terça-feira, 7 de março de 2023

múltiplas poéticas

QUEM MANDOU MATAR MARIELLE?!

        Luís Turiba, do livro

do "Desacontecimentos"

 

há um dono

pra cada pedaço

de calçada

 

 

um gerente

pra controlar

quarteirão

 

são fronteiras

barreiras

valem nada

 

condomínios

na barra

casarões

 

galeras

e hordas

em guerrilhas

 

são tropas

comandos

são quadrilhas

 

são milícias

polícias 

sem treliças

 

são mandantes

estão de

fuzil na mão

 

de que lado

fico; isso

vai dar merda

 

mas eu

vou perguntar

quem me responde?

 

o juiz ministro

a pastora o bispo

quero saber?

 

quem mandou matar Marielle

quem mandou matar Marielle

 

não tem cara

não tem corpo

não tem osso

nem tem pele?

 

quem escraviza

a favela

quem apagou

Marighela?

 

 não se renda

não se esconda

não se encubra

nem se fira

 

não tem cana

nem xadrez

não tem vez

nem tem cela

 

quem mandou matar Marielle

quem mandou matar Marielle

 

não fui eu

mas sou ela

fomos nós

sou uma delas

 

onde está

o Amarildo?

quem fuzilou

Marielle?

 

quem criou esse mundo asco

quem é o mandante do carrasco?

 

Luis Turiba: No dia Internacional das Mulheres, continuo perguntando, cobrando, indagando, querendo saber: "Quem mandou matar Marielle?"



                       aonde vai cinzia farina

toda vestida de letras

como quem grafita na areia

um espelho d´água

à beira mar na lua cheia?

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


 Ancestral

 

há muito tempo não recebo

cartas de ninguém

mas não rezo padre nossos

simplesmente para dizer amém

 

já fui católico rezei terços ladainhas

acompanhei a procissão dos afogados

na Tapera

para soletrar a palavra Cacomanga

e entender que o barro da cerâmica

trago grudado na minha íris retina

 

meu batismo de fogo

foi numa Santa Cecília

entre víboras e serpentes

mordi a hóstia do padre

sua saia preta me levou ao pânico

de sonhar com juízes

e hoje saber o que são

 

minha África

são os olhos negros

de Madame Satã

na língua tenho uma sede felina

na carne essa fome pagã

sou um homem comum

filho de Ogum com Iansã

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

https://secretasjuras.blogspot.com/





 

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