O que te leva a pensar
O que te leva a pensar
que o teu livro é
necessário
às bibliotecas do mundo?
As antigas
Estão repletas de textos
sem vida.
- Você não é um clássico.
Nas livrarias modernas
há tantas sensabedorias
que ninguém vai te encontrar.
Eis a questão:
sossega teu ego.
O mundo não necessita de
ti.
Tuas palavras
têm a concretude
desnecessária
e solitártia
das pedras do Deserto de
Atacama.
Affonso Romano de Sant`anna
a vida é um
ESCÂNBDALO – Editora Rocco
Rio de Janeiro-RJ – 2017
poética 24
para lucia muniz de sousa
naquela manhã
de sol em ubatuba
lambi o ácido que caiu depois da chuva
cheirei
resíduos da resina em caraguá
e a toxina que entranhou naquela uva
caiu da lágrima que bebi do teu olhar
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Leia mais no blog
https://secretasjuras.blogspot.com
Angra
assim como o pau-brasil
a flor do mangue
também sangra
Rúbia Querubim
https://fulinaimicamente.blogspot.com/
no coração de qualquer flor
você não vai cuspir na minha cara
e mastigar antropofagicamente
depois lhe disse o que sinto
e você me disse o que sente
por quê rasgou o couro do tambor
na hora de morrer?
não quis amar com medo de sofrer
como se o amor fosse apenas uma faca
cravada no coração de qualquer flor
federico baudelaire
https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/
uma noite
minha mãe
puxava-me pela mão
éramos quatro;
eu, ela, o medo e a pressa
disso lembro-me bem
enquanto os três
conversavam
eu pregava os olhos nos olhos tristes das casas e
me dava uma tremenda vontade de perguntar
“mamãe, o que elas têm?”
Reynaldo Bessa
Outros Barulhos
às vezes
o substantivo carece
de mais substantivos
o verbo de verbos
verbos de advérbios
as palavras fazem crescer o
mundo
mas a língua não é a
realidade
nem a arte se assemelha à
natureza
criam outra
realidade que expande a
realidade
(às vezes)
no branco da página
Aricy Curvello
Belo Horizonte-MG –
Infinito
por amor
deixa-se possuir
de bruços
antes do esquecimento
penitência
três... três facadas no
pescoço
estava cansada dela, disse
a mãe
corpo enrolado no edredon
fogo ateado
livrou-se d0 fardo
lavou-se, penteou-se
postou um salmo no feicebuque
Dalila Teles Veras
tempo em fúria
Alpharrabio Edições – 2019
Hoje, quarenta anos da morte de Garrincha. Eis dois poemas do meu livro Domicílio em trânsito, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro,1983, sobre o Garrincha:
garrincha (I)
quando garrincha dribla, fica.
o adversário retém
na memória
a imagem da bola
entre os parênteses
das pernas tortas.
quando garrincha, fica.
o adversário crava
na memória
a imagem da bola
qual uma seta
no retesado arco
das pernas tortas.
quando garrincha dribla, fica
o adversário
pra contar a história
de uma camisa
cujo sete às costas
conduzia a bola
qual uma seta
no retesado arco
das pernas tortas.
garrincha (II)
se não driblas, o alambrado
é a tela de um viveiro
onde te fazes prisioneiro.
se driblas, és um mágico
a liberar os muitos pássaros
do teu nome
enquanto os cartolas dão tratos à
bola
e te fintam fora do gramado.
hoje, onde o pássaro que foste?
no ar entre aéreo e sonado
com que desfilas as tuas penas
na alegoria de um carro?
Sergio de Castro Pinto
À noite, o frio espreita o delírio sonolento.
Durante a manhã
o sol interrompe o seu sonho.
Entre as folhagens de uma velha árvore
há pássaros que rompem o equilíbrio
matinal.
A vida explode na engrenagem do tempo!
Dudu Galisa
Teresina-PI
dilatados
desalinhos noturnos
" Contra tudo que não for
loucura ou poesia "
Jorge
de Lima
aos
ígneos desígnios
colapsos afetivos
celeumas insólitas
orgasmos inglórios
às
flores flácidas
de um janeiro - cansaço
( cachos de uvas murchas
coxas de Evas mortas )
ao
vasto vazio
das planícies desamparadas
( televisores despertos
silêncio aberto )
do esperma derramado
( lágrima coagulada )
aos
indícios oníricos
das felizes expansões azuladas
( febricitantes excitações
lunares )
do lascivo vermelho aurora
das cremosas extensões
eróticas
( espaços líquidos
cidades íntimas )
:
uma fábrica
de fome
instalada
na língua
um poema
enterrado
na noite
tua vida inteira
contida numa rima
teu mel interno
sangrando
ao Sol
garbo gomes
imagem: Velho guitarrista
Pablo Picasso - ( 1903 )ESPELHO SEM AÇO
Trago uma dor na garganta
quisera fosse apenas a consequência
de uma asma mal curada
ou de qualquer coisa no pulmão
talvez uma outra provocada pela gula
de engolir um pedaço de carne
sem ter devidamente o mastigado
mas é muito pior
porque a dor que trago na garganta
e algo muito maior que eu
e que apesar de passar pelo meu corpo
não é dele que se trata
a dor que atravessa minha garganta
é muito mais que a parte do pescoço
que antecede a coluna vertebral
vai além da faringe e da laringe
e nem tem a ver com a epiglote
separando o esôfago da traqueia
a dor que me dói na garganta
é o espírito querendo dizer
daquilo que as palavras já não dão conta
a dor que dói na garganta
é o grito engasgado
diante da consciência
de viver numa sociedade
asfixiada pelo subjetivo
nega-se a sim mesma
e anula sua imagem no espelho
embotando o sonho
onde se faz impossível
reconhecer a alteridade
e colocar a ideia de mundo
em questão
Wilson Coêlho
Nenhum comentário:
Postar um comentário