quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Marcelo Perez - Poesia

 

 Me Arrebenta Por Dentro

Quando Penso

 escrevo

escrevo

escrevo

quando sinto o grito explodindo

imediatamente

o pensamento peçonhento

me envenena as ideias mais virgens

e no sofá me sufoca

me cala

tento me esquivar do impacto

rumo sentido figurado

mas o amedrontado lado

o mais descrente dos meus lados

se assume em desequilibrado fracasso

sou o cara enfurnado na escrita do Caos

por que tenho a persistência suicida de um mosquito?

queria tanto explodir essa bomba

maldito tic-tac

me arrebenta por dentro quando penso!

 

Sobre as horas

 Inquieto acompanho escravo

E enquanto passo

A cada passo me desfaço

 

Processo

 vai poeta

enfia a cabeça na falha da palavra

desafoga a imensa inquietação

que te azucrina há dias

esse rasga e rabisca exorciza

cospe esta hóstia

que tanto amarga e robotiza

descobre o poema e seus dramas

desiste de camuflar em pseudoverso

o berro

você sabe...

é tudo agonia,

vai assumir,

Poesia!

 

Erro poético

Rosa-se quintal.


Sem Pretensão

 desenho livre

como se livre fosse

mas insisto

que livre seria

se estes traços

até serem traços

parassem de vez

de me perturbar

dia após dia

como as palavras

sem sentido

que me invadem

os ouvidos

pra gritar poesia?

muda-se a roupa

abre-se uma fresta

respiro

mas é sempre te[n]são...

 

Maquiavélico

 enquanto cega

a horda em ordem

ordenha e morde

maquiavelicamente

em sua rotina

fico horrorizado

com sinceros desejos

de antigos golpes

nas costas

nas costas

nas costas

como se estivessem

colhendo flores

em belo jardim

 

Feito música

 dentro de mim

você sou assim

 

Sobre os dias

 faz tempo

que deixei de sofrer pelas madrugadas

a dor agora é diária

ininterrupta sem hora marcada


Fervendo aqui dentro

há ideias que me rompem...

como fios desgovernados

buscam rápida conexão,

fico exposto ao bagaço...

e por mais que o rasgo pareça inevitável

nem sei ao certo precisar o tempo

que esse pré-rompimento

se encontra fervendo aqui dentro

 

Hipertenso

 rápido tempo

hipertenso penso

a quem eu pertenço

tão ágil sinto

quando penso em tempo

entendo

que meu cérebro

frágil compartimento

de compartilhamento intenso

não suporta mais o intento:

tento ou não tento?

e se não experimento a tempo

aquela voz sem face

me bagunça por dentro:

até quando vai suportar o não invento?

 

Poemas perfeitos

 Poemas inteiros

em tiros perfeitos

são feitos

sem a menor possibilidade

de explicá-los direito.

E os outros,

não dão nenhuma explicação.

 

Sobre as noites

vou dormir

não consigo encontrar mais sentido

entre o ir e o vir

 

Despedida

Cabia tudo na palavra não dita


Em lágrimas

E a pergunta continua...

Por que insisto?

Escorrego em lágrimas

feito feto que se esvai em cores,

feito farsa que separa as dores,

feito força que se faz e.

Foi-se!

Agora,

com a faca cravada

nas costas

nada mais importa.

Nem lástimas,

nem fotos,

nem alívios.

Quanto mais me lembro...

Não acredito!

E por que ainda insisto?

Isso é tudo o que me apavora.

 

Miolo mole

 

poema

duro

pedra

rima

bate

trans

figura

cura

sua

alma

fúria

fura

 

Marcelo Perez

 

MARCELO PEREZ Marcelo Perez escreve desde o primeiro rabisco. Natural do Rio de Janeiro, morador de Campos dos Goytacazes, é mestrando em Letras, licenciando em Teatro, graduado em Letras/Literatura, especialista em Metodologia do Ensino de Artes e ator formado pela CAL; publicou os livros de poemas “Ainda Se Estivesse Faltando Pedaços” (2015) e “Tentou Poesia?” (2020); os livros de contos “O Desgaste Do Tempo Nos Dentes” (2017) e “Entre Tribos e Atritos” (2019); os textos teatrais “Garganta Irada” (2021-inédito); e “Apenas um Blues e uma Parede Pichada” (2008-encenado em 2011 e publicado em 2022 na Coletânea Peças Teatrais em Roraima); para o teatro de rua, escreveu e encenou os textos “Por Que a Gente é Assim?” (2005); “Quem Disse Que a Decisão Deve Ser Dele?” (2006); “Absurdópolis, Que Nos Perdoe Aristófanes” (2009-coautor com Graziela Camilo); adaptou e encenou as obras “O Pastelão e a Torta” (2005); “A Farsa do Advogado Pathelin” (2006- coautor com Graziela Camilo); “A Retrete ou a Latrina” (2007); “A Farsa do Advogado Silva e Santos” (2010-coautor com Graziela Camilo); é artista plástico; e desde 2012 é organizador, editor, diagramador, designer e distribuidor do Fanzine Literário “Receita no Verso”.

 

Contato:

(22) 99860-7799

marceloperezmaciel@gmail.com 


Um comentário:

  1. As suas poesias e seus quadros são excelentes. Parabéns pelo profissional que é!👏

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