domingo, 8 de janeiro de 2023

Mostra Visual de Poesia Brasileira - Poesia Em Movimento



Traduzir-se

 

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

 

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

 

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

 

Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.

 

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

 

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

 

Traduzir-se uma parte

na outra parte

- que é uma questão

de vida ou morte -

será arte?

 

Ferreira Gullar




CAUSA MORTIS [favela embalada] (2 versões) Ziul Serip

 CAUSA MORTIS [favela embalada] (2 versões) Ziul Serip


engraçado tivemos um caso

de verão a todo vapor

me lembro de Gal Fatal

e ele nunca me escreveu

um poema de amor

nem mesmo o carnaval

que passamos em Guarapari

o inspirou

a cama o mar a praia

o sol as tardes de chuva

me sinto assim uma viúva

e  ele nem morreu ainda

será que não sou linda?

será que o amor infinda

e desce a lugar bem fundo

que fica impossível de tocar?

 

Rúbia Querubim

https://www.facebook.com/rubiaquerubim


O autorretrato


No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

Mario Quintana

[Apontamentos de História Sobrenatural



IIº Festival Cine Vídeo De Poesia

O primeiro Festival Cine Vídeo de Poesia Falada, foi realizado de dezembro de 2020 a dezembro de 2021 de forma virtual na página Studio Fulinaíma Produção Audiovisual - e em 2021 fiz a curadoria para a Mostra Cine e Vídeo de Poesia Falada, que foi realizada também de forma virtual, pelo SESC Piracicaba-SP.

Pois bem, agora em 2023 pretendemos realizar o IIº Festival Cine Vídeo de Poesia Falada, de forma presencial em Campos dos Goytacazes-RJ, com participação aberta a todos os poetas, atores, produtores que produzem vídeos com Poesia Falada. 

O envio dos vídeos pode ser feito através de links onde os vídeos estiverem hospedados, para o e-mail fulinaima@gmail.com e as exibições começarão a partir de março em local que anunciaremos em breve.

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

fulinaima@gmail.com

22 - 99815-1268 – whatsapp

https://www.youtube.com/watch?v=pgTb50baXuM

 No Poema O Que Ficou?

De Artur Gomes na interpretação de Antônio Cunha

https://www.youtube.com/watch?v=i1nSdnV73KE



6 outubro - 2022

 

a mulher dos sonhos

voltou ontem

sedenta faminta insaciável

esgotou-me

à última gota

 

mesmo vazio

me senti um tanto cheio

nem foi delírio loucura

porque vi no meu e-mail

o nome da criatura

 

Artur Gomes

https://fulinaimagens.blogspot.com/



fulinaíma sax blues poesia

 

ela era Bruna

em noite de blues rasgado

soltou a voz feito Joplin

num canto desesperado

por ser primeiro de abril

aquele dia marcado

a voz rasgou a garganta

da santa loucura santa

com tanta força no canto

que até hoje me lembro

daquela musa na sala

com tua boca do inferno

beijando meus dentes na fala

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada

2ª Edição – Desconcertos Editora - 2022

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/

 

 Bruna não fosse santa nem  casta

se nasceste em outra casa

filha da mãe ou madrasta

 ardente assim fogo em brasa

vulcão no portal das asas

nem me importa saber do primeiro

na boca de entrada do prazer carnal

de todos os carnavais em fevereiro

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/



1963


Quando a menina que eu fui
desceu ao mundo
tomou-se toda de espantos.

Hoje, ainda não sabe dizer
se os espantos eram por conta
da vida limitada dentro de um corpo,
onde a alma, as asas, os sonhos
debatiam-se inquietos
à procura da porta de saída,
ou se os sustos se acumulavam,
pedra sobre pedra,
diante das circunstâncias
nem sempre serenas de um mundo em desalinho.

60 anos depois,
ainda pesada dos espantos,
das pedras (e perdas),
a menina que eu fui se aquietou:
embora ainda tenha vontade de catar estrelas
e subir aos céus na leveza das asas,
os sonhos prediletos
viraram palavras
- e a menina que eu fui
já não se espanta
já não se agita
apenas escuta
o silêncio tocando as arestas
de uma porta entreaberta -

Nic Cardeal
05.01.2023


MAGMA

Caminhas armada
com as rochas de magma
que carregas no bolso
— vestígios de eras
que não sucumbem
à erosão

Desprezas os mestres
que incansável procuras
mas cegamente obedeces
às pedras que atiras
na cruz

E se acaso o destino
revela-te um caminho
sem nuvens
no chão à frente tu lanças
os cristais impenetráveis
da tua infância

 

Bernardo Caldeira

Leia mais em https://ruidomanifesto.org/seis-poemas-de-bernardo-caldeira/?fbclid=IwAR0FOOWf9FMZnJLZUwBNcPoUlgmxWrHxRyfp5rGaFN8Pt7jrz4WZkNwzeuE


LENÇÓIS DE RENDA

 

poderia abrir teu corpo

com os meus dentes

rasgar panos e sedas

 

com as unhas

arreganhar as tuas fendas

desatar todos os nós

 

da tua cama arrancar os cobertores

rasgando as rendas dos lençóis

 

perpetuar a ferro e fogo

minhas marcas no teu útero

meus desejos imorais

 

maldizendo a hora soberana

com a força sobre humana dos mortais

quando vens me oferecer migalha e fruto

como quem dá de comer aos animais

 

Artur Gomes

Pátria A(r )mada

2ª Edição

Desconcertos Editora – 2022

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/



lumiar

 

ah este sol da minha vida

a lua cúmplice e tardia

mistério que instiga

vezes mendigo em êxtase

outras príncipe caído

mas há tênue luz que cria

num mundo sem sentido

e me faz imenso e breve

até de mãos vazias

 

Hamilton Faria


das lavras ordenadas*


ando bêbada de tanto quereres
rasgo no dente possíveis arco-íris
tenho fome de cores

construo canteiros na porta de casa
pródiga de sementes
espalho-me desordenada
antevejo perfumes de flores
nos incensários

todos os meus santos são de barro
cuido com o andor
não pretendo sofismar amores desconstruídos
:
além das flores
tenho palavras para lavrar

Ivy Menon

*O  face me lembrou. De 2021


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