terça-feira, 26 de setembro de 2023

OcupAção Poética

irreverência

ou morte

disse-me

federico daudelaire

 

o mestre/sala

da mocidade independente

de padre olivácio

 

e escola de samba

oculta

no inconsciente coletivo

 

não fujo do perigo

no asfalto

o beijo sujo

 

é preciso

estar atento e forte

não temos tempo

de temer a morte

 

disse-me caetano

na canção tropicalista

 

o genocida  anda solto

não podemos

nos perder de vista

 

Artur Gomes

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www.fulinaimagens.blogspot.com


carne viva da loucura

  

escrevo

pra não morrer

antes da morte

 

me disse

gigi mocidade

no homem

com a flor na boca

 

transitivo

ou intransitivo

vivo

 

na mais sagrada

ilógica

do inconsciente

coletivo

 

na semeadura

dos ossos

enquanto posso

palavrar

o que procuro

enquanto ócio

vou lavrando

o criativo

 

na carne viva

     da loucura

 

Artur Fulinaíma

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https://arturkabrunco.blogspot.com/



talvez

não tenha lógica

o que escrevo

 

minha escrita

grita

do inconsciente coletivo

 

vivo re-par-ti-do

em três em cinco

em sete

 

quem não conhece

não se mete

em tudo aquilo

que excita

 

Artur Gomes Fulinaíma

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https://braziliricapereira.blogspot.com/



não conheço

mas é como

se conhecesse

 

disse-me ontem

a psicóloga

 

antes que

amanhecesse

 

depois de uma noite

de trégua

depois de passar a régua

 

na direção dos caminhos

 

Rúbia Querubim

https://porradalirica.blogspot.com/


 

escrevo

como quem

pesca uma piaba

no rio ururai

 

vou por aí

de itabirina

a iriri

 

se não cansar

cato conchinhas

de anchieta

a guarapari

 

Federico Baudelaire

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em estado de pedra

 poesia purificada

na palavra poro

 

filtro púrpura drumundana

 itabirina paralelepípedo

 descalço

 

beijo no asfalto

mar de eucalípitos

bordelírico de rosas

 um homem com a flor na boca

 

Artur Gomes

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Noturno

 A cigarra canta entre a paisagem

Aviso que a primavera chegará sem chuvas

 

Na próxima mudança de lua, quem sabe?

 

Em tempos mais áridos, a solidão envelhece um pouco o olhar

 

Deixa ao ar uma moldura amendoada...

Há naturalmente um silêncio um pouco mais profundo

 

Percebo que minhas roseiras atrasam os botões

O pequeno canteiro de ervas precisa de cuidados

Alguns pássaros atrasaram a migração

 

Na água que corre mais fina, ao fundo do roseiral

O poente avermelhado, anuncia noite fria e estrelada

E que amanhã será um longo dia de sol

 

Um longo dia de sol...

Há muito percebi em mim o alvorecer da quietude

Uma nuance mais madura da sensibilidade

Na cumplicidade da antiga cadeira

Observo a noite, a dança das nuvens

O chá de capim-santo com mel

E sementes de girassol

 

A cigarra ainda canta entre a paisagem

Amanhã será um longo dia de sol

Um longo dia de sol...

 

Tonho França

Poeta e editor na Editora Penalux

 


auto retrato

 

passei a infância

correndo atrás do sol,

pés descalços pelos matagais

por entre cascavéis e beija-flores.

cedo aprendi o milagre

das sementes: minha mãe

abria a terra

e eu semeava os milharais,

os campos de arroz e as colheitas.

 

- vim crescendo com a sarça hostil

sob a memória de crânios

sem nome.

 

quanto à poesia,

foi se alojando aos poucos

nos latifúndios do coração.

e se tenho as mãos

especializadas na confeitaria

das palavras,

vem da herança natural do ofício

de criar e engravidar as plantas.

 

Salgado Maranhão

em Concerto A Quatro Cantos

Antologia Poesia Brasileira Contemporânea

org. Domício Proença Filho

Record - 2006



tropo

extirpas teu cu melado de açúcares e triguilhos

como tudo que na sua vida tem reticulas e culpas
mastodonte dessa época era requebra seus bordéis e querubins

borrifa seu passado na porta da igreja que te recebeu entre nacos de folhas mortas e do presente das suas mãos solitárias e suicidas

masca tua língua mascára seus retalhos do poente como um homem sem gravata ignobil de recordações e pólvoras

fecha teu currículo vai para o meio da rua e caga.

Cgurgel



CARA OU COROA

Jogar moedas na fonte,
desejo de ponte
- um rio correndo solto,
um riso, um risco, um suspiro -

nadar depois do amor ausente,
águas fundas rompendo comportas,
logo depois tantas outras portas,
entre janelas entreabertas outras pistas

não fomos nós
os jardineiros que semearam os brotos,
nem os canteiros abertos,
deixando à mostra
os veios das nossas aortas em aletas dispersas,

nós, apenas criaturas ausentes,
acidentes de percurso foram tantos

- sobreviventes -

você entende nossa linguagem,
nossa linhagem bordada
debaixo de tantos panos quentes?

As moedas tocaram no fundo:
era cara ou coroa a melhor escolha?

(Nic Cardeal, 28.09.2019)

(
📸 imagem do Pinterest) 


TRADUZIR-SE

 

Uma parte de mim

é todo mundo;

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

 

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

 

Uma parte de mim

pesa, pondera;

outra parte

delira.

 

Uma parte de mim

almoça e janta;

outra parte

se espanta.

 

Uma parte de mim

é permanente;

outra parte

se sabe de repente.

 

Uma parte de mim

é só vertigem;

outra parte,

linguagem.

 

Traduzir-se uma parte

na outra parte

— que é uma questão

de vida ou morte —

será arte?

 

Ferreira Gullar


Pedra Pássaro Poema

 

era uma vez um mangue

e por onde andará Macunaíma

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso

será que ainda existe algum

vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

 

Macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porões  dos satanazes

está nos corpos incinerados

na usina de cambaíba

em campos dos Goytacazes

 

Macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos

em são francisco do itabapoana

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

leia mais no blog https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


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