terça-feira, 4 de outubro de 2022

Mostra Visual de Poesia Brasileira - Poesia Em Movimento

 



era dia de luto
jamais a presença
deixou de cantar

 

Hamilton Faria



VIVER

Porque viver
tem dessas coisas:
é preciso esperar que passem as águas
- todas as águas:
rasas ou fundas
revoltas ou inconclusas
mal paradas ou moribundas -
[ou entender que nunca]

porque viver
tem dessa coisa:
é preciso voltar a ser a água
do oceano do templo
- sem tempo -

[é preciso morrer por fora
para sobrar por dentro]

(Nic Cardeal, 03.10.2022 - inspirada na leitura do incrível livro "O luto da baleia", de Solange Cianni @solangecianni
)





vem luana
vem lu anda
vem luama
pousa aqui na minha  fama
venha ser meu ser primeiro
de janeiro a fevereiro
venha ser o ano inteiro

 

Federika Lispector

https://arturfulinaima.blogspot.com/





um peixe mergulha
um outro nada

 

como não tenho um outro
nada a te oferecer
te ofereço flor de cactos
flor de lótus
flor de lírios
ou mesmo sexo
sendo flor ou faca fosse

nos poemas ácidos
em meus nervos óxidos

te ofereço tudo
sem nenhum apego
minha arte/manha

meu desassossego

 

Tempo Poético

                                para

 Isadora Chiminazzo Predebon

 

O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no in/consciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem 
Caminho de Pedras 
o cenário
Vale dos Vinhedos

o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas 
a carne do corpo também 
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém

 

Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com





A mente (fechada)
é uma casa cheia
de (in) cômodos.



a pedra na carne
a carne na pedra
nem tudo o que me fere
                                fedra

 

Federika Bezerra

www.personasarturianas.blogspot.com

 

sagarânica

 

a palavra sagarânica
tem os seus mistérios 
o significado fica a seu critério

fulinaimicamente
te digo o som dessa palavra
cola as tripas no umbigo


Federico Baudelaire




Poética

 

o abajour ao pé da cama

Federika acorda assustada

corre para o guarda roupa

e não tem o que vestir

por entre corredores

               passeia nua

em frente ao espelho

no banheiro coloca

seu batom vermelho

e sai para mais um dia de lua



pecado original

permito-me o instante
de pensar o paraíso
sem querer saber de nada
até hoje me pergunto
:
foi Eva quem comeu Adão
ou foi Adão quem comeu Eva?

só sei o que o poema traz
mas não sei o que o poema leva

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimargem.blogspot.com/



carne proibida 

o preço atual

proíbes que me comas

mas pra ti estou de graça

pra ti não tenho preço

sou eu quem me ofereço

a ti: músculo e osso

leva-me à boca

e competa o teu almoço

 

Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva - 1987

www.suorecio.blogspot.com



Tragédia Brasileira 3

e não me peçam coerência diante essa existência conturbada vivemos numa selva envenenada por qualquer negócio o agro tóxico é um veneno mas o negócio em desgoverno é só lucrar e   não  importa que você morra dessa pandemia antes de se aposentar  porque a morte é a única forma que eles têm de nos calar

Rúbia Querubim

www.fulinaimargem.blogspot.com


teus olhos
velam mistérios 
teus olhos 
guardam segredos
um mar de verde/amarelo 
azul de um tempo abstrato
branco na íris retina

teus olhos
serpentes da china
assassinos daquela menina
teu veneno enigmático

 

Artur Fulinaíma

https://arturkabrunco.blogspot.com/



quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro ou está por fora

quem está por fora

não sustenta um olhar que demora

diante do meu centro este poema me olha


Paulo Leminski

https://www.youtube.com/watch?v=s7Q6uSZBwWw



Tempestade/Temporais

 

Eu sou avesso

atravesso a cidade

com o que me interessa

as vezes sou sossego

 outras vezes tenho pressa

 não procuro o que não quero

me abstenho no que faço

 me abstrato quando posso

 me concreto em cada passo

 o compasso é argamassa

 o absinto quando traço

uma linha nunca reta

 da palavra em descompasso

 se sou torto não importa

em cada porta risco um ponto

 pra revelar os meus destroços

no alfabeto do desterro

 nessa cidade eu desabafo

 

Artur Gomes Fuliaíma

https://personasarturianas.blogspot.com/



tem gente que me odeia

tem gente que me adora

tem gente que me quer bem

tem gente que me namora

tem gente que me desfaz

tem gente que me deflora

tem gente que é capataz

tem gente  que é senhor

tem gente que é senhora

gente que é gente me importa

gente que é gente me transporta

pra esse tipo de gente

tenho sempre aberta a porta

tem gente que me dilacera

tem gente que me ignora

só amo gente que é gente

          assim como Isadora

 

Pastor de Andrade

https://fulinaimicamente.blogspot.com/



grafitemas e figuralidades

 

estou escrevendo um mini conto um grafitema umas figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia  vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê  nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou quem eu   era

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca 

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/





alvoroças pelos em mim
sobre águas que bebi
            morta de sede

 

Rúbia Querubim
         foto: Jorge Pla



 Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com 

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