brusco repentino rasguei os trilhos e fui  parar em paraty federika desembestou foi pra recife  desde então nunca mais em telavive        desde então nunca mais em  tela vi

     Irina e Federico – 

o primeiro encontro

 

Federico – o que é que você está fazendo aqui?

Irina – procurando o que fazer

Federico – o que fazer aqui é difícil!

Irina -  acho não

Federico – então venha

Irina – primeiro preciso criar meu figurino e me maquiar

Federico – nada disso, faz assim mesmo como você está

Irina – não, assim não, assim eles vão pensar que não sou ela

Federico – Ela quem?

Irina – posso ser a serafina, clarice beatriz, ou qualquer outra. só não posso ser a rúbia querubim porque essa é meio complicada, porque gosta de quibe de peixe

Federico – e por quê?

Irina – não gosto de quibe nem de peixe e em Iriri parece que só tem isso pra comer

Federico – você quer um espelho?

Irina – pra quê?

Federico – pra você ver como está vermelha!

Irina – ando meio assustada mesmo,  muito estranho isso aqui

Federico – teatro do absurdo

Irina – mas parece  que era o que eu tanto procurava. mas não sei se realmente encontrei

Federico – por quê?

Irina – minha mãe é muito estranha

Federico – é assim mesmo, aqui todos nós somos estranhos somos vampiros serafins

Irina – uma ora ela é clarice e de repente beatriz, e não tem nada a ver uma com a outra, não se parecem nem um pouco, isso quase me  pira

Federico – mas aqui numa página a gente transa noutra página a gente pira

Irina – mas isso pra mim é muito novo e chega a ser pirante mesmo

Federico -ah! relaxa e goza, que as metáforas dessa  cruel realidade são sempre mais reais

Irina – então deixa eu ir ali me maquiar

Federico – precisa não transa assim mesmo

Irina – transa? como assim?

Federico – aqui transa é trabalho, quando mais a gente transa mais experientes ficamos

Irina – você é experiente?

Federico – acho que sim, pelo menos é o que dizem por aí?

Irina – ah, então quero trabalhar com você. Vou criar um figurino massa e uma maquiagem vampiresca quero me tornar a grande vampira serafim na grande aldeia do canibal tupiniquim

Federico – então vai quero ver você nessa vampirinha serafina pra macunaíma nenhuma colocar defeito

Irina – macunaíma? quem é ele?

Federico – é o nosso herói sem nenhum caráter

Irina – como assim?

Federico – é porque ele é uma mistura quase assim como a clarice/beatriz, sua mãe, e a gente pra entender mesmo quem ele é temos que procurar muito, e mergulhar profundamente numa leitura sobre o povo brasileiro, da mesma forma como fez darcy ribeiro.

Irina – mas isso dá muito trabalho?

Federico – mas tudo que a gente faz aqui é parte do trabalho

Irina -  pois então, já vou – (abraça federico afetuosamente simula um beijo, olha olho no olho, é agora? ainda não, e sai de cena)

Federico – vou ficar aqui orando pra ela voltar – como poesia devoro pra matar a fome, quando oro o prazer tem outro nome

 

um girassol se escondeu por trás do portão de entrada. Entre suas pétalas cantava minha amada um blues rasgado desses que não se houve mais -

a branca flor o azul do mar e a menina dos meus olhos com a luz de Iemanjá quem dera fosse a minha namorada e chegasse sem aviso só preciso dos teus olhos e da luz do teu sorriso

o impulso aqui não é pouco o espírito grita dentro do corpo deliro feito louco de tanta sede e fome como quem não vive em paz como quem não come há muitos séculos atrás

serAfim 8 -           euGênio mallarmè o filho de Severina conterrâneo de torquato 

 

eu sou menino

eu sou menina

e não venham me dizer

 que lança perfume é parafina

diversidade de gêneros

podes crer – não me alucina

eu nasci da minha mãe

 que se chama severina 

lá dos sertões do nordeste nor/destino nor/destina

 como o sal do maranhão

bumba-meu-boi não desafina

conterrâneo do Torquato

 eu nasci em Teresina


aqui

em casa

lavo pinto bordo

o corpo

a alma

os pelos

cada um que

pinte seus delírios

cada um que

desenrole

seus novelos


irina me disse há um poema seu debaixo das escadas atrás de cada porta dos palácios

metaforicamente fulinaíma desvenda todos os mistérios interplanetários na invasão dos intra poderes que comandam a invasão da fonética  dos ventos e por  consequência a invasão  cibernética dos corpos


ouvindo música pra remédio


quando se trata de metáforas macabea invade a meta do poema afora e se esconde atrás do personagem trancada no sub-inconsciente semi-morta pra toda fauna toda flora na moralidade mata o que o corpo sente deixa a carne apodrecer ao sol da mordacidade
entre hóstias e cultos anti-bíblicos
castrada de toda e qualquer sexualidade prende o gozo na boca quando se masturba mentalmente ouvindo música pra remédio travestida em todo tédio

                    que o histerismo a converteu 


você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro/outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora


irina serafina onça branquinha brincando de ninfeta com sua língua de fogo devassa o imoral queima boletos da sabesp na cara do tarcínico narcotarso  desfila na paulista com sua bu(a)nda de metal


poética 48

era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal

como o que eu quisera
como nunca antes
outra mulher me dera

de maneira assim tão normal


tão distante teresina
me lembro da cajuína
saudade da faustina

que conheci no carnaval
da mostra visual de poesia
brasileira

tinha carlos careqa
jormmad muniz de brito
rubervam du nascimento

o verbo então carnal
argamassa no cimento

mas a carne tão macia
viva crua quase nua
acendeu  a luz no apartamento



poética 38

 

enquanto escavo a seiva
entre o vão das suas coxas 
para desfrutar do teu cio
e santificar o nosso  ócio

a selva amazônica perde 
mais 200 mil hectares de mata virgem
para as moto serras assassinas
desse venal agro negócio

 

ainda não sei
se baudelérico ou baudelírico
só sei que ando meio mallarmélico
completamente absurdado
com esse leite condensado

 na língua do meu delírio


agora que Isadora em mim amoras no pomar da minha casa  meu corpo incêndio no barril é pólvora a carne em chamas no esqueleto brasa o fogo acende os pavios entorpecidos e o instinto volta  a fazer parte dos sentidos


incontinência verbal

 

                    eles tentaram

além de nos calar/apagar

um espaço/tempo

do país onde nascemos

viemos dos

40 50 60 70 80 90 2000

o que vivemoso que fizemos

o que fazemos onde estamos

o que faremos pra onde iremos

o que sabemos

incomoda/desconforta

conhecimento liberta

é porta aberta

e não um vão estreito

              em cada porta

 serAfim 9 –  federika  bezerra a porta bandeira 



a pedra na carne
a carne na pedra

nem tudo que reluz é ouro

nem tudo que cobre a carne

é couro 

nem tudo o que me fere
                                fedra


nunca estou

mesmo estando

onde nunca estive

mesmo tendo estado

 

isso me provoca sérias dúvidas

dívidas pra resgatar no fim do mês

 

e o preço da  carne seca

está muito caro no mercado


na pele do poema

o cavalo selvagem
cavalga a pele do poema
enquanto transa na pastagem
um novo trote

a deusa do rock
berra em outro canto

enquanto na voragem da vertigem
assento a pedra de xangô
na vitória do espírito santo


naquela noite de chuva

as cores no vestido de iansã passaram despercebidas por aqui o sangue encarnado nas matas de oxossi e o olho do dragão na ponta da espada de ogum ainda que aline na porta da casa velha tivesse sobre a pele meus olhos presos por  palavras escritas na parede as sagradas escrituras não dissessem o quanto ali brotavam flores naquela noite de chuva um coração              estraçalhado


61


revirei sacramento pelo avesso do avesso aline me acompanhou passo a passo pela ladeira até a casa dos fundos canários no quintal catavam o que comer fotografamos e filmamos o que pairou no ar e não perdemos o éter dentro e o cafezal nos convidava ao êxtase aline olhou pelo espelho da janela que dava para o outro lado da alma e levitou entre as trilhas dos canteiros ouvindo o som que nos unia


frente ao espelho

penso o tempo que não veio o mar que se foi o amor que não ficou o mamilo dos teus seios os olhos de um boi tudo que restou o sol a luz a cruz a dor de não dormir o berro a barra a lua o punhal a faca a fruta no quintal a pele o tecido a cor do teu vestido a flor no temporal a chuva o arco íris teus olhos a retina a cera a parafina e a nossa vida de animal


faroeste lamparão

para torquato neto – in memória

 

 quando saí de casa ia dar um tiro na cara do delegado mas estava desarmado estão me colocando em histórias dos tempos do não sei onde como se eu durando kid comesse a filha do conde nunca comi amarela em cinema mexicano muito menos a ruiva do faroeste americano disseram que eu tive caso de amor que se tornou pernambucano quando encontrei o poeta no trailer do ricardinho foi me falando de mansinho como se trampa uma batalha pra não cair na armadilha  a -  grana -  palavra - cilada

agora não se fala mais agora não se fala nada


o homem  com a flor na boca

federico pensou iracema com seus grandes vestidos folgados como a gringa ninfeta iolanda trajada em vestes de penas nos bailes do império em luanda nas barras das saias da fama ele então grafitou grumixama palavra que ouviu numa cena na língua da formosa dama no teatro da rua ipanema   nos bordéis de copacabana os cogumelos de santa cecília nas barras incandescentes da cama pornofônicas palavras fonemas pitanga urucum colorau açucena com os caldos da salsaparrilha qualquer  grande orgia    é pequena


  garrutio

 

o sobrinho do meu tio

marcou o boi com ferro em brasa

por ordens de dom diego de la riva

e na janela da grande casa

do mosteiro de são bento

azeredo furtado  garruchava

lençóis de trigos ao vento

enquanto o boi estribuchava

com a metáfora ensanguentada

no couro cru na carne viva

            do santíssimo sacramento


lamparão

 

lamparina acesa no trovão

relâmpagos atravessam corredores

lá fora chove canivetes e navalhas

quebradeira geral no umbral

das coisas incompletas

relampejam  nos currais sacramentados

entre a desgraça e a glória

 aqui incorporados

nos porões da  nossa história


são saruê

festa no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública

a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa


são saruê 1

o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de são joão
meu xangô xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é lampião


profana

 

tenho apenas

esse punhal de prata

e a lua já não é mais cheia

poesia sempre na veia

e aquele beijo guardado

que ainda não foi roubado

na noite da santa ceia

 serAfim 10 –   

                   lady  gumes  

                          ponte grande 


com dois me deito
com três me levanto
com a graça de zeus
e do divino espírito santo


mariana de piracicaba

registro um mar de fogo
mariana um rio de piracicaba
escorre em minha cama
sob os lençóis de cananeia
nem jocasta nem medeia
na minha camisa de vênus
na tua boca de lótus
por tantos anos que não passam
nesse torpor que não me cessa
nem mesmo o chá me acalma
o teu corpo em minhas unhas
no espelho tua alma
por mais que eu queira sonhar
        meu amor por tantas eras
        que nem mesmo sei contar


macabea chorava osso

a ponte quebrada não me leva para o outro lado  olho o espelho d´água e tenho certeza que vou me afogar engoli o vento da primeira madrugada a casa era cacos de vidros minha filha vaza os pés em rio das ostras nunca mais pensei o mangue como a morada dos peixes e o canal passava atrás da varanda da cozinha hoje estou sóbria muito mais que embriagada pela maresia com esse cheiro de sexo evaporando pelo olhos e o corpo tremendo de susto por não ter com quem gozar


algumas imagens permanecem na medula da memória e me mantém viva água viva ontem mesmo te vi à estrela do  mar e mesmo não estando foi como se estivesse tatuada em minha pele com letras de sol e sal nos raios de luz do luar beijei teu nome nas algas e       mergulhei no teu olhar


fulinaímica

não sei escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um van gog
ou se escrevo um baudelaire


entriDentes 5
ou uma segunda a tarde em campos ex-dos goytacazes

o grito desestrutura o silêncio atrás da porta a lâmina acesa sangra sob a luz do abajour lilás a faca escreve a palavra morta dois gumes na noite que estremece a voz que cala e o assassino limpa a lâmina como quem come sua última refeição



poundianas

torquato era um poeta
que amou a ana
leminski profeta
que amou alice
um dia pós
veio uilcon torto
e pegou a jóia diana
juntou na pereiralice

com o corpo & alma
das duas
foi beauvoir assombradado
roendo o osso do mito
pra lá de frança ou bahia
pois tudo que sartre dizia
o anjo  jurou já ter dito

NONADA
biúte: ria


fricção

quem passou a língua nas coxas da caipora? me pergunta federico baudelaire cheirando as flores d0 mal no sarau de euGênio mallarmè gigi então invoca a dona santa federika que baixa na mesma hora - ora bolas fui eu com minha língua de faca cortei a cara da vaca a começar pelas coxas depois subi pelo corpo até o buraco da boca  e meti a língua na língua e na suruba das línguas a dela mordendo a minha a minha mordendo a dela a arte então se revela não existe arte sem língua nem teatro sem linguagem a arte é uma grande suruba no segundo andar da padaria e o resto mais é  paisagem  altar da perfumaria



fé cega faca amolada

não quero paz
nem harmonia
na nova  ordem do dia

procuro a lucidez

na desordem da orgia 


irina me disse ontem que não quer saber de nada que aconteceu ou que vai acontecer seu prazer é mais intenso quando não sabe nem pensa no que irá fazer anda muito dada ultimamente não mente quando o assunto é paixão ou sexo seu desejo é mais complexo que o recôncavo do convexo do baiano  da santíssima salvador e seja como for  tem andado muito pensativa com as frases positivas do seu anjo serAfim nas páginas ainda brancas do vampiro goytacá canibal tupiniquim


a poesia é meta física
meta quântica
itaipu é um paraíso
dentro do que restou
da devastada mata atlântica

 serAfim 11 –      irina serafina           januária vascaína


ele me provoca me invoca me incorpora enfia toda palavra nos porões das  coxas passeia o litoral das  costas da nuca ao cóccix fricção ação movimento o poema voa pelos poros pele ao sabor do vento beija lambe morde minha  carne trêmula coloca um trema no meu ( ) tranqüilo como quem constante sempre come aquilo   desconcerta desconforta não tendo como fugir me entrego intensa/inteira como a mulher aos pés da porta


irina serafina

quem quiser

que me defina

então me canta

não sou assim

tão santa

como uma bela rima

quem pensa assim se engana

quem pensa assim desafina 


menina oxum

é por você que me deleito
só por você que me deliro
do lado esquerdo do peito
é por você que me trans-piro

por tudo que foi secreto
por tudo que é sagrado
por quanto já foi escrito
ou ainda não         falado

na pedra itapemirim
na pedra de itaocara
guapimirim curumim
guarapari guanabara

em toda água seus mitos
tua flor de lótus tão rara
menina oxum infinito
minha folha verde bonsai
na/mora dentro de mim
de dentro de mim não sai

 

certa vez em vila velha na vitória do espírito santo trepei no bonde no centro histórico da cidade velha enquanto andra mirava seus olhos sobre os meus entretanto no entanto nada me disse em seu   silêncio de  tanto de tanto dizer tanto no trem um tanto no centro  um encanto metafórico no engenho de fora no trem do engenho de dentro 


da cana
o açúcar
o melado
a rapa dura


o chuvisco da gema do ovo
e a minha língua sacana

bagunçando a ditadura
falando a língua do povo


devorável

mais uma vez te venho
porque com essa flecha
que me acerta o peito
teu coração me devora
e me desfaz na pétala
como o vôo de um colibri
velocidade de um beija-flor
tire o seu pircing do caminho
que eu quero passar com meu amor


fosse apenas uma palavra reta carinho afeto e uma que ainda falta nesse novo alfabeto que procuro tateio no escuro outras palavras signos signi ficar signi ficando signi ficado na hipotemusa do quadrado do cateto no silêncio que muitas vezes ouvi da flauta do hermeto nas trinta e cinco pausas de renata persigo a trilha em movimento pés descalços sobre a mata e as palavras brotam cachoeiras água corrente vem da fonte como sementes desejadas de brotar


marcabra perambulava ainda as tontas pelo mar vermelho procurando por carlitos argentino (o criador dos moranguinhos) vomitava marimbondos depois que assistiu pelas ruas assombradadas de campos  ex-dos goytacazes as mirabolantes peripécias de lady tempestade desnudando coronéis e lobisomens com suas rajadas de vento confesso que não invento a   hipocrisia dos homens


lady tempestade a freudelírica satiriza macabea no presídio federal de brazilírica interpretando luz del fuego no festival internacional das artes cínicas com uma serpente de cobre no pescoço

 

serafina macunaímica

ontem disse que me amava
queria até transar comigo
hoje foge de mim
tranca a tranca do umbigo
fecha a porta entre as coxas
ela sabe que me deixa louca
e adora provocação
mas vou buscar no cu do mundo
sua libido                     o seu tesão



dialogando com o mestre

o poema pode ser
um trem fora do trilho
a ponte que caiu
a mulher que não deu filho
            ou a  pedra que pariu


domingo

mar de barco
mar de pele
mar de peixes
mar de algas
como um poema de olga
onda de sal nas minhas mágoas
com sua pele de mel
com sua pele de água


rasguei as velas
que teci em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresias

pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos em cada vela que tecia


o poema as vezes é sabre

lâmina fina como o vento
ou folhas suspensas
sobre um verde
quase água
quase pluma
levita sobrevoa se espraia
na voragem do dia
como os dedos da moça
ao atiçar o clic
no instante exato da fotografia

 

 cidade voracidade

ainda ontem queria te ver mas não pude – cidade rude oculta atrás do espelho do outro lado da calçada não decifrei teu mapa muito menos cais da lapa onde queria mergulhar teu rio desbravar teu cio para depois dormir

 

até onde

teus segredos me aceitam?

até quando

 teus mistérios me pertencem?

até onde

 teus silêncios tem meus gritos?

quando me deixas assim  aflita

perco o chão por onde pisa

por onde teu pé desliza

que não sei quando ele está

e se perco teus pés de mim

     por onde vou caminhar?

 

se ela vier

no frescor da maresia
lhe darei milhões de beijos
antes do amanhecer  
          de um novo dia 

e do corpo que comer

a carne

espalharei tabacaria 


moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora
desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta sendo animal da mata atlântica quântico amor ou metafísica tudo que em mim não há respostas

metáfora d´alkimim fugaz brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas
os bichos amam em comunhão na mata como se fosse aquela hora exata

em que despes de mim o ser humano e do corpo rasgamos todo pano e como um deus pagão pensamos sexo



em todas minhas partes
concretas abstratas
o amor sempre retrata
   todo espelho que vivi


mariana

gaivotas sobrevoam os cílios da lagoa teus cabelos louros espelham sal na lâmina d´água o mar – complemento do teu nome naquela noite de música mágica – quando vozes da áfrica saltaram da garganta canto de todos os povos no verde da mata luzes na flor da pele líquida cerveja na sede que não cessa éramos mais que tímpanos absortos naquele espaço templo com os olhos famintos devorando luas  na constelação de orions como uma flor de cactos sobre um chão de estrelas


meta morfose 

muitas vezes no instante uma mulher por perto noutras meio distante como alcançá-la plena pele pluma palavra carne sal água de mar mesmo fosse água de rio se o que gosta é tempestade só sabe amar quando cala por inteiro meu eu perdido em sua fala

 

sou uma mulher da vida irina severina januária vascaína uso a minha arma branca pra enfrentar a tirania transo em qualquer rua de qualquer esquina qualquer encruzilhada de qualquer  lua com jorge de ogum federico de oxum mallarmè de yansã não sou pagã fui batizada na igreja universal do reino de zeus nasci em ouro preto vila rica sou filha de deus irmã de federika


o tempo tem seu avesso

para Prata Tavares in memória

 

cidade quando penso nela lembro nossas angústias dormem em camas de ferro madeira  ou palha nossas palavras também são foices facões ou car/navalhas nossos poemas estiletes canivetes para rasgarem o pano de luxo das mortalhas  nossas mágoas lavamos nas águas do paraíba enquanto eles que pensaram  serem donos da cidade  incineraram   corpos na usina    cambaíba

esta noite me preparo para o sagrado de amanhã alguma coisa me diz alguma coisa me conta que vamos nos fartar de carne humana num banquete antropofágico algum acidente trágico pode estar pra acontecer alguma força simbólica entre nós assim pressinto com a química do absinto caldeirão da alquimia como nas noites da cacomanga preparava  minha tia alguma bruxa quem sabe em campos dos goytacazes está pronta pra atacar ou quem sabe pastor de andrade é  quem vai        representar 

o som vem do sopro penetra na palavra dentro do poema flutua no ar como os olhos verdes da menina de pele preta que oculta sobrevoa na sala sobre  cabeças incrédulas que ainda não conhecem  o estado de poesia

sua flauta está  fazendo falta  na minha boca de batom teu sax uma máquina de som

fulinaimicamente  a boca do desejo morde a carne dos meus dentes e desassossega  minha língua em tua boca quando dá o tom : fulinaimicamente


serafina

 

escrevo sem pensar qualquer sentido ou significado o leitor que defina da melhor forma que lhe convier não sou homem/mulher menino/menina para pensar o que não sou o rato roeu a roupa do rei de roma comeu o queijo na ratoeira durante a missa de segunda feira e de bandeja cuspiu na boca  da rainha a culpa não é do rato e mito menos minha 


canibal tupiniquim

 

rocei a língua

nos dentes da vampira

antes que piracicaba

os dentes cravei no pescoço

em mariana

a sorocabana curuminha

que sangrei no zepelin

 chico pensou fosse geni

genipapo no olho do cego

é tangerina

virgindade entre as coxas da menina

com um beijo a gente faz

um trampolim 

 

“contra todas as catequeses

lei do homem lei do antropófago”

                    

                           Oswald de Andrade

 serAfim 12 – pastor de andrade o antropófago 


Cidade VeraCidade

as vezes me inquieto e me pergunto: uma cidade só é uma cidade se de forma plena e total ela se concreta se conhecimento é o que liberta e indignação o que desperta nilo peçanha deve estar se perguntando: "por onde andará minha biblioteca" ?

 

balbúrdia no meio do caminho

 

poema na veia

sangue quente

carNAvalha

 

seja herói seja marginal poema que me valha

bacanal

onde é que fica?

 

cara de cavalo

debaixo da bandeira

de hélio oiticicca


absinto

impossível

te sentir mais do que já sinto


poesia muito prosa 


poesia muito prosa as vezes pedra noutras vezes fedra quero dizer que ainda arde a palavra na palavra corpo quando carne e sangue incendeiam paiol de milho na fazenda da infância cacomanga era um tempo de fartura    enxada         na palavra  do poema


ela vendia brigadeiro

e eu não fui o primeiro

a provar suas delícias

federico  passou na frente

como expresso do oriente

nos levando à boa vista

de onde ela tinha vindo

a curuminha contente

vendeu tudo em um só dia

o doce que o povo comeu

sorrindo ainda dizia

:

- vocês são mais loucos do que eu


discípulo de rimbaud

minha tv pifou nem tenho ido ao cinema meu filme está carne da palavra esse poema é trágico me lembra infância lá na cacomanga televisão nunca tivemos era rádio de pilha depois de bateria meu pai criava porcos para vender na primavera e complementar o seu salário que nem o mínimo era carteira de trabalho nunca teve como administrador de uma fazenda com mais de 1000 alqueires de terra com produção agropecuária canavieira e cerâmica industrial (usina de moer gente) esse é um poema em linha reta nem sei por quê e para que me tornei poeta discípulo de rimbaud talvez só para escrever que no brasil mesmo depois da abolição escravidão nunca terminou


o curral das merdavilhas

o brasil já foi ilha de vera cruz
e nunca foi ilha
já foi terra de santa cruz
e nunca foi santa
hoje ninguém mais se espanta
com o volume das trapaças
no curral das merdavilhas

 

na cara da hipocrisia 

desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da memória que algumas pessoas, que antes desfilavam por aqui como amigas agora fogem da página como diabo foge da cruz não escrevo para sacerdotes, escrevo para quem vive em liberdade e faz da liberdade o seu sentido maior de viver não vivo atrás de portas/cortinas escondido embaixo de panos a minha língua é explícita linguagem voraz e sacana aprendi com oswald   que humor sarcasmo ironia  são armas mortais na cara da  hipocrisia


irina também passeia 

itamarna é uma cidade morna quase cinza sem brilho mesmo assim pelas noites passeiam por ali vaga-lumes vagabundos com suas asas  lâmpadas/lamparinas irina também passeia por ali pelas madrugadas vestida de quase nada


mini conto 

no livro as vísceras expostas em grande estilo tudo aquilo que é ferida aberta passeia sobre o branco do papel todos os órgãos extirpados por uma única facada


sagaraNAgens

a terra aqui é vermelha -  branca - é a carne de dracena tudo cena – dela -  só quero a boca seus olhos de fogo me engolem da janela em frente estou no oitavo andar de um hotel qualquer seus pelos são pétalas eletrizantes de um maldito mal-me-quer ajeito o foco da lente para vê-la mais de perto avisto a púbis de vênus a língua cresce não seria por menos nem no mais banal dos melodramas com essa linda louca que me acena aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama com suas fendas de moema


fruta farta

amoras
nus - teus pelos
quantas línguas
já provaram
mangas
na carne ancestral
da uva roxa
pra desbravar
o sexo
no pomar
das tuas coxas


igreja universal do reino de zeus

minha ovelha preferida está se rebelando os ensaios da mocidade independente de padre olivácio estão se aproximando e ela não dá as caras vou baixar decreto vou baixar o santo e não diga no entanto que sou linha dura dessa rapadura você ainda não viu ela não é santa e não duvido nada que a sua mãe foi a ovelh/ana que pariu


metafórica dialética

quantas teorias terei
para escrever o que falo

quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?


mar cela

esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar

nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
         e não sei se vai passar

 

para o mar que mora em mim

o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora mar de carne e osso se eu não falasse ou não dissesse esse relógio trágico com seus ponteiros mágicos arrastando segundo por segundo tudo o que não passa tudo o que não cessa o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas só o céu é testemunha desse instante único em que passeio em tua pele como uma flor de lótus flor de cactos flor de lírios ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse mar de tanta espuma com minha língua de espera em tua língua de amora em tua língua de mar(a) em tua língua de mar


labirinto


beber dessa tua língua
luziana o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com mil garrafas de vinho


beatriz – a morta

oswald de andrade re-visitado

como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando oswald pariu a morta
tinha o dente
nos teus olhos preso

 

angra

 

assim como

o pau-brasil

a flor do mangue

também sangra


a traição das metáforas

 caipora tem andado atormentada pelos corredores do presídio federal de brazilírica a maconha mofada de juiz de fora  deve ter provocado  um efeito negativo em seus neurônios ela tem andado surtada delirando com perturbações mentais, da ordem dos apocalípticos seguidores do santo daime dai-lhe misericórdia santo zeus caso contrário ela vai acabar no cais da lapa ou procurando jongo em custodópolis tendo alucinações com maria anita e se arriscando a levar uma coça de umbigo de boi e aprender a não olhar só para o seu próprio umbigo


bebo a tempestade

na traição das metáforas macabea já sofreu as consequências pelos mesmos delírios e nem psicanálise lhe devolveu a sobriedade ficou cada vez mais dilacerada pela própria língua/espora com que tentava ferir  a barriga do cavalo ouça um bom conselho caipora aprendi com chico buarque – “eu lhe dou de graça, venha minha amiga faça como eu faço inútil dormir que a dor não passa venha minha amiga brinque com  o meu fogo venha se queimar  eu semeio vento na minha cidade vou pra rua e bebo a tempestade”


saliva escorria

gosto da leveza dos dedos deslizando feito pluma penetrar a carne e as sensações saltarem para o abismo do poema depois dos saraus ela ia de pele e na pele dela eu ia para trancoso no  litoral da bahia ou para raposo estação d´água de itaperuna curtir a pedra do toque ela sempre me disse sentir mais  minha carne que a pedra do arpoador em maresia e sempre gozou mais quando a saliva  escorria entre o anus                                  

  

com prazer ainda faria

e ela era uma estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco e escavou  imagens em brazilírica pereira : a traição das metáforas - e quero dizer que ainda arde tua manhã na minha tarde a tua noite no meu dia tudo em nós que já foi feito com prazer ainda faria 


 veneno da serpente

certa vez numa visita que fiz ao presídio federal de brazilírica  com o objetivo de levar algum alívio para algumas daquelas almas pecadoras me surpreendi com a oferta de macabea

:

- morda o meu pescoço prove do meu sangue

- cruz credo zeus me livre  teu sangue não me serve deve estar contaminado de repente com o veneno ardiloso da serpente


o cu do mundo


o cu do mundo onde fica?

minha língua afiada

onde enfiá-la?

fulinaimagem

metáfora nua na janela

meter a língua na linguagem dela


o frevo rolou na esplanada 

rocei suas mãos em conchas pele de ostra molhada mel escorreu por entre as coxas beijei o éter no ar pesquei tua língua que voou depois do coito oito horas depois do abstrato esse lugar enigmático onde estou quando te quero quero quero no pátio da sala plínio marcos foi embora alceu valença manda um frevo na esplanada no festival de pernambuco o eunuco dançarino enrola um papel de seda o pó da pluma na penumbra penetrou minha asp/irina

 

 A

mulher que goza assistindo futebol

irina serafina januária vascaína goza assistindo futebol na televisão do vizinho da esquina geme berra urra quando atinge o ponto g eu peço não gema não grite e ela grita: - é  gol de roberto dinamite!


enigma no cinema

 

tem uma coisa aqui que ainda não sei decifrar o código do significado 7776668 é o número do apartamento na quinta avenida e não estou em new york muito menos  bagdá estou mirando itapoã em salvador - dali me disse: meus bigodes são mais lindos do que qualquer fellini no cinema meu sangue está na lama misturado a cocaína com a língua clara dessa gosmenta gelatina - enquanto do outro lado da avenida joaquim pedro de andrade me pergunta: e por onde andará macunaíma?


oferenda 


sou a lenda

oculta

para o imposto de renda

deixa star

presente

na oferenda

que fiz ontem

pra minha mãe yemanjá


antropofagia

esse poema é um tratado entre o poeta que tem fome de clareza e sua musa simbolismo de beleza
se eu não beber teus olhos  não serei eu nem mais ninguém disse o poeta a sua musa ainda esfinge
beber na fonte dos seus olhos sem medo de ser feliz  : ela completa “não quero poema em linha reta ainda sou clarice/beatriz”  é ela quem me diz
mas eu não sou discreto no abstrato do concreto no concreto do abstrato todo homem que tem fome abapuru é o teu auto-retrato


 mitologia fulinaimânica

explicitamente picasso nunca nos disse guernica o que signi-fica o  corpo do fonema aliterações alisam a orelha de van gog fartura farta fogo farra festa federico baudelaire tocando fado pras fadinhas de vênus falarem com a  fênix do farol de alexandria enquanto freud nem fode nem explica o que aconteceu na sexta feira no luau das laranjeiras depois que federika furtou a farinha do desejo de toda família do império das bananas no largo do machado infeliz  das oliveiras


mitologia sagarínica


macabea a rainha das artes cínicas insatisfeita  com o rumo dos canaviais  aliciara  presidiários a saltarem os muros do presídio federal de brazilírica  federico o carcereiro desconfiou da facada que levaria pelas costas mas o matuto astuto como era invocou nossa senhora das cabeças tortas e rezou uma ladainha com os caramurus dos serAfins convocando eros e vênus para o banquete pornolírico com as descendentes de olivácio e gigi remexendo seus colírios que trouxera atrás dos braços  deposita sua iansã  por sobre a mesa e despacha  macabea pro espaço

 


mitologia brazilianas


breton mastigava poemas de baudelaire no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza  leopoldina perambulava distraída e  preocupada com as cartas de bonifácio recebeu notícias que em pernambuco havia chegado um ser estranho pintado em cores assombrosas perturbava a calmaria daquele estado de incertezas para os caminhos da imperatriz uma sombra pairava sobre as  chaves do seu guarda-roupa sem saber ao menos com que roupa iria desfilar no dia de são cristóvão na confeitaria colombo a sua afrodite de vênus 


mitologia serafínica


irina estava vestida de beatriz primeira posava para mais um clássico do surrealismo de magrite no quarto preparava a cama para a chegada de wermer a alta temperatura do verão de sorocaba alterou a  visão pictórica do pintor da menina dos brincos de pérola que no jardim enfiava o pincel por entre a espessa barba esperando a primavera lady gumes apressada como sempre se aproveitou da cama e vive uma calorosa noite de amor sem mesmo querer saber quem era a serafina debaixo dos lençóis maranhenses


mitologia fulinaimânica 2

cubismo é um objeto estranho encontrado por uma sereia nos lençóis do maranhão em noite d e lua cheia teria vindo do mar ou foi criado ali mesmo naquele chão de areia onde nenhum rabo de arraia resistiu a ventania não pense filme de terro porque já tem gente por aí dizendo que este samba é pra você ó meu amor! e que eu só escrevo putaria


santa ceia

com uma dentada na veia do pescoço matei o prefeito de cambaíba limpei desossei lavei  assei no mesmo forno da usina recheado com maçãs  do paraíso e servi a santa ceia aos meus 12 apóstolos das bacantes com um farto altar das mil e umas noites decoradas com  milhares de garrafas de vinho para o deleite das 7 eras de  vênus afrodite quem quiser

 

             Artur Gomes

A Biografia De Um Poeta Absurdo

leia no  biografia no blog

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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

              Artur Gomes vampiro goytacá canibal tupiniquim             poesia  prosa viagens metafóricas por  realidades reinv...