quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Mostra Visual De Poesia Brasileira - Poesia Em Movimento

 




Só carrego no meu peito

Tudo aquilo que amo

 

Artur Gomes

https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/


Regina Pouchain - poema visual


"O artista não tem pátria, porque não tem fronteiras. Escrevam isso na alma: os seres e as coisas não são propriedade de ninguém - ninguém!!!"

Cláudio Leal Cacau


Andri Carvão - do livro Um Sol Para Cada Montanha (Chiado Books)



não me conhecerão pelo corpo
pelo tom da minha pele
sarro de mil cigarros
cabide de roupa velha
lume de querosene
inseto de lamparina
não me conhecerão
pelas malas
lonjura dos amarelos
no meu vestido antigo
puído, descosturado
na falta de etiqueta
luneta cuspindo tédio
plaquetas sujando o sangue
dos dias atropelados
estou no fundo dos ossos
do vento tempestuoso
no passo torto das águas
que furam pedras limosas
e atravessam lanternas
nos líquidos olhos dos lobos

Wanessa Monteiro de Barros
Meteoro - Revista n.1 2019
Corsário Satã - Editora
revista.meteoro@gmail.com
https://www.facebook.com/corsariosata/



magia

tão pequenino o ipê
tão carregado de sonhos
de responsabilidades
que levar flores ao colo
cuidar do tom da beleza
com tempo seco
é milagre

* líria porto



Vício na fala


Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

Oswald de Andrade


O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Manoel de Barros 



BERMUDA LARGA

muitos lutam por uma causa justa
eu prefiro uma bermuda larga
só quero o que não me encha o saco
luto pelas pedras fora do sapato

In: CHACAL. Comício de tudo: poesia e prosa. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.179. (Cantadas literárias, 48



SPOILER

Lembro que você me contou
uma história incrível.
Embora não lembre a história,
sou capaz de soletrar,
inclusive, a brisa que,
por um microssegundo,
inflou a cortina da sala.

(Um pedacinho de uma tarde
dentre as trilhões de tardes
que existiram naquela tarde.)

Lembro as pausas,
a música dos seus braços,
o cabelo tirado do rosto
no momento exat(Um bombom de ternura
com licor de naufrágio.)


MARCELO MONTENEGRO 

(São Caetano do Sul,


Vladimir, vamos mal


Não temos um Maiakovski para entoar
'Que removam as mãos do teclado
E peguem pau, pedra, faca ou bomba';

Nossa testa dá com o monitor —
Da tevê, do computador, do telefone —,
Dá com a parede ou o muro

Sem luta;
Seria melhor se todos puséssemos
Uma bala na cabeça como ponto final.

Rodrigo Novaes de Almeida



Feitiço lunar

A menina dorme
enfeitiçada pelo sonho

Alegremente galopa
no cavalo alado
longe do agouro do vento

A noite de estrelas cadentes
fere o sossego
com seu brilho

Nesta noite
saltita
entre macieiras floridas e
o perfume da relva

Um lençol de conchas
povoa
o leito aquático
onde a menina dorme

Nada além
da semente colorida
flutua
entre os cabelos da menina
cobertos de algas e luar

Marcia Barroca
do livro Desembrulhando o tempo
na chama rubra do esrotismo celta
Parthenon Centro de Arte e Cultura - 2018



CÍCLICA

O que acaba aqui
alguma coisa começa
em algum lugar

O fim não cessa
de inventar começos
e tudo é inescapável
ao tempo que não finda

O que começa aqui
alguma coisa acaba
em algum lugar

O começo não cessa
de inventar fins
e tudo é inescapável
ao tempo que não começa 

                                                   

Dudu Galisa


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