quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Poesia Em Movimento


alguma poesia 

 

não bastaria a poesia deste bonde

que despenca lua nos meus cílios

num trapézio de pingentes onde a lapa

carregada de pivetes nos seus arcos

ferindo a fria noite como um tapa

vai fazendo amor por entre os trilhos.

 

não bastaria a poesia cristalina se rasgando o corpo estão muitas meninas tentando a sorte em cada porta de metrô e nós poetas desvendando palavrinhas vamos dançando uma vertigem no tal circo voador.

 não bastaria todo riso pelas praças nem o amor que os pombos tecem pelos milhos com os pardais despedaçando nas vidraças e as mulheres cuidando dos seus filhos.

não bastaria delirar Copacabana

e esta coisa de sal que não me engana

a lua na carne navalhando um charme gay

e um cheiro de fêmea no ar devorador aparentando realismo hipermoderno num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez esse gosto de coisa do inferno como provar do amor no posto seis

numa cósmica e profana poesia

entre as pedras e o mar do Arpoador

mistura de feitiço e fantasia

em altas ondas de mistérios que são vossos

 não bastaria toda poesia que eu trago em minha alma um tanto porca, este postal com uma imagem meio Lorca: um bondinho aterrissando lá na Urca e esta cidade deitando água em meus destroços pois se o cristo redentor  deixasse a pedra na certa nunca mais rezaria padre-nossos e  na certa só faria poesia com os meus ossos.


Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva – 1987

Pátria A(r )mada – 2ª Edição 2022

 


Gesto

 

havia tanta chuva no olhar daquele menino

que o breu de seus pensamentos

manchavam as horas do dia

 

e trovejavam as ondas

e densas brumas vinham...

havia um peso injusto

sobre ombros tão pequeninos

 

do observador, surgiram os "pães"

as mãos miúdas se abriram

trêmulas, ainda em aflição

 

e o breu se desfez em cores

no gesto da doação

havia um encontro marcado

 

em olhares de gratidão.

Tempo perdido

 

Aqueles olhos

Esfaqueavam o coração

De quem ousasse encarar...

 

Amargura estampada!

 

Marcas da dor

Do abandono

Carimbos e danos;

Gestos insanos...

 

Covardia Institucionalizada!

 

Aquelas mãos inseguras

Seguram um fio de navalha,

E cortam a carne do dia

Fazendo com que esse dia

não valha.

 

A violência se prolifera

Ante aos gritos perdidos

Todo silêncio é quebrado

Todo gemido calado...

 

O que se vê e, o que se tem?

-Um Estado de coisas...

-Um Estado falido!

 

Aquele olhar cortava a alma

De quem ousasse encarar...

 

(estampido)

 

Tempo perdido!

 

(Paulo Roberto Cunha)



A Rosa do Povo
para Drummond, Darcy Ribeiro e Oscar Niemayer in Memória

a rosa de Hiroshima ainda fala
a rosa de Hiroshima ainda cala
Frida e seus cabelos de aço
Picasso pintou Guernica
e quando os generais de Franco
lhe perguntaram:
- foi você quem fez isso:?
ele prontamente respondeu
- não, foram vocês que fizeram.

Cartola um dia me disse
que as rosas não falam
simplesmente as rosas exalam
o perfume que roubam de ti

Agora trago a Rosa do Povo
para os dias de hoje nesse Templo escuro
quem poderá viver nesse presente?
quem poderá prever nosso futuro?
nem Zeus nem o diabo que os carregue
eu quero um reggae um arte lata
a vida é muito cara nada barata
eu sou Drummundo Curumin - no fundo
Tupã Rebelde não pede arrego
poesia é pra tirar o teu conforto
poesia é pra bagunçar o teu sossego

Artur Gomes
leia mais no blog https://fulinaimagens.blogspot.com/



Cantaria I

 

Caímos ante as pérolas insanas –

ocultando a centelha

que acende as cinzas.

 

Caímos insólitos

sobre nós, com as proteínas

vencidas e as certezas

provisórias.


Quem aspergiu o florescer

de estiletes –

e o símio que errou

a porta de Deus?

 

Daqui,

desta ilha de presságios,

também as pedras

                     se reinventam.

 

Daqui, deste azul

que tropeça nas aves,

digito a alma em 3-d

encerrado ao córtex verbal

em que me reverbero:


seguindo enquanto espero.

 

Salgado Maranhão

Pedra de Encantaria

Editora 7Letras - 2021


A poesia passeia em tua pele como se eu fosse ela do outro lado da tela você me olha com os teus olhos acesos sem acreditar no que escrevo vejo tua boca molhada teus lábios trêmulos a língua lambendo cada palavra que vai descendo do imaginário metáfora de fogo nos seios de Iansã é ventania

 

Rúbia Querubim



Black Billy

Para |Janes Joplin – in memória

 

Ela tinha um jeito Gal

fatal – vapor barato

toda vez que me trepava as unhas

como um gato

 

cantar era seu dom

chegava a dominar a voz

feito cigarra cigana ébria

vomitando doses do seu canto

 

uma vez só subiu ao palco

estrela no hotel das prateleiras

companheira de ratos

na pele de insetos

praticando a luz incerta

no auge do apogeu

 

a morte não é muito mais

que um plug elétrico

um grito de guitarra uma centelha

logo assim que ela começa

algo se espelha

na carne inicial de quem morreu

 

Artur Fulinaíma

https://www.facebook.com/309148895931842/videos/501205270059536/?pnref=story


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