segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

não há vagas

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.

Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Ferreira Gullar



Um instante

Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas
um bicho
transparente.

Ferreira Gullar 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

                                                    Artur Gomes   vampiro goytacá canibal tupiniquim   *             poesia muit...