poesia suja e cruel desses dias de verão
a música que aumenta a audiência do programa de televisão no sábado à noite não fala do homem trans assassinado na porta da boate. não diz nada a respeito das crianças pobres e famintas largadas no meio da rua. nem denuncia o genocídio categoricamente planejado dos povos indígenas yanomami.
não fala não diz nada a respeito
nem denuncia.
a música que toca no rádio portátil do moço na beira da praia não diz nada a respeito dos corpos seputados em valas clandestinas. não denuncia os ignominiosos machos que mantém suas reféns tensas e aflitas sob a mira de absurdos sentimentos. nem fala dos vergonhosos mapas da fome que territorializam a morte por inanição.
não diz nada a respeito não
denuncia nem fala.
a música que sai das cornetas estacionadas perto do cruzamento entre o bar e a igreja presbiteriana não denuncia o extermínio do povo preto de todas as periferias. não fala do exorbitante preço do gás de cozinha. nem diz nada a respeito da professora assassinada à facadas pelo ex-aluno dentro da sua própria casa no meio da noite.
não denuncia não fala nem
diz nada a respeito.
a música que empobrece o rebolado das meninas no frenesi da boca não fala dos tribunais do tráfico instalados nos morros cariocas. não diz nada a respeito da devastação criminosa dos nossos biomas. nem denuncia os corpos soterrados pela lama devido ao descaso dos últimos governantes deste país de merda.
não fala não diz nada a respeito
nem denuncia.
parece até que o comprimento de ondas das antenas de tv não captam as dores humanas. parece até que os decibéis emitidos pelos aparelhos portáteis são insuficientes para anunciar a pungência dos dramas alheios. parece até que o som estrondante das cornetas só reproduzem o que superficialmente chamam de alegria.
parece até que... parece até
que... parece até que...
parece até que ninguém some que
ninguém morre que ninguém é exterminado por essas favelas afora na agitação da
noite mais sangrenta entre o espalhamento de bundas álcool pó e fumaça. parece
até que todos estão surdos para as coisas do mundo que vibram dentro desse
peito contemporâneo cheio de remendos e suturas de onde vazam palavras tortas
sem adjetivo algum que as dignifiquem.
até que todos...
Joilson Bessa
Parque Aurora e Alphaville, 19 a 25
de janeiro de 2023.
a musa
da rua formosa
nem tudo ou nada
me leva para o outro lado
quando não quero
quero quero
carne de tapioca
farinha de mandioca
temperada com azeite
sal pimenta
nada discreta
tecida de carioca
no morro de Ibitioca
minha sede não aguenta
essa cerveja campista
nem fiado nem a vista
nem sua fórmula secreta
tem musa que não entende
a linguagem de um poeta
Artur
Gomes
https://fulinaimagens.blogspot.com/
ontem não fui nem vim
fiquei sem onda magnética
feito folha seca no chão sem vento
Itabapoana Pedra Pássaro Poema
https://porradalirica.blogspot.com/
Juras secreta 62
tenho estado
entre o fio e a navalha
perigosamente – no limite
pulando
a cerca da fronteira
entre o teu estado de sítio
e o meu estado de surto
só curto a palavra viva
odeio uma língua morta
poema que presta é linguagem
pratico a SagaraNAgem
na esquina da rua torta
Artur Gomes
Juras Secretas
Edititora Penalux – 2018
https://secretasjuras.blogspot.com/
jura secreta 129
poema do livro SagaraNAgens
Fulinaímicas
a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala
a rua onde trafego é amplo
atalho pra o submundo
o poço onde mergulho é fundo
vai da pele que me cobre a carne
ao nervo mais íntimo do osso
Artur Gomes
https://www.facebook.com/groups/155521691464333/?fref=ts
passo a passo
passo
carros, árvores
passo
passos apressados
passo
jornais, revistas
passo
manifestantes
passo
tela de TV
passo
glórias antigas
passo
passo errado
passo
autoridades
passo
passo em falso
passo
amigos do rei
passo
passo extremo
passo
gente armada
passo
passo errado
passo
passam mentiras
passo
ódio e raiva
passo
passo a passo
passo
carros, árvores
passo
pássaros voam
César
Augusto de Carvalho
nos currais dos mares salgados
Federico pensou Iracema
com seus grandes vestidos folgados
como a grande ninfeta Iolanda
trajada em vestes de penas
nos bailes do império em Luanda
nas barras da saia da fama
ele então grafitou grumixama
palavra que ouviu numa cena
na língua da formosa dama
no teatro da rua ipanema
nos bordeís de copacabana
os cogumelos de Santa Cecília
nas barras incandescentes da cama
pornofônicas palavras fonemas
pitanga urucum colorau açucena
com os caldos da salsaparrilha
qualquer grande orgia é pequena
Artur Gomes Fulinaíma
abstração
com minha ingenuidade
de poeta & poesia
tateio palavras
como tateio sentimentos
& nuvens
& confesso:
não tenho
pés no chão
sou ser de asas & vôos
sou ser de nuvens
& acrescento:
meu desejo mesmo
é ser paisagem
& acredito:
só é real
o que a poesia toca
josafá Santana
Brasília-DF
O ascendente mais remoto
de que se tem notícia
jamais se pautou pela lógica.
Sabe-se que se dizia tataraneto
de Dante Alighieri
e avô de Vasco da Gama.
Acreditava que o tempo é circular
e pode se movimentar para frente ou
para trás ao seu bel prazer.
Jurava ter lutado na derrocada de
Troia,
tripulado uma das naves de Colombo
e massacrado 32 espanhóis na Noite de
São Bartolomeu.
Consta que foi condenado à morte
pelos tribunais da Santa Inquisição,
não por suas ideias, nem por seus
feitos,
que, afinal, não ameaçavam ninguém,
mas pelo valiosíssimo rebanho de
formigas
que possuía nas Ilhas Canárias.
Morreu queimado em 1583,
porém, foi visto entre os templários otomanos
que expulsaram os turcos de
Constantinopla.
Ademir Assunção
*****
Poema do livro
Um nome escrito no vento
Grafatório (2021)
Panelaço de Domingo
não sou demo tucana
nem assembléia universal
não sou coxinha paulistana
meu ministério é carnaval
não sou mineira das Neves
nem paulista D´Alkimim
não sou a filha da santa
sou a mulher do Serafim
as flores de Baudelaire
podem ser flores do mal
não sou santa sou mulher
posso ser vento e vendaval
na veia tenho nordeste
não sou do norte nem do sul
brasileiríssima da peste
sou cascavel surucucu
muito antes das Diretas
botei o bloco na rua
hoje sou torta em linha reta
nasci de bunda prá lua
Gigi da Bateria -
Rainha da Mocidade Independente de
Padre Olivácio - A Escola de Samba
Oculta no Inconsciente Coletivo
tem dias que a gente se sente
me sinto agora
só e bem acompanhado
meu lado de dentro
olhando meu lado de fora
Artur Fulinaíma
https://arturkabrunco.blogspot.com/
Trova Indecorosa
eu sou a carne que você não come
a faca que você não usa
a pele que você não toca
a placa que você recusa
eu sou o que não tem nome
na cabeça da medusa
e vou matar a tua fome
e vou rasgar a tua blusa
Federico Baudelaire
https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/
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