era dia de luto
jamais a presença
deixou de cantar
Hamilton Faria
VIVER
Porque viver
tem dessas coisas:
é preciso esperar que passem as águas
- todas as águas:
rasas ou fundas
revoltas ou inconclusas
mal paradas ou moribundas -
[ou entender que nunca]
porque viver
tem dessa coisa:
é preciso voltar a ser a água
do oceano do templo
- sem tempo -
[é preciso morrer por fora
para sobrar por dentro]
(Nic
Cardeal, 03.10.2022 - inspirada na leitura do incrível livro "O luto
da baleia", de Solange
Cianni @solangecianni)
vem luana
vem lu anda
vem luama
pousa aqui na minha fama
venha ser meu ser primeiro
de janeiro a fevereiro
venha ser o ano inteiro
Federika Lispector
https://arturfulinaima.blogspot.com/
um peixe mergulha
um outro nada
como não tenho um outro
nada a te oferecer
te ofereço flor de cactos
flor de lótus
flor de lírios
ou mesmo sexo
sendo flor ou faca fosse
nos
poemas ácidos
em meus nervos óxidos
te ofereço tudo
sem nenhum apego
minha arte/manha
meu desassossego
Tempo Poético
para
Isadora Chiminazzo Predebon
O
tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no in/consciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
www.secretasjuras.blogspot.com
A mente (fechada)
é uma casa cheia
de (in) cômodos.
a
pedra na carne
a carne na pedra
nem tudo o que me fere
fedra
sagarânica
a palavra
sagarânica
tem os seus mistérios
o significado fica a seu critério
fulinaimicamente
te digo o som dessa palavra
cola as tripas no umbigo
Federico Baudelaire
Poética
o abajour ao pé da cama
Federika acorda assustada
corre para o guarda roupa
e não tem o que vestir
por entre corredores
passeia nua
em frente ao espelho
no banheiro coloca
seu batom vermelho
e sai para mais um dia de lua
pecado original
permito-me o instante
de pensar o paraíso
sem querer saber de nada
até hoje me pergunto
:
foi Eva quem comeu Adão
ou foi Adão quem comeu Eva?
só sei o que o poema traz
mas não sei o que o poema leva
https://fulinaimargem.blogspot.com/
carne proibida
o preço atual
proíbes que me comas
mas pra ti estou de graça
pra ti não tenho preço
sou eu quem me ofereço
a ti: músculo e osso
leva-me à boca
e competa o teu almoço
Artur Gomes
Couro Cru & Carne Viva - 1987
Tragédia Brasileira 3
e não me peçam coerência diante essa existência conturbada vivemos numa selva envenenada por qualquer negócio o agro tóxico é um veneno mas o negócio em desgoverno é só lucrar e não importa que você morra dessa pandemia antes de se aposentar porque a morte é a única forma que eles têm de nos calar
Rúbia Querubim
www.fulinaimargem.blogspot.com
teus olhos
velam mistérios
teus olhos
guardam segredos
um mar de verde/amarelo
azul de um tempo abstrato
branco na íris retina
teus olhos
serpentes da china
assassinos daquela menina
teu veneno enigmático
Artur Fulinaíma
https://arturkabrunco.blogspot.com/
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro ou está por
fora
quem está por fora
não sustenta um olhar que
demora
diante do meu centro este poema me olha
Paulo Leminski
https://www.youtube.com/watch?v=s7Q6uSZBwWw
Tempestade/Temporais
Eu
sou avesso
atravesso
a cidade
com
o que me interessa
as
vezes sou sossego
outras vezes tenho pressa
não procuro o que não quero
me
abstenho no que faço
me abstrato quando posso
me concreto em cada passo
o compasso é argamassa
o absinto quando traço
uma
linha nunca reta
da palavra em descompasso
se sou torto não importa
em
cada porta risco um ponto
pra revelar os meus destroços
no
alfabeto do desterro
nessa cidade eu desabafo
Artur Gomes
Fuliaíma
https://personasarturianas.blogspot.com/
tem gente que me odeia
tem gente que me adora
tem gente que me quer bem
tem gente que me namora
tem gente que me desfaz
tem gente que me deflora
tem gente que é capataz
tem gente que é
senhor
tem gente que é senhora
gente que é gente me importa
gente que é gente me transporta
pra esse tipo de gente
tenho sempre aberta a porta
tem gente que me dilacera
tem gente que me ignora
só amo gente que é gente
assim como
Isadora
Pastor
de Andrade
https://fulinaimicamente.blogspot.com/
grafitemas
e figuralidades
estou escrevendo um mini conto um grafitema umas
figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela
me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos
tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua
cheia vinha vestida de letras como o som
da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro
da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e
ela me perguntou quem eu era
Artur
Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
alvoroças
pelos em mim
sobre águas que bebi
morta
de sede
Rúbia Querubim
foto:
Jorge Pla
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