Só carrego no meu peito
Tudo aquilo que amo
Artur
Gomes
https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/
"O artista não tem pátria, porque não tem fronteiras. Escrevam isso
na alma: os seres e as coisas não são propriedade de ninguém - ninguém!!!"
Cláudio Leal Cacau
Andri Carvão - do livro Um
Sol Para Cada Montanha (Chiado Books)
não me conhecerão pelo corpo
pelo tom da minha pele
sarro de mil cigarros
cabide de roupa velha
lume de querosene
inseto de lamparina
não me conhecerão
pelas malas
lonjura dos amarelos
no meu vestido antigo
puído, descosturado
na falta de etiqueta
luneta cuspindo tédio
plaquetas sujando o sangue
dos dias atropelados
estou no fundo dos ossos
do vento tempestuoso
no passo torto das águas
que furam pedras limosas
e atravessam lanternas
nos líquidos olhos dos lobos
Wanessa
Monteiro de Barros
Meteoro - Revista n.1 2019
Corsário Satã - Editora
revista.meteoro@gmail.com
https://www.facebook.com/corsariosata/
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Oswald de Andrade
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de
Barros
BERMUDA LARGA
muitos lutam por uma causa justa
eu prefiro uma bermuda larga
só quero o que não me encha o saco
luto pelas pedras fora do sapato
In: CHACAL.
Comício de tudo: poesia e prosa. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.179. (Cantadas
literárias, 48
SPOILER
Lembro que você me contou
uma história incrível.
Embora não lembre a história,
sou capaz de soletrar,
inclusive, a brisa que,
por um microssegundo,
inflou a cortina da sala.
(Um pedacinho de uma tarde
dentre as trilhões de tardes
que existiram naquela tarde.)
Lembro as pausas,
a música dos seus braços,
o cabelo tirado do rosto
no momento exat(Um bombom de ternura
com licor de naufrágio.)
MARCELO MONTENEGRO
(São Caetano do Sul,
Vladimir, vamos mal
Não temos um Maiakovski para entoar
'Que removam as mãos do teclado
E peguem pau, pedra, faca ou bomba';
Nossa testa dá com o monitor —
Da tevê, do computador, do telefone —,
Dá com a parede ou o muro
Sem luta;
Seria melhor se todos puséssemos
Uma bala na cabeça como ponto final.
Rodrigo Novaes de Almeida
Feitiço lunar
A menina dorme
enfeitiçada pelo sonho
Alegremente galopa
no cavalo alado
longe do agouro do vento
A noite de estrelas cadentes
fere o sossego
com seu brilho
Nesta noite
saltita
entre macieiras floridas e
o perfume da relva
Um lençol de conchas
povoa
o leito aquático
onde a menina dorme
Nada além
da semente colorida
flutua
entre os cabelos da menina
cobertos de algas e luar
Marcia Barroca
do livro Desembrulhando o tempo
na chama rubra do esrotismo celta
Parthenon Centro de Arte e Cultura - 2018
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