terça-feira, 4 de outubro de 2022

Mostra Visual De Poesia Brasileira - Poesia Em Movimento

 




CONVERGÊNCIAS

A poesia visual de Tchello d´Barros

Em novembro na semana acadêmica do IFF - Campos Campus/Centro

clique no link para V(L)ER mais no blog

https://fulinaimagens.blogspot.com/



a desconfiguração do corpo

os estilhaços do povo 
estão espalhados
nas cidades
pernas aqui
braços ali 
cabeças lá

na total desconfiguração
do corpo :
- cabeça tronco membros

as cidades estão entupidas
de fragmentos de populações
destroçadas em desespero

a crueldade é tanta
que dificilmente em qualquer cidade
se encontra um ser humano inteiro

Federico Baudelaire



A dificílima, necessária e tormentosa decisão de partir

 

Tem dias que

não dá vontade de falar,

carpir a paz, moer o amor,

colocar os sacos de lixo na rua,

arruar feito pedra, arrolar feito pano,

ir até lá...

 

Não dá nem vontade

de rosnar.

 

Tem vezes que

não dá vontade de rir,

espremer a dúvida, rasgar o medo,

catar as folhas do céu cinzento,

amanhecer em primaveras,

folhear as manhãs,

sair daqui...

 

Não dá nem vontade

de grunhir.

 

Tem dias que

não dá vontade de urrar

torcer o sonho, secar a raiva,

estender as roupas no varal vazio,

amarrotar as tiras da existência,

varar feito pano, voar feito pedra,

ir até lá...

 

Não dá nem vontade

de falar.

 

Tem vezes que

não dá vontade de rugir,

premir o gozo, ferver a lágrima,

varrer a quina das paredes,

emparedar seus vultos,

adornar a esperança,

sair daqui...

 

Não dá nem vontade

de rir.

 

Aqui,

o estado atormentado

dos seres acabrunhados

a perigar...

 

Lá,

o estado tão almejado

das almas que hão

de se libertar...

 

Entre

esses dois estados,

estrelas de fogo, arcos luminosos,

anjos redentores, mares encantados,

milhares de dores, labaredas de sangue,

demônios humanos, cavalos alados,

luas gigantes, campos floridos,

algum souvinir...

 

E a dificílima, necessária

e tormentosa decisão

de sair daqui,

ir até lá,

                           partir...

 

Joilson Bessa

Alphaville e Penha, 05, 06 e 07 de outubro de 2022.


 quem sou

nesse estado de coisas

tantas

um grito preso na garganta

e um outro

          parado no AR



cacomanga

 

ali nasci

e minha infância

era só canaviais

ali mesmo aprendi

a conhecer

os donos de fazendas

e odiar os generais

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada

Desconcertos Editora

2ª edição - 202







Nu

Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu'alma
Nua, nua, nua...

Manuel Bandeira

 





o brasil já foi ilha de vera cruz

e nunca foi ilha

já foi terra de santa cruz

e nunca foi santa

hoje ninguém mais se espanta

com o volume das trapaças

no curral das merdavilhas

 

Artur Fulinaíma

https://ciadesafiodeteatro.blogspot.com/





 Uilcon Pereira nosso grande mestre - criou o verbo V(L)ER e nos dizia que era a única forma para aprender a ler poesia visual - em alguns textos do teatro do absurdo de Ionesco tenta nos ensinar a ler objetos. Aí eu me pergunto: qual a melhor forma de decifrar signos na poesia de Tchelo d´Barros?


CONVERGÊNCIAS

A poesia visual de Tchello d´Barros

Arte em Movimento

Leia mais no blog

https://fulinaimagens.blogspot.com/ 

A p e t i t e

para Marceli A. Becker

 

basta o desgastante falar das maturações

do tempo do verbo que nunca alcança

 

tez algodoada de um azul inquebrantável

onde a palavra é lúcida e a poesia é mansa

 

que o fruto ainda verde caia sobre as mãos

em um só sentido, uníssono e irreversível

desfazendo-se em grãos ao puir nos dentes

 

e confronte a etérea solombra atmosférica

com toda a força desgarrada das urgências

interrompendo o tempo sacro da semente

 

bendita seja a palavra daquilo que se consome

bendita a rebelião do lado de dentro da fome

 

Amanda Vital

Do livro Passagem

Editora Patuá - 2018



 

com  uma câmera

nas mãos

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

  antes que desapareça

 

Artur Gomes

https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/




grafitemas e figuralidades

 

estou escrevendo um mini conto um grafitema umas figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia  vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê  nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou quem eu   era




 

CÍCLICA

 

O que acaba aqui

alguma coisa começa

em algum lugar

O fim não cessa

de inventar começos

e tudo é inescapável

ao tempo que não finda

O que começa aqui

alguma coisa acaba

em algum lugar

O começo não cessa

de inventar fins

e tudo é inescapável

ao tempo que não começa

 

Dudu Galisa



TANTO ÓDIO, CARLOS

 

o mundo é grande

e tem extremos

tem estrelas e tem estrume

tem perfume e tem veneno

tem dias que a gente ama

tem dias que a gente briga

mundo mundo vasto mundo

mundo malo mundo bueno

não me chamo raimundo

mas algo estranho me intriga

como cabe tanto ódio

num caráter tão pequeno

 

Ademir Assunção

Risca Faca – São Paulo

Selo Demônio Negro

2021


 

terror
[sil guimarães]

perder a alma
o senso
o tino

perder a fala
a pátria
a palavra

respirar a pouca luz que
cerca um país feito jaula:
até como?

[imagem oscar niemeyer] 




 Tributo a Torquato Neto

 

hoje que você se foi

e ninguém pode negar

o que está feito:

 

as palavras guardadas no peito

são flores-navalhas

no chão do real;

e um poeta conhece

o tambor da fúria

capaz de gerar um furor.

 

hoje que você se foi,

o tempo de chorar

também já foi embora,

e um poeta conhece o tamanho do verso

capaz de abolir o acaso,

que as palavras são lances de dardos.

 

hoje que você se foi,

os bois que berravam na chapada

viraram sócios do açougue:

os néscios e os midas de sempre

sinlen$ifraram nossa dor.

 

e neste cenário de real pavor,

como num lance de touradas,

o troféu é entregue ao matador.

 

Salgado Maranhão

Do Livro A Cor da Palavra

Prêmio da Academia Brasileira de Letras - 2011




Poema do aviso final

(Torquato Neto)

 

É preciso que haja alguma coisa

alimentando o meu povo;

uma vontade

uma certeza

uma qualquer esperança.

 

É preciso que alguma coisa atraia

a vida

ou tudo será posto de lado

e na procura da vida

a morte virá na frente

e abrirá caminhos.

 

É preciso que haja algum respeito,

ao menos um esboço

ou a dignidade humana se afirmará

a machadadas.



 

Punk Koreano

para Jiddu Saldanha

 

hoje acordei
com uma vontade da porra
de trepar na goiabeira
talvez assim quem sabe
ela me chame de jesus
ou então me salve

dessa  terra de tanta cruz

 

ou quem sabe bacurau

até mesmo um bacuri  bacuri
para acabar  com os golpistas

desse brazyl americano

ou então ela me chame
de exu cabra da peste

cobra criada no nordeste
esse punk koreano

 

Eugênio Mallarmè

Do livro O Poeta Enquanto Coisa

https://secretasjuras.blogspot.com/ 






 Fulinaíma MultiProjetos

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/

 

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