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SINOPSE: Depois das excitadas e excitantes Juras
secretas, de 2018, o poeta e artista multimídia Artur Gomes volta a tornar
pública sua jura de amor e fidelidade ao arcaico deus Dionísio em “O poeta
enquanto coisa” [...] Comparece ao ethos deste livro a mesma embriaguez
fulinaímica de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos
obtusos do ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma
tinta capaz de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano
pelas páginas turvas do mundo. [...] Seus versos são rascunhos, rasuras e
ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística,
deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e
vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas. [...] Não apenas
o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob a força cósmica
de Eros. [...] Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a coisas e
pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas) [...] Também
por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a língua
se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a verbal, o
que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta: a
sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa) a
dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator “na divina língua de Baco”.
[...] Artur Gomes ouve o canto da sereia em sua cama, livro, divã, [...] se
obstina pela ideia de confissão, mas de uma confissão dionisíaca [...]
preferindo um louvor a Dionísio a um Deus que não sabe dançar, que não sabe
gozar, na liturgia de uma poesia que roga.
Trechos do prefácio de Igor Fagundes
múltiplas poéticas viagens metafóricas por realidades reinventadas pelo serTão de cada um
segunda-feira, 28 de março de 2022
o poeta enquanto coisa
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