estranhamente
deixo-lhe:
acesa a luz da sala
para que não estranhes.
como também
a da sala de jantar
e mesa posta para o lanche.
no banheiro:
pijama e chinelos
e toalha predileta,
para que nada se perca
no ritual noturno.
jornais e contas
de luz e da farmácia
na sala de tv.
espero que chegues a tempo
de assistir o último
seriado.
deixei sapatos na área
para que de manhã
alguém os engraxe.
não esqueça
de desligar a televisão,
caso durmas na sala.
caso contrário,
vais encontrar o quarto
não como de costume:
a luz vai estar acesa,
travesseiros e cobertor
na terceira gaveta do
armário
e alguns livros fora do
lugar.
mas duas coisas hão de
estar normais:
o relógio preparado para às
seis
e essa coisa,
estranhamente normal,
sobre a cômoda :
deixo-lhe.
Antônio Roberto de Gois Cavalcanti (Kapi) Ato 5 – Coletânea – Grupo Uni-Verso –
Campos dos Goytacazes-RJ – 1979
OLHAR YANOMÂMI
o yanomâmi traz consigo
em seu olhar de ser digno
o mistério da verde relva
no vento um vivo da selva
um yanomâmi tem o foco
fixo não perdido, é luz
transvestida de fluxo e paz
te olha rindo: sabe o que faz
o yanomâmi um ser divino
humano em desenhos gráficos
de corpo alma rios matas
andarilhos de pés descalços
o que ofende no yanomâmi
é seu olhar doce de frieza
nada a dar e tudo imaginar
nem tão feliz nem vã tristeza
faróis de uma floresta densa
brilham olhos luminares
yanomâmis não são lendas
são irmãos...familiares
há algo de muito espúrio
na invasão garimpeira
contaminação de mercúrio
contrabando de madeira
como é possível um povo
tão integrado à selva e belo
viver no desassossego de
mortes fomes flagelos
defendo-os com minha flecha
força do punho em negra tinta
nos acordes do meu instrumento
canto o grito: yanomâmi é vida
Luis
Turiba
Rio de Janeiro - RJ
Yanomami
Para Sapaim e Américo Peret
Quando vieram os filhos
do mênstruo
com suas línguas de pólvora,
quando vieram as ordas
rudes,
chama Tupã
chama Xamã
Quando vier a luz sangrenta,
quando vierem os deuses homicidas
com sua sede de pedras,
chama Tupã
chama Xamã
Quando os lugares sagrados
forem tocados a noite virá!
Virá como o hálito da manhã
pois estarei me pondo
fraco;
a noite vira como vento
pois estarei morrendo:
quando o rio grifar
na terra ácida
sua legenda de sangue.
Ó vento que alinha o destino
ó rito que fala os ancestres!
chama Tupã
chama Xamã.
Salgado Maranhão
Sol Sanguíneo – 2002
Ainda que seja tarde
eu quero
como um quero quero
esse campo límpido
esse mar de água e sal
para o meu corpo olímpico
Rúbia
Querubim
https://arturkabrunco.blogspot.com/
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