Traduzir-se
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
CAUSA
MORTIS [favela embalada] (2 versões) Ziul
Serip
engraçado tivemos um caso
de verão a todo vapor
me lembro de Gal Fatal
e ele nunca me escreveu
um poema de amor
nem mesmo o carnaval
que passamos em Guarapari
o inspirou
a cama o mar a praia
o sol as tardes de chuva
me sinto assim uma viúva
e ele nem morreu ainda
será que não sou linda?
será que o amor infinda
e desce a lugar bem fundo
que fica impossível de
tocar?
Rúbia Querubim
https://www.facebook.com/rubiaquerubim
O autorretrato
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
Mario Quintana
[Apontamentos de História Sobrenatural
O primeiro Festival Cine Vídeo de Poesia Falada, foi realizado de dezembro de 2020 a dezembro de 2021 de forma virtual na página Studio Fulinaíma Produção Audiovisual - e em 2021 fiz a curadoria para a Mostra Cine e Vídeo de Poesia Falada, que foi realizada também de forma virtual, pelo SESC Piracicaba-SP.
Pois bem, agora em 2023 pretendemos realizar o IIº Festival Cine Vídeo de Poesia Falada, de forma presencial em Campos dos Goytacazes-RJ, com participação aberta a todos os poetas, atores, produtores que produzem vídeos com Poesia Falada.
O envio dos vídeos pode ser feito
através de links onde os vídeos estiverem hospedados, para o e-mail
fulinaima@gmail.com e as exibições começarão a partir de março em local que
anunciaremos em breve.
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
fulinaima@gmail.com
22 - 99815-1268 – whatsapp
https://www.youtube.com/watch?v=pgTb50baXuM
No Poema O Que Ficou?
De Artur Gomes na interpretação de Antônio Cunha
https://www.youtube.com/watch?v=i1nSdnV73KE
6
outubro - 2022
a mulher dos sonhos
voltou ontem
sedenta faminta insaciável
esgotou-me
à última gota
mesmo vazio
me senti um tanto cheio
nem foi delírio loucura
porque vi no meu e-mail
o nome da criatura
Artur
Gomes
https://fulinaimagens.blogspot.com/
fulinaíma sax blues poesia
ela era Bruna
em noite de blues rasgado
soltou a voz feito Joplin
num canto desesperado
por ser primeiro de abril
aquele dia marcado
a voz rasgou a garganta
da santa loucura santa
com tanta força no canto
que até hoje me lembro
daquela musa na sala
com tua boca do inferno
beijando meus dentes na fala
Artur Gomes
Pátria A(r)mada
2ª Edição – Desconcertos Editora -
2022
https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/
Bruna não fosse santa nem casta
se nasceste em outra casa
filha da mãe ou madrasta
ardente assim fogo em
brasa
vulcão no portal das asas
nem me importa saber do primeiro
na boca de entrada do prazer carnal
de todos os carnavais em fevereiro
Federico
Baudelaire
https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/
1963
Quando a menina que eu fui
desceu ao mundo
tomou-se toda de espantos.
Hoje, ainda não sabe dizer
se os espantos eram por conta
da vida limitada dentro de um corpo,
onde a alma, as asas, os sonhos
debatiam-se inquietos
à procura da porta de saída,
ou se os sustos se acumulavam,
pedra sobre pedra,
diante das circunstâncias
nem sempre serenas de um mundo em desalinho.
60 anos depois,
ainda pesada dos espantos,
das pedras (e perdas),
a menina que eu fui se aquietou:
embora ainda tenha vontade de catar estrelas
e subir aos céus na leveza das asas,
os sonhos prediletos
viraram palavras
- e a menina que eu fui
já não se espanta
já não se agita
apenas escuta
o silêncio tocando as arestas
de uma porta entreaberta -
Nic Cardeal
05.01.2023
MAGMA
Caminhas armada
com as rochas de magma
que carregas no bolso
— vestígios de eras
que não sucumbem
à erosão
Desprezas os mestres
que incansável procuras
mas cegamente obedeces
às pedras que atiras
na cruz
E se acaso o destino
revela-te um caminho
sem nuvens
no chão à frente tu lanças
os cristais impenetráveis
da tua infância
Bernardo Caldeira
LENÇÓIS DE RENDA
poderia abrir teu corpo
com os meus dentes
rasgar panos e sedas
com as unhas
arreganhar as tuas fendas
desatar todos os nós
da tua cama arrancar os cobertores
rasgando as rendas dos lençóis
perpetuar a ferro e fogo
minhas marcas no teu útero
meus desejos imorais
maldizendo a hora soberana
com a força sobre humana dos mortais
quando vens me oferecer migalha e
fruto
como quem dá de comer aos animais
Artur Gomes
Pátria A(r )mada
2ª Edição
Desconcertos Editora – 2022
https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/
lumiar
ah este sol da minha vida
a lua cúmplice e tardia
mistério que instiga
vezes mendigo em êxtase
outras príncipe caído
mas há tênue luz que cria
num mundo sem sentido
e me faz imenso e breve
até de mãos vazias
Hamilton Faria
das lavras ordenadas*
ando bêbada de tanto quereres
rasgo no dente possíveis arco-íris
tenho fome de cores
construo canteiros na porta de casa
pródiga de sementes
espalho-me desordenada
antevejo perfumes de flores
nos incensários
todos os meus santos são de barro
cuido com o andor
não pretendo sofismar amores desconstruídos
:
além das flores
tenho palavras para lavrar
Ivy Menon
*O face me lembrou. De 2021
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