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ó terra incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus comandantes só me enterro à fundo nos teus vagabundos com um prazer de fera e um punhal diamante
minha terra é de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta
teu corpo é carne de manga
em meu pênis viril
enquanto sangra
quando beijo tua boca
enfurecido
rasgando por trás
o teu vestido
COR DA PELE
África sou: raíz e raça
orgia pagã na pele do poema
couro em chagas que me sangra
alma satã na carne de Ipanema
o negro na pele
é só pirraça
de branco
na cara do sistema
no fundo é amor
que dou de graça
dou mais do que moça
no cinema
o preço atual
proíbe
que me coma
mas pra ti
estou de graça
pra ti
não tenho preço
sou eu
quem me ofereço
a ti
:
músculo e osso
leva-me à boca
e completa teu almoço
PROFISSÃO
meu ofício é de poeta
pra rimar poema e blusa
e ficar em sua pele
pelo tempo em que me usa
FRUTAS
no vermelho dos morangos
marrom dos sapotis
na pele das romãs
carne das goiabas
polpa das amoras
licor das melancias
e tropical abacaxi
no gosto que elas têm de beijo
e jeito que elas têm de sexo
penetro os dentes mordendo
chupando dragando em ti
a terra das frutas na boca
arando o vale das coxas
com o caule da minha espada
eu planto a língua molhada
PRIMEIRO AMOR
montado no sol a pino
no pasto do céu em chamas
eu cavaleiro menino
enlouqueci na sua cama
VOO SELVAGEM
I
correndo nos cavalos
cresceu
meu coração de égua
enxertado
em ilusões de águias
II
meu coração galopa
pelo campo afora
no dorso dos poemas
na pele das esporas
III
diante da cerca
estão os bois
saciando o sexo:
corpos sob o sol
selvagens & parceiros
guiados pelo odor
amando pelo cheiro
IV
no pasto
o encontro boca a boca
a égua abriu-se toda
para que nela
entrasse
bastasse ver
o seu pulsar
e gozo
para que o alazão também
entre o capim
gozasse
V
com espada em riste
galopamos pradarias
e lutamos ferozmente
por dois segundos e meio
tua fúria era louca
e agarrei-me em tua crinas
para não cair da cama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer
CORAÇÃO CIVIL
meu coração vadio
quando está no cio
faz comício
em seu quintal
vai pro bar e bebe o rio
e canta um hino nacional
TEMPERO
é preciso socar certas palavras
com sal pimenta & alho
para dar o gosto
o ardido
que se traz na boca
é tempero mal cuidado
é preciso cortar o mofo
das ações de certas palavras
para quando for poema
ter ação presente
penetrar a carne
e ter sabor de gente
meu poema
se completa
em seu vestido
roçando sua carne
no algodão tecido
EXERCÍCIO
com um dedo
abro
a tua boca vagina
com dois
aperto
o bico do teu seio
e
ultra passo
a porta do teu meio
TERRA
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca
no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio
o que me dói
é ter-te
devorada por tantos olhos
e deter impulsos por fidelidade
POESIA
I
chegas a mim
como uma égua assanhada
não quer saber do meu carinho
só quer saber de ser trepada
II
eu te penetro
em nome do pai
do filho
do espírito santo
amém
não te prometo
em nome de ninguém
boca do inferno
por mais que te amar
seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver que me matar que seja
e ser eu tiver que te matar que morra
em cada beijo que te der amando
só vale o gozo quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
Artur Gomes
Do livro Suor & Cio – MVPB Edições – 1985
Musicado e gravado por Luiz Ribeiro no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – Fulinaíma Produções – 2000
O CORPO DA POESIA
para Artur Gomes
I
Seu semântico
sêmen
quântico
seu semeio
sêmen
esteio.
nos aceiros
assim e
pinci
pau
mente
assados.
nas moendas
assim
e parti
cu
lar
mente
assadas.
II
seu pênis poético
(caneta tinteiro
lápis grafite)
é tênis
atlético
a cada passada
por toda calçada
por todos os Campos
&
campus.
seu gozo é pôr
prazer.
III
E se a terra é escrava
a mulher é companheira
e se todas duas suam,
gemem, sabem
da rija verga da cana,
só você pode fazer
com cada uma
uma mágica
e tê-las como fecundas,
frutas, fibras, forças, fadas
e não só vê-las (solvê-las) absurdas,
frias, frágeis, soturnas, apáticas.
IV
É que o corpo da poesia
tem em si suor & cio
tem assim toque macio
e braveza de enxurrada.
Marco Valença
Itapuã – Salvador – Bahia
05 setembro – 1985
Suor & Cio – Artur Gomes
A cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.
É o livro de Artur Gomes:
Suor & Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.
Artur tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes, gostaríamos de gritar com todas as forças.
Poeta de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia brasileira.
Hugo Pontes
Poços de Caldas-MG – 17 junho 1987
Obs. Os poemas tecidos sobre a pele e carne proibida estão publicados na antologia Carne Viva. Org. por Olga Savary, prmeira antologia de poesia erótica publicda no Brasil.
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