Artur Gomes
vampiro goytacá
canibal
tupiniquim
*
poesia muito
prosa
viagens metafóricas por realidades reinventadas
Entre/Vistas
Simone
Bacelar - Como você imagina que os leitores irão se conectar com o
personagem principal de "Vampiro Goytacá"? Há elementos específicos
na cultura Goytacá que você acha que serão especialmente ressonantes ou
intrigantes para o público?
Artur Gomes – Apesar de ser Goytacá o
vampiro é um andarilho pelos telhados do presídio federal de brazilírica, um
observador atento do que se passa pelos bastidores dos palácios. Acredito que
ele tenha nascido em 2000 em algma passagem do livro BraziLírica Pereira : A
Traição Das Metáforas
Simone Bacelar - Quais são os desafios e as recompensas de escrever um
livro que mistura elementos sobrenaturais com uma rica herança cultural como a
dos Goytacás? Como você equilibra o respeito pela história e as lendas dessa
cultura com a liberdade criativa necessária para desenvolver a narrativa?
Artur Gomes – Os desafios são muitos, e
enormes, mas as recompensas não posso prever se virá. Sei que as narrativas dos
personagens são provocativas em todos os sentidos da vida humana. Sinceramente
não sei como o leitor campista, irá recebe-las e digerí-las, mas esta não é a
meu ver a grande questão, que é exatamente provocar esse choque, tentar tirar a
cultura goytacá da sua estagnação e levá-la a outras plagas fora da planície
para que outros olhos possam ler, o que não foi escrito pelos “historiadores oficiais”.
Por ser um livro de poesia e ficção não existe de minha parte nenhum
compromisso com a “história”, e sim com a criação.
*
Fernando
Rossi - Como foi pensado a construção do "Vampiro Goytacá"?
Artur Gomes – Foi sendo criada aos poucos,
no correr dos anos, a partir do que cada personagem viveu e escreveu a partir
do momento em que foram criados. Eles não nasceram no Vampiro Goytacá, já
estavam presentes em livros anteriores. E a ideia de “Vampiro” me surgiu de
estalo, num período em 2023 em que fiquei hospedado no Hotel Amazonas,
observando aqueles paredes, caminhando por entre os seus corredores. Ah!
Quantos mistérios, quantas estórias que não foram contadas. ?
Fernando Rossi - Onde termina a ficção e
fica a realidade nessa obra?
Artur Gomes – A ficção começa a partir do
fato de que cada personagem tem suas viagens, suas narrativas, suas vivencias
detalhadas por vários “campos” do planeta terra, não são campistas, e nem nela
moram, são seres andantes, viajantes no tempo e no espaço, mas acredito que não
termina, o livro é uma obra inacabada, e as realidades nele são viagens
reinventadas.
*
Dinovaldo Gillioli - Quando
venta a poesia na sua cachola de pólvora, que fogo anuncia?
Artur Gomes – O fogo de Iansã é vento de
tempestade, todos os meus personagens femininos tem um pouco dessa ventania da
não definição em suas sexualidades, não só os femininos mas alguns masculinos
também, acredito que a poética neles nasce daí, do desejo de matar a fome
comendo o que estiver ao alcance de suas mãos.
Dinovaldo Gillioli - Das palavras que ficam, das que somem, o que
mais te provoca lobisomem?
Artur Gomes – Acredito que em cada um de nós
poetas, tem um pouco de vampiro um pouco de lobisomem e as palavras que fiam
são exatamente aquelas, que no momento exato flui do homem e sua hora e as que
somem são exatamente aquelas que tem mesmo que irem embora.
*
Tanussi Cardoso - Em sua obra, há uma carga estreita entre sua
vida e sua poética. Questões como a linguagem, o ofício do poeta e, igualmente,
os grandes desafios cotidianos, incluindo a amorosidade carnal e espiritual,
tudo isso, num verdadeiro comprometimento com o mundo que nos cerca. A sua
poesia – para quem acompanha sua obra – tem voz própria, única, reconhecida à
primeira leitura. De que modo você pensa a coisa ética na produção de um
artista?
Artur Gomes – Creio que todas essas questões colocadas acima foram aos poucos me dando a consciência do que é ser poeta, artista, um ser dedicado a criação de linguagens e os desafios do cotidiano que nunca foram poucos. Se eu fosse pensar em ética, talvez não escreveria metade do que tenho escrito ao longo desses 51 anos de produção poética. Me preocupa mais a experimentação, o processo criativo para chegar na finalização de uma escrita, seja ela prosa ou verso. Talvez meus personagens nem tenham ética mesmo, pois se tivessem não satisfariam os meus desejos da forma que podem e querem.
Tanussi Cardoso - Você, além de um poeta exponencial, é um
grande produtor e agitador cultural, desde o final dos anos 70. Qual a
importância dos eventos e movimentos culturais, na produção brasileira atual?
Artur Gomes – A partir da minha entrada para o Teatro em 1975, comecei a perceber a diferença como um público percebe o texto lido, e o texto falado. E aí entendi que a poesia muitas vezes precisa da fala para ser melhor sentida por quem ouve, que vai muito além do que é entendido por quem lê. E aí entra também a questão da falta de incentivo a leitura, para a maior parte da população do planeta terra. E os Saraus, as Balbúrdias são fundamentais a meu ver para tentar preencher esses vazios, essas lacunas.
Tanussi Cardoso - Em que momento ou circunstância você se deu conta da poesia possível em você? Ou seja: de onde vem e como nasceu o Artur poeta?
Artur Gomes – Artur Gomes o ser humano, nasceu em 27 de agosto de 1948 na Cacomanga, começou a escrever poesia na tipografia da Escola Técnica de Campos em 1961. E a partir de 1973 começou a publicar. Mas acredito que o Artur Gomes poeta nasceu pra valer a partir de 1983 quando começou a ter contato com a poesia dos grandes mestres da poética universal, com a criação do projeto: Mostra Visual De Poesia Brasileira. E a partir daí começou em 1985 com o livro Suor & Cio, a focar todas as questões que envolvem os relacionamentos humanos dentro da sociedade ondem vivem.
Tanussi Cardoso - Para você a literatura, ou a arte em geral, exige algum papel social de seu criador? Se positivo, qual seria o papel social do artista, principalmente, o do artista brasileiro?
Artur Gomes – Acredito que sim. Porque toda arte e a literatura a meu ver também é, tem seus princípios e fundamentos. E o homem é um ser social que mesmo sendo um artista não pode se eximir dessa condição. Agora no Brasil, essa talvez seja a questão mais complexa para quem tenta viver de sua arte, porque aí começa a surgir por exemplo, os valores dos mercados de arte, a não aceitação de um grande público consumidor, e isso acaba levando a maioria do artista brasileiro, a seguir por caminhos que menos conflitem a sua arte, seja música, poesia, teatro, artes plásticas, cinema, com as condições impostas pelos donos do mercado.
Tanussi Cardoso - Como você vê a poesia brasileira contemporânea?
Artur Gomes – Vejo com uma
diversidade nunca antes vista e uma expansão imensa na quantidade de poetas que
surgem em todos os cantos e recantos do país, e do planeta, produzindo uma
poética de altíssima voltagem. E muitos deles utilizando-se dos recursos
tecnológicos que tem em mãos, com muita sensibilidade e inteligência.
Eugênia Henriques - Irina, esse ser meio apaixonante... Irina existe mesmo ou é um lindo nome propício a uma rima ?
Artur Gomes – Irina não é assim tão santa como uma bela rima . Irina é ficção de uma paixão platônica pela palavra que lhe dá o nome como um bom prato que a gente come para saciar a fome. Acho que ela deve existir sim no subconsciente ou no inconsciente coletivo desse personagem que é um ser vivo pra muito além das mortes. Meus personagens ou até mesmo certas palavras me vem assim num sopro ao sabor do vento em minha viagens metafóricas.
Eugênia Henriques - O Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim é médium? Exótico é o coração do Vampiro Goytacá: ora povoado de musas ora cravando os dentes em alguma carne insensível. Como pode, no coração dele, coabitar lirismo e atrocidade?
Artur Gomes – Acredito sim, que em todo ser humano cabe
um pouquinho de mediunidade, ou uma multiplicidade de Eus, que nos
possibilidades a metamorfose das personalidades que extravasamos de acordo com
o nosso instante no “estado de poesia”. O Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim,
no livro não é um. São 12 personas em seus
estados brutos de lirismo ou em seus momentos de amores traídos e não
concretizados como tudo o que não fizeram em seus encontros marcados.
*
Carmen Moreno - O poema “Meu santo dai-me” revela a poesia, e a arte em geral, como um remédio. As diferentes linguagens artísticas, tão bem integradas na sua criação, curam sua alma e seu corpo? Curam o Vampiro?
Artur Gomes – Meu corpo e minha alma sim. Mas se curam o Vampiro Goytacá ainda não sei, porque ele continua atravessando os telhados do presídio federal de brazilírica para provocar suas balbúrdias ante o estado de coisas em que nos encontramos. E talvez seja esse fogo, essa febre ardente como água quente que o faça assim em vários multiplicado.
Carmen Moreno - Neste livro, que reafirma seu perfil autoral, o inconsciente flui de forma generosa, agrupando palavras em metáforas originais e dinâmicas. Há, inclusive, muitas referências a autores e leituras diversas. Como funciona seu processo de seleção, ou “organização”, para o formato de texto, desse fluxo farto do seu inconsciente criador?
Artur Gomes – O meu processo de criação não é muito organizado não. Só a partir de alguns poemas, textos, narrativas escritas, que vou entendendo com mais clareza qual o personagem, de quem é a v0z autora desse poema ou dessa narrativa, ai é que penso como organizar em livro a sequencia do seu repertório. Como já afirmei várias vezes, não planejo muito as coisas, deixo que elas fluam e ocupem o espaço branco da página, para que eu possa refletir o que fazer com elas.
Carmen Moreno - O livro é permeado por uma atmosfera de humor e leveza, mesmo quando o teor do poema/ texto retrata um fato mais denso. O humor também é sua marca na vida?
Artur
Gomes – Acho que sim, o humor deve ter sido herdado de Oswald de Andrade e o
teatro apesar de ser arte dramática, foi o me ajudou a ser bem humorado, muitas
vezes irônico e sarcástico até. Aprendi a contornar os dramas da vida real com
a fantasia das metáforas, as figuras de linguagens do meta/poema/meta. Uma
forma que encontrei de rir do trágico sem fazer tragicomédia.
Antônio Cunha - Amigo Artur, o Vampiro Goytacá é o nosso Canibal Tupiniquim. Quem é, quem são ou o que são os Bispos Sardinha da vez?
Artur Gomes – Acho que são vários espalhados pelos telhados dos presídio federal de brazilírica. Os fantasmas que precisam ser trucidados urgentemente para que o país volte a ser um país. E que talvez país mesmo nunca tenha sido.
Antônio
Cunha - A poesia não pode acomodar. Na
sua, a palavra arde. Esta é a meta e o alvo?
Artur Gomes – O alvo são os olhos dos distraídos e acomodados, os que poderiam e podem fazer alguma coisa para que essa cruel realidades das coisas que vivemos no Brasil fosse mudada, mas pelo contrário só contribuem para que a realidade continue e se perpetue mais cruel ainda.
Antônio Cunha - Você é um poetator. Há algo na poesia que só a palavra dita alcança para além da palavra escrita e vice-versa?
Artur
Gomes – Sem dúvida acredito, porque
testemunho os resultados de tudo o que escrevo quando é lido, e quando é por
mim interpretado, dito, falado. Por isso uma das coisas que contribuíram a me levar para o teatro foi querer aprender
a escrever poesia. Em 1975, tinha 3 livros publicados, e me incomodava não
saber o que os leitores acharam, que sensações ou impressões tiveram do que
leram. Daí a partir do teatro, comecei a ter essas respostas e do furor que a
poesia falada pode provocar em quem ouve.
*
Jiddu Saldanha - irmão, meu mestre Artur Gomes. Viajamos por muitos lugares, essas fotos me fazem chorar porque só quem viu viu, só quem viveu viveu... Simplesmente LINDRO! como você conseguiu tornar a poesia uma causa de vida, durante toda uma vida?
Artur
Gomes – Acho que a própria vida vivida
foi me levando a fazer da poesia o meu ofício, a minha forma de viver e me
relacionar com as pessoas mais próximas, ou até mesmo as mais distantes mas que
de alguma forma tenha tido a felicidade de me contactar com elas. Só através da
poesia consigo dizer o que é mais fundo, mais profundo em mim. Isso foi um
processo de aprendizado, nas nasceu de uma hora para outra.
Muitas circunstâncias fatos, amores vividos, amores perdidos, vitórias e fracassos, cada um desses acontecimentos acredito que foram sedimentando um caminho para que me pudesse me compreender melhor e entender todo o sentido do que seja nossa vida aqui nesse planeta terra.
Antes que alguém morra escrevo prevendo a morte arriscando a vida antes que seja tare e que a língua da minha boca não cubra mais tua ferida.
Cesar Augusto de Carvalho - No subtítulo, “poesia muito prosa” você já anuncia que seus poemas o aproximarão mais da prosa poética do que aos padrões formais de versificação. Por que, exatamente nesse, Vampyro Goytacá, você optou pela, como gosto de chamar, proesia?
Artur Gomes – Em livro anteriores, eu já experimentava
narrativas em prosa, mas de uma forma tímida, cautelosa, nesse como percebi que
algumas narrativas os personagens, não teriam condições de escrever com o rigor
que o poema exige, em verso, resolvi ampliar o leque da escrita em “proesia”
mesmo.
Cesar Augusto de Carvalho - Em seus livros anteriores há inúmeras referências à obra uilconiana. Aliás, um deles leva o sobrenome de Uilcon no título, o Brazylirica Pereira. Neste Vampiro você cita figuras de linguagem criadas pelo Uilcon Pereira como, por exemplo, Assombradado, Biute e outras referências mais. Sinto, como leitor, que a influência de Uilcon em seu estilo vai além das referências. Minhas suspeitas têm algum fundamento?
Artur Gomes – Sim, ninguém melhor que você para
testemunhar isso. Uilcon foi e continua sendo um grande guru, mestre, de muitos
escritores que tiveram a felicidade de conviver com ele, e se enriquecer da
literatura criativa que ele criou. Convive com Uilson de 1983 a 1996, pessoalmente
nos grandes encontroes, promovido pelo Gabriel de La Puente(nosso Ponte
Grande), e na farta correspondência que trocamos por todo esses 13 anos. Meu
livro Suor & Cio de 1985, tem prefácio dele. Erorci Santana escreveu uma
resenha maravilhosa sobre o BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas
também tocando nesse assunto das referências. Nesse Vampiro Goytacá, eu crio a
partir de Assombradado e todos os personagens são derivações “biúticas” mesmo,
sem nenhuma vergonha de ser.
O chão que nos espera
tem pessoas que ainda
gostam de fantasias ilusões ideias que não cultivo mais a pedra pólen inda me
guia quando admiro céus sóis estrelas luas cheias vez em quando pedalo até a
praia a procura de ouvir o canto da sereia à beira mar yemanjá continuo caminhando nesse chão que nos espera
poesia além da morte bem pra lá dos girassóis para encontrar nas pradarias
a orelha de van gog e
seu instante em desespero não espero muito como alguém que do outro lado do
oceano me espera
nem todo poema
curto
nem todo endereço
acerto
a meta do poeta é
o alvo
o alvo do poeta é
a meta
a flecha
estendida no arco
o arco estendido
na seta
eu quero teus
olhos de vidro
não poema em
linha reta
nem toda cidade
prova
nem todo poema
povo
a clara da gema
nova
pode estar dentro
do ovo
a massa e o
biscoito fino
o biscoito fino
pra massa
no Dia D da
fornalha
acendo a fogueira
na praça
*
portugais meus eus meus
ais
pátria fátria minha de
onde veio meu pai e alguns meus ancestrais
desejos ocultos poemas não escritos fonema não falados circunstanciais meu porto tejo rio que não passa em minha aldeia e agora vem coimbra lisboa mais antiga que me navega ao braga me descuida e me desfaz
redes sociais
depois de tanto amor
apenas um oi
como uma foice
me corta do face
mostra a outra face
sem nenhum receio
não sei pra onde vai
nem de onde veio
amazônica
eu te desejo flores
e um facho de fogo
em couro cru & carne viva
o lance da vida é um jogo
de dados – mistérios
desvendamos sem medo
assim como música do chico
tatuarei os sinais dos teus dedos
em minha pele
sem nenhum segredo
o secreto me foi roubado
na missa do sétimo dia
meu profano
bem mais que sagrado
pano de chão pra poesia
"Nunca fomos
catequizados fizemos foi carnaval".
Oswaldo de Andrade.
Nunca fomos colonizados, fizemos foi Balbúrdia
anti-colonial.
Sady Bianchin
Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting
Luis Turiba
uma cidade sem memória não é uma cidade
Federico Baudelaire
Campos precisa acordar para voltar a ser
Rúbia
Querubim
tocar-te por dentro lentamente calmamente como quem
morde a maçã na boca da serpente e uiva mastigando a
carne como sobremesa
Artur
Kabrunco
o gosto da tua carne
não conheço não me deste o endereço
Federika Bezerra
transverso anjo avessso
atravesso as artérias da cidade águas do paraíba emporcalhadas de esgotos
Irina Serafina
como poesia devoro para
matar a fome quando oro o prazer tem outro nome
Artur Gomes
absinto impossível te
sentir mais do que já sinto
Pastor
de Andrade
cidade veraCidade nossas
angústias penduradas nos varais
Federika Lispector
viva a
lira do delírio antropofágica paulistana metendo a língua desbragada nos
bordéis de copacabana
Lady
Gumes
o delírio
é a lira do poeta se o poeta não delira sua lira não concreta
Artur
Fulinaíma
desde
os tempos de moleque para descascar carne de manga faca facão canivete arma
branca de pivete nos quintais da cacomanga
EuGênio Mallarmè
não tenho
papas na língua nem pastor me come as
coxas eu sou do mar da tempestade beira mar é quem lambe
as minhas ostras
Gigi
Mocidade
Artur
Kabrunco e suas metáforas vagabas me enclausuraram entre os corredores do
presídio federal de brazilírica perdi a lírica nem sei o que estou fazendo por
aqui - enlouqueci
Macabea – A Outra
arquitetura/poesia
enquanto arquitetos desenhistas
desenhavam eu foto.grafava escrevia poesia muitas vezes a arquitetura do poema me
vem em linhas fulinaímicas
sinuosas se em verso ou prosa não explico o que me importa é o ofício ao qual
eu me dedico
serAfim 1 - artur gomes
A inocência do mortos
para Adriano Moura
mesmo ainda não tendo lido
ouso dizê-lo: objeto direto -
substantivo - a inocência dos mortos
espanta a ignorância dos vivos
Pensamento Chão
para Viviane Mosé
lavo a palavra solidão que no palácio da
cultura é quebrada pelo barulho das espátulas raspando paredes e
teto até os livros sentem a falta
de afeto por não serem tocados por mãos ávidas por leitura -
para ademir assunção
um nome escrito no vento
não quero o sentido normal
da coisa como me aparenta
quero a realidade
exatamente como a gente
simplesmente
inventa
nonada
ela me inspira me
transpira me transborda estico a corda para alinhar o plumo no rumo certo do
poema a seta no foco o poema em linha torta para entortar a linha reta
no concreto do abstrato
na
argamassa do concreto
sou
vampiro
bêbado de sangue
assassinei
os alpharrábios
para inventar meu alphabeto
no lado esquerdo
do peito
nu poema
o barro de
alguns barracos continuam entranhados na carne com seus nomes tapera cacomanga cupim queimado
cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri itapemirim
trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados na ferrugem das unhas carcomidas
no branco do papel deponho a faca a foice
navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do
vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br já fui do
breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido
na paulista
roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória quando criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde
no porão da casa onde aprendi a enxergar clara/luz na escuridão quando seus olhos de vidro viraram espelhos para os meus numa madrugada 27 agosto 1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista
tem noites
que a lua cheia me chega com sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno
escorrido das serpentes tem dias que as serpentes me chegam com gosto de lua
cheia
a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu ofício de perfurar na carne o que não cabe in-verso nem por um segundo nem por um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu veneno
quem me vê
assim
tão comportado
não sabe
o que se passa
aqui no centro
não sabe do vulcão
em erupção
nesse serTão
do mato dentro
a traição das metáforas
para juliana stefani
dandara ainda mora naquela
beira de estrada com seu vestido amarelo no rio grande do sul mesmo
que não esteja ainda a vejo atravessando a calçada saindo do carro azul abrindo
o portão da casa de 7 portas douradas com mil garrafas de vinho psicografadas
na sala por algum poeta dos pampas que escreveu por aquelas rampas o que
testemunhou nos vinhedos quando italianos chegaram nas serras dos meus segredos
origem
sou afro-tupi guarani goitacá que subiu o paraíba para o litoral paulista nasci na cacomanga bicho do mato curupira carrapato sou campista não tiro onda de turista sou retalhos imortais do serAfim comigo é assim : nem fiado nem à vista
II
áfrica sim minha mãe de sangue cresci mamando do teu leite lambendo o sal da tua carne quente bebendo água suja no tanque sou fel pimenta azeite quem quiser que me aguente eu sou a lama do mangue
metáforas em
linhas curvas
quando manhã canta e não chove lucia me fala das coxas de yve mergulhadas no pontal até a última sílaba do poema letras salgadas de mar embora mesmo que agora chova e a noite seja um relâmpago de estrelas sinto que nos falta um vagalume para alumiar a escuridão tantas vezes lamparina acesa no bar de neivaldo foram lâmpadas florescentes entre olhos famintos de luz no verão de 2010
minha
escrita
grita
muitas
vezes
invento
palavras
soltas ao vento
a flor dos meus delírios
tem cheiro de poesia relâmpagos de iansã incêndio no meio dia netuno em polvorosa me disse em verso e prosa que ela vem com o frescor da maresia e eu serei o seu ogum anjo da guarda e companhia hoje mesmo distante essa preamar me incendeia ondas espumas explodem na areia tempestades trovoadas ventania e nem sei se estando perto calmaria
não
vendo ilusões
diante
da miséria
que assassina corações
para cecília in memória
eu planto
minha estação existe
a adubagem orgânica está completa
não sou negacionista nem sou triste
sou poeta
irmão das coisas da alegria
eu sinto o gozo no tormento
atravesso noites e dias - invento
eu sei que planto
e o sistema é bruto
mas a terra gira como pomba gira
amora minha eterna namorada
e amanhã eu sei colherei teus frutos
nessa minha estação amada
hoje me surgiu esta ideia:
estava lendo antonio cícero
e antonio carlos secchin
e ai pensei - ler ler ler
ler re-ler
não escrever - parece-me
brincadeira
aprendizado para vida
inteira
do mim dentro de mim
o Eu dentro do Eu
o Não dentro do Sim
metáfora 1
suspenso no ar às vezes penso se
devo pensar tanto como um poema de mayakówski ela um dia virá ao meu encontro e
ressuscitará o poema que ontem não nasceu a vida não é só flores ela me disse
clarice em cada coisa tem o instante em que ela é as vezes também penso ela não
virá aí vou para praça jogar milho aos pombos ao jardim zoológico dar comida
aos patos os meus sapatos já conhecem os anos de espera na última primavera os
lírios não nasceram e as rosas eram só espinhos com minha língua na faca cortei
a fala ainda na garganta e fui pra sala afiar o taco ela não sabe que o vinho
que guardei pra ela é de uma safra
especial de bacco
hipotemusa
a menina da
lanchonete hoje rói as unhas de ira pira quando quero o que ela pensa que é apenas bolero na praça
são salvador com esse poema torto que te leva ao desconforto de pensar o que
não sinto como ela vive sozinha entre pastéis e empadas sua vida é hora marcada
de entrada e de saída não conhece uma outra vida por isso me olha estranha com
uma sede faminta de comer meus olhos com
palavras – quando te digo : não minta
hipotemusa 1
a menina da
lanchonete
em frente a
floricultura
são salvador
mexe na flor
dos cabelos
dedos entre
pelos
enquanto aguço
os olhos
pensando mar
de abrolhos
na terceira
margem do rio
leio um poema
no cio
grafitado em isopor
não sendo assim
que seja como for
hipotemusa 2
ela bagunça
meus 7 sentidos
aguça lambuza
planta um
punhado de brócolis
no pé do meu
ouvido
me dá de beber
mastruz com leite
de comer
esphirra koreana
lhe chamo de
sacana
ela me diz que
é bacana
me fazer de pé
de moleque
pra lamber meus sustenidos
hipotemusa 3
ela agora usa piercing no
nariz
sem medo de ser feliz
joga capoeira no mercado
aprendeu dançar suing
não dá mole pra racista
nem pra patrão
que escraviza empregado
hipotemusa 4
essa garota me alucina não sabe ficar quieta com santa teresa no parque das ruínas tem mais de mil desejos um deles é quebrar meus óculos com sua fome de beijos tem mais de mil ofícios um deles é mapear o litoral das minhas costas pelas praias de são francisco essa garota é bárbara afrodite artemanha de iansã me banha com sua língua de vênus as terças-feiras de manhã
hipotemusa 5
quero botar no seu orkut um negócio sem vergonha um poema descarado já
chegando fevereiro e meu rio de janeiro fica lindo mascarado
quero botar no seu e-mail um negócio por inteiro eu não sou zeca baleiro
pra ficar cantando a mama que ainda tem medo do papa
meu negócio é só com a mina que me trampa quando trapa meu negócio é só com a mina que me canta ouvindo rappa
hipotemusa 6
vou encontrá-la no rio psiu poético sentidos todos plural um tanto cético nessa ponte para o nada - duvido que não exista alguma esperança nos olhos de uma criança disse-me a hipotemusa no amarelinho da lapa antes de atravessarmos para o ccjf com alguma poesia na manga do lado esquerdo do pulso rasgar o verbo da fome e entregar a cara à tapa
hipotemusa 7
hoje acordei com
uma vontade da porra de trepar na goiabeira talvez assim quem sabe ela me chame
de jesus e tire ele da cruz
ou quem
sabe bacurau ou quem sabe bacuri para acabar com carkamanos
ou então até quem sabe ela me chame de exu cabra da peste do nordeste koreano
hipotemusa 8
pode ser que ela nem saiba o quanto o tanto o torto pode ser que ela me queira bem debaixo do vestido e me chegue como sempre me rasgando a roupa me lambendo a boca sem vergonha alguma e me pegue bem assim descabelado displicente distraído pra querer mais uma poesia pra entortar 7 sentidos
hipotemusa 9
ela me deu um beijo na
boca e me disse carne seca me interessa assada na brasa como sua língua quente salivando
entre meus dentes enquanto conto peixinhos na baia da guanabara na hora do gozo
pode cuspir na minha cara essa gosma de lesma na calçada pedra faca trinca
ferro na janela casa mal assombrada cosme velho coisinha de sal e o bruxo ainda escreve dentro dela
hipotemusa 10
quando alvoroçar os teus cabelos
quero outras coisas alvoroçadas
poros pelos entradas
maria padilha
pomba gira cigana
presente na trilha
de qualquer oxossi caçador
beatriz sua filha de santo
foi quem vi no espelho
da minha mesa de búzios
quando joguei para xangô
hipotemusa 11
fulinaimânica sagarânica
fulinaímica sagarínica
algumas vezes muito prosa
tantas vezes muito cínica
hipotemusa 12
foi em são carlos a última
vez que fui encontrei alzira pira da pira de piracicaba incendiou minha carne devorou
meu esqueleto o lance só acaba quando mergulhamos em são josé do rio preto era
uma japinha que conheci em batatais depois da prova dos 9 deu adeus e nunca mais
hipotemusa 13
como ninfa estrangeira ontem me veio envolta de plumas em estado de poesia na baia da guanabara estudava antropologia pelas marinas do rio no sexo sempre quentinha feito uma gata selvagem gozando a vida no cio vestida em pele de algas despida nos desvarios lambeu o mel entre as coxas desapareceu no navio
hipotemusa 14
nem bem havia anoitecido no parque das ruínas teus olhos de lamparina tocaram a pedra do reino nas águas da guanabara coisa rara aquele peixe brilhante dentro daquela boca com seios de primavera e vinhos da santa ceia em tua língua muito louca
todo dia que não amanhece
anoitece
quem nunca leu
sagaranagens
não pode dizer que me
conhece
anjo torto
quando nasci torquato neto
veio ler a minha mão
tinha chegado de teresina
com uma garrafa de cajuína
e um livro na outra mão
e eis o que o anjo me disse
apertando a minha mão
com um poema entre os dentes
vá bicho! não tenha medo do inferno
seja um poeta moderno
cheire as flores do mal
que a poesia de Baudelaire
vai te salvar no final
onde tudo é carnaval
minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao lado do colégio estadual nilo peçanha primeiro endereço que conheci nesta cidade antes de estudar no grupo escolar xv de novembro de onde muitas vezes assisti desfilar a mocidade louca ao lado do meu padrinho benedito que inventou deixa que eu chuto meu guardião absoluto
*
entre
muros e paredes do presídio federal de brazilírica macabea foi jantada pelo
pastor de andrade no carnaval da mocidade tem memórias por lá adormecidas que
ninguém ousa contar a hipocrisia varreu
daquele território a rebeldia marca registrada de um tempo que não podemos
apagar trago nas nervuras entre a carne
e os ossos marcas de explosões da caldeira na tipografia das letras onde
tentaram me domesticar
mas sou
vampiro goytacá
endiabrado serAfim
sou canibal tupiniquim
afora em mim grafitemas nenhuma figuralidade frutas legumes verduras quem cala a fala consente houve um tempo que a dita/dura calou a fala da gente grafito em tua carne de pedra medusa de sete patas poema de sete cabeças miragens do amor que enlouqueça apóstolos na santa ceia miró brincando de circo com os olhos na lua cheia
o poeta é um
fingidor
chove aqui dentro
mais do que lá fora
eu tenho pressa
de olhar teus olhos
nesse mar de angra
o pau brasil ainda sangra
enquanto isso
ela passeia no egito
entre templos sagrados
dessas múmias quânticas
me perdoa
o poeta é um fingidor
mas eu não sou fernando pessoa
qual lamparina me ilumina
e por onde andará macunaíma?
sombras na parede as vezes me
invocam falas delírios outros nem precisa tapa na pantera muitas vezes uma doze
de conhac basta como quando editávamos o curta tropicalirismo jiddu me colocou
na mala da fama foquei lá e até hoje não achei outro endereço minha cama tem
colchão de palha e a tua tem lençóis
que não conheço
quem diria
filho de lavrador
e mãe analfabeta
um dia no brasil
ser chamado de poeta
ainda
existe uma mulher
e
me satisfaz
vampiro lobisomem
tenho
frequentado os telhados junto aos fantasmas da planície visitando os
territórios lamacentos da cidade em cambaíba por exemplo espreito os fornos
crematórios de um passado inda recente voltei aos braços dos desamparados
indigentes da contra mão os que foram trucidados por gritarem contra ditadura e
escravidão
do som dessa palavra
nasce uma
outra palavra
fulinaimicamente
no
improviso do repente
do som
dessa palavra
nasce uma
outra palavra
fulinaimicamente
teatro do absurdo
no próximo dia seis vou me despir de vez rasgar os p(l)anos no próximo dia
seis no parque desengano plantar amoras pedra
bonita – metáforas para os olhos de quem
não vê isa bela acha bonito tudo aquilo que não falo no próximo dia seis desmontar o circo no universo
paralelo montar pirandello beckett ionesco
artaud fernando arrabal no próximo dia
seis vou me despir pro carnaval
resumo
ela tinha as mãos tão suaves que tocavam-se como quem tem a
pele sob a chuva de setembro eu procurava colher maçãs no horto de santa maria
madalena olhava a montanha e lembrava-me de selvagem que fui aos olhos dela
enquanto ainda vivia na tapera o meu cavalo deixava na porta da cidade escrevi
sobre isso no poema quando o tempo rasgou meu corpo na calçada e trouxe-me
folhas de papel em branco.
serAfim 2 - rúbia querubim a desejada de
federico baudelaire
entre os dentes
trago uma língua afiada
carnavalha
para tudo que me valha
irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a
gente não sabe qual foi o pincel
usado pelo pintor
a travessia vou fazendo
no inverso
entre os lábios da tua boca
e as letras do teu inverso
além de tudo meu olho foca
meu olho toca meu olho vê
tudo aquilo que você não lê
quieta
aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações
contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora
seco mas ele gostava até queria que fosse assim como biúte me chamava de vários
nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da
lâmpada e os cálices nos lençóis de algodão as vezes linho para atiçar nossa
luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na
guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu
ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas
do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores
falando para o vento que entra pelos buracos das fechaduras
não conheço
mas é como
se conhecesse
disse-me ontem
a psicóloga
antes que
amanhecesse
depois de uma noite
de trégua
depois de passar a régua
na direção dos des/caminhos
os olhos da janela
me espreitam
enquanto devoro
este poema
salgado de sol
sede
eu tenho sede de água
eu tenho sede de mar
girassol nos meus cabelos
espuma de sal esperma e pelos
por onde eu possa delirar
eu tenho sede de sexo
em noites claras de luar
se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
quando beijar teus lábios
desço garganta mais além
quando tocar teu íntimo
onde o desejo é mais intenso
jura secreta não penso
bebo em teus seios também
espírito santo
guarapari aqui estou
aqui me encontro
em estado de espírito santo
nesse mar azul e branco
como as cores da portela
o rio já passou em minha vida
nas marés de um serafim
mar é o que me fica
como o deus que me habita
sem princípio meio ou fim
musa
que é musa
não tem vergonha de nada
escancara a cara no espelho
se desnuda pra fotografia
teu corpo camisa de vênus
a flor da pele irradia
rasgando a camisa de força
tua carne só poesia
o belo me excita quando vem assim seminua não importa o sexo gênero cor na imagem que me traga essa leveza de estar como pluma levitando sobre o poder da gravidade não importa o nome ou o tipo de sangue que circula pelas veias nem o sal do suor escorrendo pela pele enquanto aqui teço homenagem ao eros que me come
metáfora por metáfora
se ele pensa também penso mas não compenso carência de
ninguém e vou além do outro lado do
carne tudo o que está dentro ou fora do corpo o que vai e vem na hora do sexo
se não me agrada meto a faca corto metáfora por metáfora o músculo/pênis que nunca me deflora
serAfim 3 -
federico baudelaire o mestre sala dos mares
meu abraço pra brasilha a minha ilha de creta a catedral dos desamores essa estranha cidade secreta onde o fascismo e seus louvores um belo dia se instalou vai ser preciso muito amor vai ser preciso muito sexo vai ser preciso muita luta chutar o balde convidar as putas para cantar em alvoradas muitas vezes no congresso muitas vezes na papuda quem sabe um dia a coisa muda quem sabe um dia essa pátria se desnuda e se solte então dessa corrente com as mãos jorrando outras sementes no carnaval de salvador
irina serafina
nem minha
nem tua
toda dela semi-nua
escrevo
como quem
pesca uma piaba
no rio ururai
vou por aí
de itabirina
a iriri
se não cansar
cato conchinhas
de anchieta
a quipari
você ainda não conhece tudo que um dia bem-te-vi no pontal de atafona no portal do imalaia ou na lagoa grussaí você está se aproveitando da nossa situação e está de olho na minha mulher não vai colar porque gigi federika lady rúbia eugênia agora é minha quem mora com ela em iriri do espírito santo sou eu pode tirar seu cavalinho da chuva seu tempo de guarapari passou se não é capixaba que se dane quero mais que o quiabo voz carregue porque sua banda de reggae aqui não toca aqui não é freguesia do ó e você nem conhece quibe de peixe pra ficar jogando isca no meu quintal de areia sua sereia já morreu faz tempo o templo agora é outro pastor de andrade me deu a chave de entrada da cancela principal gado aqui não entra e o bom cabrito vai berrar do lado de fora dos telhados assombradados ficou ali na outra esquina no casarão dos fariseus essas coxas de meninas quem vai lamber sou eu
só quem sabe do riscado
entende o seu ofício
procura
palavra nua toda viva toda crua
o resto que se foda
quero toda palavra toda
toda bruta toda puta
na artimanha do
concreto
no abstrato do ereto
para
rúbia querubim
a pétala
da flor deságua sobre a flor da tua pele nas águas salgadas desse mar nas
correntezas desse rio eu bebo tudo que revele cada gota dessa água na leveza do
teu cio sob os lençóis da tua cama acenderei os teus pavios
alfândega
em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam mayara cigana
que me deixou no desconforto
A
travessia no
inverso do meu tempo sem lenço sem documento janelas abertas ao vento
o
poema freudelérico
não tem nada de pessoa
na vitrola rola um demônios
da garoa
e o poema mete a língua
no avesso da linguagem
rasga os
tecidos da mortalha
assombrado com
o verbo desemprego
afia ainda
mais a carnavalha
com sua faca
de dois gumes
no descompasso do desassossego
bolivariando 2
eu sempre andei no encalço dos olhos de carolina na fantasia dos meus passos
tem confete/serpentina onde o profano e o sagrado em puerto viejo cavajarro se encontram em outro tom a
cigana boliviana com seus olhos de pimenta com suas pimentas nos olho me levou para lá sierra de santa cruz da bolívia onde se masca folhas de coca antes do coito das cinco sem chá e nem torrada e
cerveja muito menos o sexo ali é na porrada(verdade
não invento) com fogos de artifícios botando fogo em carnaval no serTão do mato dentro
poética 43
a percepção acho que é um dom uma
descoberta um pássaro que pousa em nossa cabeça e nos atira aos fios elétricos
do corpo liberdade vem de dentro do motor dos músculos os ponteiros
que só se movem quando querem o repouso absoluto é uma forma de silêncio não
vejo muita graça em ser sozinho solidão as vezes faz bem noutras assusta mas se
tenho um amor que ainda não me diz abertamente do diamante que mora dentro dele
toco - a música dela tem itálias e
palavrões as vezes quando me pergunto onde vou nem sempre tenho respostas aliás respostas é o que menos
tenho encontrado para as 25 mil perguntas paradas no ar o rascunho dos
meus primeiros dias ficou esquecido numa tipografia do tempo emoldurado na tinta que mudou de cor
pedra
dourada
pérola dourada
houve
um tempo numa primavera passada conheci pérola dourada numa pedra onde o tempo agora é saudade por
toda pele grafia na minha íris/retina trouxe a pérola dourada na menina dos meus olhos olhando os olhos da menina em cada pedra que havia
no hotel amazonas - galvez o imperador do acre hospedou-se
em sua passagem por campos dos
goytacazes em direção a vitória do espírito santo e deixou por aqui o vampiro
goytacá que mora neste hotel até hoje e passa as madrugadas na janela do quarto
olhando o pátio interno tentando reencontrar o seu amor nina aroeira vestida de
benta pereira nos cavalos do imperador muitas vezes vi lágrimas descendo dos
seus olhos e as mãos apontadas para o telhado do outro lado do corredor
enquanto rezava para santo antônio se
espantou com alguns passos nos corredores da linda flor florlisbella
dos passos que ali mesmo conquistou
princesa morta
I
II
pedra brava
a vida aqui no recife é
pedra brava federika não dá mole só quer me ver duro não compartilha a grana
diz que não paga cerveja pra amante tremenda sagaranagem além de amante sou o
seu acessor nas artemanhas pelas areias da boa viagem pedra por pedra estou
pensando voltar pra itabira pra iriri nem pensar o espírito santo mora longe não passa por aqui federika está pior
que lampião pensei que vindo para pernambuco fosse amolecer o coração qual nada virou
pedra e nem marreta quebra
o último
goytacá
quando te tocar
é para alvoroçar os teus cabelos
eriçar teus pelos
molhar os teus mamilos de saliva
com essa língua viva
aqui na minha boca
o último goytacá
coisa muito louca
feiticeiro – resistente
mastiga os mamilos da musa
armado de poesia até os dentes
serAfim 4 -
gigi mocidade rainha da bateria
um dia
desses
quero ser sérgio sampaio
porque hoje tô de bode
na cabeça um para raio
tô comigo ninguém pode
soltando bichos no porão
tô faísca tô kabrunco
tô um relâmpago lamparão
a vida não basta
se me bastasse seria outra
clarice quem sabe
beatriz que fosse
fruta que gosto de comer
antropofagia canibal
pronta para o bacanal
filha que sou deste país
de fevereiro
onde todo ano é carnaval
e a vida do meu pai
se foi em sangue
uma bala no estômago
e uma manchete de jornal
por mais
paradoxal
que possa parecer
bailarina
não é um ser normal
como qualquer um outro ser
nesta
noite quieta
entre lençóis e travesseiros
eu aqui inquieta no meu canto
ouço bob dylan
bebendo esse conhac
com tua língua
em minha boca
pelas noites lá do sul
meu
brinquedo verde/azul
trago de
volta os vinhedos
tua pele entre meus dedos
o poema e em guardanapo
até hoje está guardado
na moldura em teu retrato
voragem
para ferreira gullar -
in memória
não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia
eu sou voragem
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
as vezes
distância dói
no centro
as vezes o buraco é fundo
não sei entender direito
como se mede um mundo
geleia é um personagem misterioso meio dionisíaco que vivia nos porões
do studio 52 lá pelos idos de 1987 nem sei quando onde como nasceu vivia
aprontando com o seu projeto de psicanálise popular com um divã em cada esquina
na primeira festa das bacantes nos altos da catedral quando pensávamos ser eunuco devorou a santíssima trindade dela hoje só resta rúbia querubim e um
sacrossanto serafim que despachou federika
para os corais do recife nas marés de pernambuco
vez em quando
geleia passeia pela igreja universal do reino de zeus para tirar um sarro com seu
pastor de andrade na missa pagã do sétimo dia coloca os dedos e a hóstia na língua das ovelhinhas para a encenação
do ciúme nos olhos da sacristia em tudo que é sagrado pra ele não tem segredo os cinismos da hipocrisia em suas juras secretas decreta estado de sítio
em estado de poesia
com o
amor trincando os dentes
parece
até que eu não sabia
que ela fugiria da raia
golpe com rabo de arraia
deixa qualquer uma tonta
ela não estava pronta
se encontrava semi nua
sem coragem de despir o resto
sem coragem de encarar a cama
amarrou-se nas correntes
sem coragem de escancarar a porta
fechou-se então nas janelas
com o
amor trincando os dentes
anti/lírica
um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nos 4 cantos da casa
instigante satírico sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é como um anjo
de belas brancas asas
que me
toma arrasta domina arrasa
poética 86
teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata
penso em vão não escrever certa vez comecei um
poema com vírgula as curvas dos seios no branco do papel o caminho entre
tecidos sob a pele para o túnel onde não passam automóveis a vírgula não é
ponto apenas um sinal no início do poema que não precisa ter ponto final apenas
curvas em direção a outras curvas para encontrar as outras vírgulas no início
do poema
diante do espelho sou
e sempre serei outra
agora o que não sou
fica do outro lado de fora
a lâmina acesa, a brasa
o sal do suor do cio
o mar entre minhas coxas
e mangue entre minhas pernas
os caranguejos que me invadem
sempre que me olham
hoje vou comer
coxinhas na santa ceia paulistana vou comer fiado vou comer de graça coxinha
só se paga a prazo a perder de vista na pia no banheiro no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes nas ruas nas praças nos palácios nas garagens
coxinha é massa de manobra amassada com trigo com farinha carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
coxinha é pior que bicho
linguagem
abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes
toda nudez não será castigada
estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do assalto
e seus metralhas
minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha
onde houver canalha
toco fogo dentro
pecadora confesso
estando toda no cio
no corpo querendo tudo
minha mãe que me descreve
já me conhece do parto
eu sou vadia e não te iludo
eu tenho as veia abertas
um furacão entre as coxas
um vulcão no ventre/útero
mas só um homem me come
desde a minha tenra idade
nas ostras cravei meu nome
eu sou gigi mocidade
fico nua
para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento
a tentação sou eu
deito pra lua
só ela p(h)ode como eu quero
penetrar-me com sua luz de fogo
me deleitar com seu leite
eu quero a lua cheia
que me entre o mar das cochas
e me engravide com seu manto
e que não fique algum quebranto
o mal olhado o olho gordo
que me lave com seu líquido
e me leve até são jorge
montado em seu cavalo branco
o rei está Nu
e a rainha
também
o palácio dava para
os fundos
do submundo
onde morava
a loucura tântrica
em suas garras semânticas
como física quântica
ela gozava solitária
no anoitecer de todo dia
serAfim 5 - federika lispector a ponta da lança
desconcerto
o poeta é um jogador
joga com palavras
letra por letra
sílaba por sílaba
com nomes sobrenomes
universo das coisas
artifício das cores
tira um sarro com metáforas
desconcerta a lírica
a métrica a fonética
e os significados
onde não tem sentido
enfeitiça o sub-mundo
enaltece o desdentado
espelho
não
tenho trava não tenho treta
branca ou preta eu traço o tempo
ao sabor do vento que vem
ao sabor do vento que vai
onda do mar eu tenho o sal
e quero sol a solidão não pega
de surpresa nunca fui presa
fácil pra tua armadilha
eu tenho a trilha que os teus pés
jamais irão pisar
não tenho certeza que isto é um país ando por recife entre
pedras como quem vomita um planalto dentro do palácio grafito a porra no muro
tenho vontade de explodir este barril de pólvora esta é a palavra que não basta
eu trovoada relâmpago ventania temporal elevada a múltipla potencialidade dessa miséria quântica
nessa imoral brasilidade
o dia que eu estiver vestida
não me toque
deixe que eu troque
o sentido para o truque
na armadura de ogum
a trama pro desejo
que não dou a qualquer um
desassossego
o meu amor não tem sossego
morde lambe chupa come
teu corpo que ainda não conheço
tua carne - nem se quer tem endereço
o meu amor não tem apego
agarra larga prende solta
atira ampara - é cachoeira
escorre como trovoada
iansã em tempestade
o meu amor é livre e limpo
quando a alma está lavada
desejo sexo amor paixão
fantasia
diante
do espelho fico zen
chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
canto a mina da esquina
que se chama lys cabral
lys não a de fando nem do bando do rancho da carmélia passeava certa noite em itapoã de bunda pra lua ouviu o canto da sereia se despiu de toda amélia foi me procurar na federal na ciranda do boi cósmico não ouviu seu pai de santo queria me dar por todo canto até mesmo na plateia mas voltou pro morro de são paulo para espanto da geleia
mitológica
fosse afrodite ou fosse vênus
mariana fosse quanto
a flor sagrada de lótus
secreto o espírito santo
os girassóis entre os cabelos
nos lábios lírios do campo
carnívora
o amor é feito de corpos
o amor é feito de membros
o amor é feito de meses
janeiro fevereiro março
todos os dias acordo e me lembro
o amor é feito de abril
maio junho julho
o amor é feito de agosto
setembro outubro novembro
o amor é feito dezembro
o amor é feito de anos
o amor é feito de agora
horas minutos segundos
é razão de estar no mundo
o amor se faz toda hora
serAfim 6 - artur kabrunco garrutio lamparão
Federika Bezerra: A Porta/Bandeira que Bortou Olivácio Doido
Samba/Enredo
do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Olivácio
– A Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo no carnaval de 1993 - em 1995 integrou o
repertório do projeto Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada
Sabia de Mim - Realizado pelo SESC-SP
Em
mil novecentos e vinte e cinco
na noite de orgias satanazes
um raio de trovão incandescente
rachou a Igreja em Goytacazes
um vulto do despacho então desceu
movido por farol de grande luz
tocou na pedra quebrou cruz
a Rainha do Fogo dessa gente
Federika
de ouro azul e prata
na porta da igreja foi parida
criada pelo Padre Olivácio
que logo depois lançou na vida
aos cindo de idade encantada
foi pega masturbando em sacristia
por causa de um sonho com o príncipe
DuBoi da mais sagrada putaria
Expulsa
da cidade foi pra longe
cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis
mas se você pergunta Freud Explica:
- o seu palácio agora é em Petrópolis
Aos
dezenove plena de alegria
conheceu Gigi da Bateria
na porta do Beco de Satã
na festa federal do Bar da Lama
a Deusa dos Lençóis de toda cama
sorrindo para ver como é que fica
dá um corte na história
inverte o drama
e transforma Ouro Preto em Vila Rica
e assim vamos cantar em verso e prosa
a saga dessa Deusa Iansã
que em busca da mordida na maçã
sonhava encontrar Guimarães Rosa
Viemos
do SerTão para os seus braços
porque a Mocidade Independente
é a mais fina e pura Flor do Lácio
afilhada do secular Padre Miguel
e fiel ao seu pai Padre Olivácio
e para completar a grande roda
trazemos o cacique Pau Brasil
o centenário Oswald de Andrade
filho da paulicéia que pariu!
Passando pelas bandas do Catete
dançando na maior intensidade
macumba com o índio brasileiro
nossa Ex-Cola campeã da liberdade
Federika engravidou o grafiteiro
do famoso cacete Samaral
que escrevia pelos muros da cidade:
Mocidade já ganhou o Carnaval!
e assim vamos cantar na grande roda
tudo o que deu e o que não deu
o dia que um pastor bem collorido
pensou ser pai de santo e se fudeu!
operação de risco
aqui assumo o kabrunco como sobrenome de um desses
12 apóstolos de zeus nessa profana e canibalesca santa ceia para
provocar os lobisomens assombrados espalhados pelos telhados dos laranjais da paulicea desvairada do presídio federal da
brazilírica do campos dos goytacazes e dos manguezais são francisco
não sou de morder
comer chupar calado como mordo chupo e canto com meu coração de galinha depois
que boto o ovo e o sangue escorre pelo ânus depois da dentada do vampiro por mais que me
chame espanto sou muito mais que isso lingüiça de chouriço sangue de porco na
tripa cachorro louco cão danado nascer em agosto não me é desgosto pelo
contrário me ins-pira por quê me chamas
fulinaíma? fumaça escorre pelos orifícios de esqueletos refratários caramujos
passeiam paredes emporcalhadas de vinhoto unhas navalhas sangram carnes dos
deuses desencarnados os vermes ainda mordem nas camas dos palácios urubus
pantanais pastos de minotauros no planeta não sei onde ó minha nossa senhora das
tempestades quando me livrar desse pesadelo?
arte
manha
depois de ler o mapa da tribo como um tigre incendiado me visto agora com a flor da pele de salgado maranhão nem sei se wally sabia dessa arte manha salomão não posso dizer o que o poema espreita nestas tardes de brazilha o sol o céu em quantas bocas tudo que é meu está guardado em tudo o que eu criei e o que ainda está pra ser criado e depois do que for re inventado na cor da pele um serAfim res-guardarei como uma onça em pantanal quem sabe até flor do cerrado mandacaru brotando em mim
talvez não tenha lógica o que escrevo minha escrita grita do
inconsciente coletivo vivo re-par-ti-do em três em quatro em cinco em seis em sete quem não conhece não se mete
em tudo aquilo que excita
salve meus erês meus eguns meus xangôs e meus exus salve meus oguns meus oxossis omulus salve iemanjás oxuns e iansãs todas as manhãs que ainda ardem minhas mordidas nas maçãs das coxas de nanãs
irreverência ou morte
disse gigi mocidade pra federico baudelaire homem com flor na boca mestre/sala
dos mares mocidade independente de padre olivácio escola de samba oculta no inconsciente
coletivo não fujo do perigo no asfalto o beijo sujo é preciso estar atento e
forte não temos tempo de temer a morte disse-me caetano na canção tropicalista o
genocida anda solto não podemos nos perder de vista
linguagem
o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca
o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída
sem ter adeus na despedida
a traição das metáforas
durante a viagem olhava a paisagem através da janela árvores montanhas casas abandonadas gado bovino ferro velho onde foi que não estive neste país mal assombrado tenho a leve sensação que o outono nunca vai chegar o patriarca nem vem vindo e um morcego continua na porta principal na entrada da cidade minha avó xingava quando fugia do curral e minha mãe nunca mais me esperou desde o dia em que me fui embora e o 02 não é apenas um traficante de joias no lado b da nossa história
a paisagem vista durante a viagem na janela mexeu com as
minhas unhas sujas de lorca nem era nova granada de espanha nem canção de
milton nascimento ouvia caetano cantando -
"o haiti é aqui' - com sua língua pontiaguda e pensava o dia que o genocida vai me olhar com seus olhos ensandecidos detrás das grades da papuda
se eu não fosse
macunaíma
fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta não caberia
mesmo se filho eu fosse
de uma
nossa senhora
ou de uma santa maria
afilhado de grande otelo
neto da romaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não podia
tinha que ser cacomanga
onde EU então nasceria
poema
atávico
e se a gente se amasse uma vez só a tarde ainda arde primavera tanta nesse outubro quanto de manhãs tão cinzas nesse momento em bento gonçalves mauri menegotto termina de lapidar mais uma pedra tem seus olhos no brilho da escultura confesso tenho andado meio triste na geografia da distância esse poema atávico tem a cor da tua pele a carne sob os lençóis onde meus dedos ainda não nasceram algum deus anda me pregando peças num lance de dados mallarmaicos comovido ainda te procuro em palavras aramaicas e a pele dos meus olhos anda perdida em teu vestido
para gigi mocidade
procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por amor qualquer
miles davis fisgou na agulha
oscar no foco de palavra
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
eros
tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes eros
eletrizou os nossos dedos?
escridura
esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre
o beijo quando for que seja
de língua mordendo a carne quente
algaravia
eu sou o vento que remove teus
cabelos e
repousa em tua face a
outra face do que sente mas
não vê a
palavra que um dia escreverá
– algaravia na
películas da memória na
ficção que entender come
poesia menina come
poesia pois
não há mais metafísica no mundo do que comer poesia
come poesia menina come
poesia não há mais metafísica no mundo do
que comer poesia come poema menina come
poema temos delicados drops de anis ou chocolate de café para festejar leila diniz
temos as líricas tímidas românticas abstratas metafóricas atrevidas temos os chuviscos
bomucados maria mole rapadura
temos também as ácidas viscerais eróticas concretas sensuais as que não livram a cara do fascismo
e dão porrada em ditadura
embriague-se
já me dizia Charles Baudelaire
hoje estou em estado de vinho
só venha comigo quem flor acaso
bem-me-quer
suspenso no Ar não penso
atravesso
o portão da tua
casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde nas cinzas das
horas
no silêncio da
tarde
vou
entrando sem alarde
sem comício como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
se me perguntam
respondo
:
não tenho a mínima ilusão pelo futuro dessa cidade veracidade
mas não me entrego
sou curisco kabrunco capeta
candeias
ainda tenho muitos poemas de brecht
pulsando nas minhas veias
leandra andra como quem escapa da cilada de uma palavra acesa e eu kabrunco acendo a lamparina para iluminar a encruzilhada ainda hoje os dentes mordem a lavra da palavra quando ela se despe atrás da porta para ter sua carne devorada no poema sem nenhum pudor ou receio de problemas
serAfim 7 -
artur fulinaíma o outro
se o amor fosse apenas
desejo quantos beijos neste dia roubaria do teu corpo por inteiro se a paixão
fosse primeiro
quantas horas passaria no
teu corpo noite e dia de janeiro a janeiro
se nada disso resolvesse fome sede fogo febre mergulharia em ondas novas
todo mês de fevereiro
cidade
veracidade
campos
189
transverso atravesso esta cidade que me atravessa em silêncio ouço o gemido dos teus ecos por ruas avenidas e vielas sinto saudade dos terreiros de jongo nas favelas e as lavadeiras das pinturas aquarelas em teus aceiros fiz meus trilhos em cada trilha dos meus traços no encontro ao ururau no cais da lapa teu por do sol pode ser beijo ou também pode ser tapa quando olho a catedral e seu contorno seres famintos alimentando o desalento me solto ao vento quando penso o infinito beijo teu rio o paraíba que me leva em teu lamento me concentro em minha reza
carne viva da loucura
escrevo pra não morrer antes da morte me disse gigi mocidade no homem com
a flor na boca transitivo ou intransitivo vivo na mais sagrada ilógica do inconsciente
coletivo na semeadura dos ossos carnadura
enquanto posso palavrar o que procuro enquanto ócio vou lavrando o
criativo na carne viva da loucura quando da morte sobrevivo
irina é um sol
que dói
no crânio
quando
dentes ardem
e mordem
os
beiços da tarde
não posso permitir irina vestida de cetim de seda fina se a quero felimina vestida de sombra e luz a carne em flocos de lua olhos de não sonhar um abajur cor de carne nas pedras de lumiar
impossível pensar irina vestida
com outras vestes este ser cabra da peste do inconsciente coletivo do imaginário incandescente
inútil pensar irina vestida de
serpentina como fez cinzia farina em seu poema visual era uma tarde de chuva
num sonho de carnaval
naquela hora marcada do encontro que não tivemos
muitas vezes demoro sim levo um tempo para poder decodificar algumas informações não muito previsíveis nem compreensíveis para massas cefálicas como as minha tenho andado em estados como se tivesse não estado essa enel tem me furtado a paciência muito mais que os amores não furtados acabei de ler saramago em seus instantes de lucidez furiosa jiddu saldanha acaba de me dizer que continuo com a mesm a fúria de antes e nem sei se isso é possível diante dessa letargia nostálgica que as vezes me abate como uma lâmina ninja do cinema japonês li uma resenha a pouco de um cara chamado fernando naporano lembrei-me de 1997 quando juntos no festival de inverno de ouro preto criamos a antologia do requinte do lírico ao delicado do erótico impressa em papel criado com folhas de bananeiras com a super direção do mestre dos mestres sebastião nunes desse livro coletivo nasceu a ideia final dos retalhos imortais do serafim iniciada em 1994 no cefet campos e em 1995 no sesc consolação-sp daí em diante começamos a dar voz e fala para alguns serafins que até hoje me acompanham nessa não viagem que muitas vezes tento mas não faço assim como o encontro com stella naquela hora marcada do encontro que não tivemos
meta metáfora no
poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
serAfim 8 - euGênio mallarmè o filho de Severina conterrâneo de torquato
eu sou menino eu sou menina e não venham me dizer que lança perfume é
parafina diversidade de gêneros podes crer – não me alucina eu nasci da minha
mãe que se chama severina lá dos sertões
do nordeste nor/destino nor/destina como o sal do maranhão bumba-meu-boi não
desafina conterrâneo do torquato eu nasci em teresina
*
aqui
em casa
lavo pinto
bordo
o corpo
a alma
os pelos
cada um que
pinte seus
delírios
cada um que
desenrole
seus novelos
*
irina me
disse há um poema seu debaixo das escadas atrás de cada porta dos palácios
metaforicamente fulinaíma desvenda todos os mistérios interplanetários na
invasão dos intra poderes que comandam a invasão da fonética dos ventos e por consequência a invasão cibernética dos corpos
ouvindo
música pra remédio
quando se
trata de metáforas macabea invade a meta do poema afora e se esconde atrás do personagem trancada no sub-inconsciente semi-morta pra toda fauna toda flora na moralidade mata o que o corpo sente deixa a carne apodrecer ao sol da mordacidade
entre hóstias e cultos anti-bíblicos
castrada de toda e qualquer sexualidade prende o gozo na boca quando se masturba mentalmente ouvindo
música pra remédio travestida em todo tédio
que o
histerismo a converteu
você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora
*
irina serafina onça branquinha
brincando de ninfeta com sua língua de fogo devassa o imoral queima boletos da
sabesp na cara de tarcísio desfila na paulista com sua bu(a)nda de metal
poética 48
era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal
como o que eu quisera
como nunca antes
outra mulher me dera
*
tão distante teresina
me lembro da cajuína
saudade da faustina
que conheci no carnaval
da mostra visual de poesia
brasileira
tinha carlos careqa
jormmad muniz de brito
rubervam du nascimento
o verbo então carnal
argamassa no cimento
mas a carne tão macia
viva crua quase nua
acendeu a luz no apartamento
poética
38
enquanto
escavo a seiva
entre o vão das suas coxas
para desfrutar do teu cio
e santificar o nosso ócio
a
selva amazônica perde
mais 200 mil hectares de mata virgem
para as moto serras assassinas
desse venal agro negócio
*
ainda não sei
se
baudelérico ou baudelírico
só sei que
ando meio mallarmélico
completamente
absurdado
com esse
leite condensado
na língua do meu delírio
Agora que Isadora em mim amoras no pomar da minha casa meu corpo incêndio no barril é pólvora a carne em chamas no esqueleto brasa o fogo acende os pavios entorpecidos e o instinto volta a fazer parte dos sentidos
serAfim 9 –
federika bezerra a porta bandeira
a
pedra na carne
a carne na pedra
nem tudo o que me fere
fedra
mesmo estando
onde nunca estive
mesmo tendo estado
isso me provoca
sérias dúvidas
dívidas pra resgatar
no fim do mês
e o preço da
carne seca
está mais caro no mercado
na pele do poema
o cavalo selvagem
cavalga a pele do poema
enquanto transa na pastagem
um novo trote
a deusa do rock
berra em outro canto
enquanto na voragem da vertigem
assento a pedra de xangô
na vitória do espírito
santo
naquela noite de chuva
as cores no vestido de iansã passaram despercebidas por aqui o sangue encarnado
nas matas de oxossi e o olho do dragão na ponta da espada de ogum ainda que
aline na porta da casa velha tivesse sobre a pele meus olhos presos por palavras escritas na parede as sagradas
escrituras não dissessem o quanto ali brotavam flores naquela noite de chuva um
coração estraçalhado
61
revirei sacramento pelo avesso do avesso aline
me acompanhou passo a passo pela ladeira até a casa dos fundos canários no
quintal catavam o que comer fotografamos e filmamos o que pairou no ar e não
perdoa o éter dentro o cafezal nos convidava ao êxtase aline olhou pelo espelho
da janela que dava para o outro lado da alma e levitou entre as trilhas dos
canteiros ouvindo o som que nos unia
frente ao espelho
penso o tempo que não veio o mar que se foi o amor que não ficou o mamilo dos
teus seios os olhos de um boi tudo que restou o sol a luz a cruz a dor de não
dormir o berro a barra a lua o punhal a faca a fruta no quintal a pele o tecido
a cor do teu vestido a flor no temporal a chuva o arco íris teus olhos a retina
a cera a parafina e a nossa vida de animal
a carNAvalha em
são luis do paraitinga
certa vez foi ao carnaval de são luis do paraitinga queria conhecer o
povo caiçara ver os folguedos de artifícios no jogo do baralho do batman com o
coringa mas o dilúvio nos aterrou na estrada só chegamos em profunda madrugada nem
ás de copas muito menos ás espadas em nossa bagagem cerveja era só o que
restava no culler da federika a mulher mais rica do bordel da boemia muito mais
até que a diva a maior puta do país no curral das éguas das planícies montanhosas
na madrugada iluminada como se diz lá nas quebradas em são luis do maranhão
faroeste lamparão
para torquato neto – in memória
quando saí de casa ia dar um tiro na cara do
delegado mas estava desarmado estão me colocando em histórias dos tempos do não
sei onde como se eu durando kid comesse a filha do conde nunca comi amarela em
cinema mexicano muito menos a ruiva do faroeste americano disseram que eu tive
caso de amor que se tornou pernambucano quando encontrei o poeta no trailer do
ricardinho foi me falando de mansinho como se trampa uma batalha pra não cair
na armadilha a grana palavra cilada
agora não se fala mais
agora não se fala nada
o homem com a flor na boca
federico pensou iracema
com seus grandes vestidos folgados como a grande ninfeta iolanda trajada em
vestes de penas nos bailes do império em luanda nas barras das saias da fama
ele então grafitou grumixama palavra que ouviu numa cena na língua da formosa
dama no teatro da rua ipanema nos bordeís de copacabana os
cogumelos de santa cecília nas barras incandescentes da cama pornofônicas palavras
fonemas pitanga urucum colorau açucena com os caldos da salsaparrilha qualquer grande
orgia é pequena
garrutio
o sobrinho do meu tio
marcou o boi com ferro em brasa
por ordens de dom diego de la riva
e na janela da grande casa
do mosteiro de são bento
azeredo furtado garruchava
lençóis de trigos ao vento
enquanto o boi estribuchava
com a metáfora ensanguentada
no couro cru na carne viva
do santíssimo sacramento
lamparão
lamparina acesa no trovão
relâmpagos atravessam
corredores
lá fora chove canivetes e
navalhas
quebradeira geral no
umbral
das coisas incompletas
relampejam nos
currais sacramentados
entre a desgraça e a
glória
e aqui incorporados
nos porões da nossa história
são saruê
festa no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública
a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa
são saruê 1
o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de são joão
meu xangô xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é lampião
profana
tenho apenas
esse punhal de
prata
e a lua já não
é mais cheia
poesia sempre
na veia
e aquele beijo
guardado
que ainda no
foi roubado
na noite da santa ceia
serAfim 10 –
lady gumes ponte grande
com dois
me deito
com três me levanto
com a graça de zeus
e do divino espírito santo
mariana de piracicaba
registro um mar de fogo
mariana um rio de piracicaba
escorre em minha cama
sob os lençóis de cananeia
nem jocasta nem medeia
na minha camisa de vênus
na tua boca de lótus
por tantos anos que não passam
nesse torpor que não me cessa
nem mesmo o chá me acalma
o teu corpo em minhas unhas
no espelho tua alma
por mais que eu queira sonhar
meu amor por tantas eras
que nem mesmo sei contar
*
macabea chorava osso a ponte quebrada não me leva para o outro lado olho o espelho d´água e tenho certeza que vou me afogar engoli o vento da primeira madrugada a casa era cacos de vidros minha filha vaza os pés em rio das ostras nunca mais pensei o mangue como a morada dos peixes e o canal passava atrás da varanda da cozinha hoje estou sóbria muito mais que embriagada pela maresia com esse cheiro de sexo evaporando pelo olhos e o corpo tremendo de susto por não ter com quem gozar
*
algumas imagens permanecem na medula da memória e me mantém viva água viva ontem mesmo te vi à estrela do mar e mesmo não estando foi como se estivesse tatuada em minha pele com letras de sol e sal nos raios de luz do luar beijei teu nome nas algas e mergulhei no teu olhar
fulinaímica
não sei escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um van gog
ou se escrevo um baudelaire
entriDentes 5
ou uma segunda a tarde em campos
ex-dos goytacazes
o grito desestrutura o silêncio atrás da porta a lâmina acesa sangra sob a luz
do abajour lilás a faca escreve a palavra morta dois gumes na noite que estremece
a voz que cala e o assassino limpa a lâmina como quem come sua última refeição
poundianas
torquato era um poeta
que amou a ana
leminski profeta
que amou alice
um dia pós
veio uilcon torto
e pegou a jóia diana
juntou na pereiralice
com o corpo & alma
das duas
foi beauvoir assombradado
roendo o osso do mito
pra lá de frança ou bahia
pois tudo que o anjo dizia
sartre jurou já te dito
NONADA
biúte: ria
fricção
quem passou a língua nas coxas da caipora? me pergunta
federico baudelaire cheirando as flores d0 mal no sarau de euGênio mallarmè
gigi então invoca a dona santa federika que baixa na mesma hora - ora bolas fui
eu com minha língua de faca cortei a cara da vaca a começar pelas coxas depois
subi pelo corpo até o buraco da boca e
meti a língua na língua e na suruba das línguas a dela mordendo a minha a minha
mordendo a dela a arte então se revela não existe arte sem língua nem teatro
sem linguagem
a arte é uma grande suruba no segundo andar da padaria e o resto mais é paisagem no altar da perfumaria
fé cega faca
amolada
não quero paz
nem harmonia
na nova ordem do dia
procuro a lucidez
na desordem da orgia
*
irina me disse ontem que não quer saber de nada que aconteceu ou que vai acontecer seu prazer é mais intenso quando não sabe nem pensa no que irá fazer anda muito dada ultimamente não mente quando o assunto é paixão ou sexo seu desejo é mais complexo que o recôncavo do convexo do baiano da santíssima salvador e seja como for tem andado muito pensativa com as frases positivas do seu anjo serAfim nas páginas ainda brancas do vampiro goytacá canibal tupiniquim
a poesia é meta física
meta quântica
itaipu é um paraíso
dentro do que restou
da devastada mata atlântica
*
serAfim 11 – irina serafina januária vascaína
irina serafina
quem quiser
que me defina
então me canta
não sou assim
tão santa
como uma bela rima
menina oxum
é por
você que me deleito
só por você que me deliro
do lado esquerdo do peito
é por você que me trans-piro
por tudo que foi secreto
por tudo que é sagrado
por quanto já foi escrito
ou ainda não falado
na pedra itapemirim
na pedra de itaocara
guapimirim curumim
guarapari guanabara
em toda água seus mitos
tua flor de lótus tão rara
menina oxum infinito
minha folha verde bonsai
na-mora dentro de mim
de dentro de mim não sai
freudelírica
certa vez
em santa maria madalena
conheci helena
nem de triunfo nem de
tróia
no pescoço não levava
jóia
apenas um saco de ratos
com os trapos que eram
teus
fez de mim gato e sapato
por entre as montanhas de zeus
certa
vez em vila velha na vitória do espírito santo trepei no bonde no centro
histórico da cidade velha enquanto andra mirava seus olhos sobre os meus entretanto
no entanto nada me disse em seu silêncio
de tanto de tanto dizer tanto no trem um tanto no
centro um encanto metafórico no trem do engenho de dentro
da cana
o açúcar
o melado
a rapa dura
o chuvisco da gema do ovo
e a minha língua sacana
bagunçando
a ditadura
falando a língua do povo
devorável
mais uma vez te venho
porque com essa flecha
que me acerta o peito
teu coração me devora
e me desfaz na pétala
como o vôo de um colibri
velocidade de um beija-flor
tire o seu pircing do caminho
que eu quero passar com meu amor
fosse apenas uma palavra reta carinho afeto e uma que ainda falta nesse novo alfabeto que procuro tateio no escuro outras palavras signos signi ficar signi ficando signi ficado na hipotemusa do quadrado do cateto no silêncio que muitas vezes ouvi da flauta do hermeto nas trinta e cinco pausas de renata persigo a trilha em movimento pés descalços sobre a mata e as palavras brotam cachoeiras água corrente vem da fonte como sementes desejadas de brotar
marcabra perambulava ainda as tontas pelo mar vermelho procurando por carlitos argentino (o criador dos moranguinhos) vomitava marimbondos depois que assistiu pelas ruas assombradadas de campos dos ex-goytacazes as mirabolantes peripécias de lady tempestade desnudando coronéis e lobisomens com suas rajadas de vento confesso que não invento a hipocrisia dos homens
lady tempestade a freudelírica satiriza macabea no presídio
federal de brazilírica interpretando luz del fuego no festival internacional
das artes cínicas com uma serpente de cobre no pescoço
serafina macunaímica
ontem
disse que me amava
queria até transar comigo
hoje foge de mim
tranca a tranca do umbigo
fecha a porta entre as coxas
ela sabe que me deixa louca
e adora provocação
mas vou buscar no cu do mundo
sua libido o seu
tesão
dialogando com o
mestre
o poema pode ser
um trem fora do trilho
a ponte que caiu
a mulher que não deu filho
ou a pedra que pariu
domingo
mar de barco
mar de pele
mar de peixes
mar de algas
como um poema de olga
onda de sal nas minhas mágoas
como sua pele de mel
com sua pele de água
rasguei as velas
que teci em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresias
pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos em cada vela que tecia
o
poema as vezes é sabre
lâmina
fina como o vento
ou folhas suspensas
sobre um verde
quase água
quase pluma
levita sobrevoa se espraia
na voragem do dia
como os dedos da moça
ao atiçar o clic
no instante exato da fotografia
cidade voracidade
ainda ontem queria te ver mas não pude – cidade rude oculta atrás do espelho do outro lado da calçada não decifrei teu mapa muito menos cais da lapa onde queria mergulhar teu rio desbravar teu cio para depois dormir
até onde
teus segredos me
aceitam?
até quando
teus mistérios me pertencem?
até onde
teus silêncios tem meus gritos?
quando me deixas
assim aflita
perco o chão por
onde pisa
por onde teu pé
desliza
que não sei quando
ele está
e se perco teus pés
de mim
por onde vou caminhar?
se ela
vier
no frescor da maresia
lhe darei milhões de beijos
antes do amanhecer
de um novo dia
e do corpo que comer
a carne
espalharei tabacaria
*
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora
desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta sendo
animal da mata atlântica quântico amor ou
metafísica tudo que em mim não há
respostas
metáfora d´alkimim fugaz brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas
os bichos amam em comunhão na mata como se fosse
aquela hora exata em que despes de mim o
ser humano e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo
em todas minhas partes
concretas abstratas
o amor sempre retrata
todo espelho que vivi
mariana
gaivotas sobrevoam os cílios da lagoa teus cabelos louros espelham sal na lâmina d´água o
mar – complemento do teu nome naquela
noite de música mágica – quando vozes da
áfrica saltaram da garganta canto de todos os povos no verde da mata luzes na flor da
pele líquida cerveja na sede que não cessa éramos mais que tímpanos absortos
naquele espaço templo com os olhos
famintos devorando luas na constelação
de orions como uma flor de cactos sobre um chão de estrelas
meta morfose
muitas vezes no instante uma mulher por perto noutras meio distante como alcançá-la plena pele pluma palavra carne sal água de mar mesmo fosse água de rio se o que gosta é tempestade só sabe amar por inteiro meu eu perdido em sua fala
*
sou uma mulher da vida irina severina januária vascaína uso a minha arma branca pra enfrentar a tirania transo em qualquer rua de qualquer esquina qualquer encruzilhada de qualquer lua com jorge de ogum federico de oxum mallarmè de yansã não sou pagã fui batizada na igreja universal do reino de zeus nasci em ouro preto vila rica sou filha de deus irmã de federika
o tempo
tem seu avesso
para
Prata Tavares in memória
cidade quando penso nela lembro nossas angústias dormem em camas de ferro madeira ou palha nossas palavras também são foices facões ou car/navalhas nossos poemas estiletes canivetes para rasgarem o pano de luxo das mortalhas nossas mágoas lavamos nas águas do paraíba enquanto eles que pensaram serem donos da cidade incineraram corpos na usina cambaíba
esta noite me preparo para o sagrado de amanhã alguma coisa me diz alguma coisa me conta que vamos nos fartar de carne humana num banquete antropofágico algum acidente trágico pode estar pra acontecer alguma força simbólica entre nós assim pressinto com a química do absinto caldeirão da alquimia como nas noites da cacomanga preparava minha tia alguma bruxa quem sabe em campos dos goytacazes está pronta pra atacar ou quem sabe pastor de andrade é quem vai nos apresentar
serAfim 12 –
pastor de andrade o antropófago
absinto
impossível
te sentir mais do que já
sinto
poesia
muito prosa as vezes pedra noutras vezes fedra quero dizer que ainda arde a
palavra na palavra corpo quando carne e sangue incendeiam paiol de milho na
fazenda da infância cacomanga era um tempo de fartura enxada na palavra do poema
ela vendia
brigadeiro
e eu não fui o
primeiro
a provar suas
delícias
federico passou na frente
como expresso
do oriente
nos levando à
boa vista
de onde ela
tinha vindo
a curuminha
contente
vendeu tudo em
um dia
doce que o
povo comeu
sorrindo ainda
dizia
- vocês são
mais loucos do que eu
discípulo de rimbaud
minha tv pifou nem tenho ido ao
cinema meu filme está carne da palavra
esse poema é trágico me lembra infância lá na cacomanga televisão nunca tivemos era rádio de pilha depois de bateria meu pai criava porcos para vender
na primavera e complementar o seu salário
que nem o mínimo era carteira de trabalho nunca teve
como administrador de uma fazenda com mais de 1000 alqueires de terra com produção agropecuária canavieira e cerâmica industrial (usina de moer
gente) esse é um poema em linha reta nem sei por quê e para que me tornei poeta discípulo de rimbaud talvez só para
escrever que no brasil mesmo depois da
abolição escravidão nunca terminou
o curral das merdavilhas
o brasil já foi ilha de vera cruz
e nunca foi ilha
já foi terra de santa cruz
e nunca foi santa
hoje ninguém mais se espanta
com o volume das trapaças
no curral das merdavilhas
desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da memória, que algumas pessoas, que antes desfilavam por aqui como amigas agora fogem da página como diabo foge da cruz não escrevo para sacerdotes, escrevo para quem vive em liberdade e faz da liberdade o seu sentido maior de viver não vivo atrás de portas/cortinas escondido embaixo de panos a minha língua é explícita linguagem voraz e sacana aprendi com oswald que humor sarcasmo ironia são armas mortais na cara da hipocrisia
itamarna é uma cidade morna quase cinza sem brilho mesmo assim pelas noites passeiam por ali vaga-lumes vagabundos com suas asas de lâmpadas lamparinas irina também passeia por ali pelas madrugadas vestida de quase nada
mini conto
no livro as vísceras expostas em grande estilo tudo aquilo que é ferida aberta passeia sobre o branco do papel todos os órgãos extirpados por uma única facada
sagaraNAgens
a terra aqui é vermelha - branca - é a
carne de dracena tudo cena – dela - só
quero a boca seus olhos de fogo me engolem da janela em frente estou no oitavo
andar de um hotel qualquer seus pelos são pétalas eletrizantes de um maldito
mal-me-quer ajeito o foco da lente para vê-la de perto avisto a púbis de vênus
a língua cresce não seria por menos nem no mais banal dos melodramas com essa
linda louca que me acena aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama
fruta farta
amoras
nus - teus pelos
quantas línguas
já provaram
mangas
na carne ancestral
da uva roxa
pra desbravar
o sexo
no pomar
das tuas coxas
minha ovelha preferida está se
rebelando os ensaios da mocidade
independente de padre olivácio
estão se aproximando e ela não dá as caras vou baixar decreto vou baixar o
santo e não diga no entanto que sou linha dura dessa rapadura você ainda não
viu ela não é santa e não duvido nada que a sua mãe foi a ovelhana que pariu
metafórica
dialética
quantas teorias terei
para escrever o que falo
quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?
mar
esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar
nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
e não sei se vai passar
para o mar que mora em mim
o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora mar de carne e osso se eu não falasse ou não dissesse esse
relógio trágico com seus ponteiros
mágicos arrastando segundo por segundo
tudo o que não passa tudo o que não cessa
o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas
só o céu é testemunha desse instante único em que passeio em tua pele como
uma flor de lótus flor de cactos flor de
lírios ou mesmo sexo sendo flor ou faca
fosse mar de tanta espuma com minha
língua de espera em tua língua de amora em tua língua de mar(a) em tua língua
de mar
labirinto
beber dessa tua língua
luziana o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com mil garrafas de vinho
beatriz – a morta
oswald de andrade re-visitado
como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando oswald pariu a morta
tinha o dente
nos teus olhos preso
angra
assim como
o pau-brasil
a flor do mangue
também sangra
a traição das metáforas
caipora tem andado atormentada pelos corredores do presídio federal de brazilírica a maconha mofada de juiz de fora deve ter provocado um efeito negativo em seus neurônios, ela tem andado surtada delirando com perturbações mentais, da ordem dos apocalípticos seguidores do santo daime dai-lhe misericórdia santo zeus caso contrário ela vai acabar no cais da lapa ou procurando jongo em custodópolis, tendo alucinações com maria anita e se arriscando a levar uma coça de umbigo de boi e aprender a não olhar só para o seu umbigo
na traição das metáforas macabea já sofreu as consequências pelos mesmos
delírios e nem psicanálise lhe devolveu a sobriedade ficou cada vez mais
dilacerada pela própria língua/espora com que tentava ferir a barriga do
cavalo ouça um bom conselho caipora aprendi com chico buarque – “eu lhe dou de graça,
venha minha amiga faça como eu faço inútil dormir que a dor não passa venha
minha amiga brinque com o meu fogo venha se queimar eu semeio vento
na minha cidade vou pra rua e bebo a tempestade”
gosto da
leveza dos dedos deslizando feito pluma penetrar a carne e as sensações
saltarem para o abismo do poema depois dos saraus ela ia de pele e na pele dela
eu ia pra trancoso no litoral da bahia
ou para raposo estação d´água de itaperuna curtir a pedra do toque ela sempre
me disse sentir mais minha carne que a pedra do arpoador em maresia
e sempre gozou mais quando a saliva por entre o anus
escorria
e ela era uma estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco e escavou imagens em brazilírica pereira : a traição das metáforas - e quero dizer que ainda arde tua manhã na minha tarde a tua noite no meu dia tudo em nós que já foi feito com prazer ainda faria
certa vez numa visita que fiz ao presídio federal de
brazilírica pereira com o objetivo de levar algum alívio para algumas daquelas
almas pecadoras me surpreendi com a oferta de macabea
:
- morda o meu pescoço prove do meu sangue
- cruz credo zeus me livre teu sangue não me serve deve estar contaminado de repente com o veneno da serpente
o cu do mundo onde fica?
minha língua afiada
onde enfiá-la?
fulinaimagem
metáfora nua na janela
meter a língua na linguagem dela
rocei suas mãos em conchas pele de ostra molhada mel escorreu por entre as coxas beijei o éter no ar pesquei tua língua que voou depois do coito oito horas depois do abstrato esse lugar enigmático onde estou quando te quero quero quero no pátio da sala plínio marcos foi embora alceu valença manda um frevo na esplanada no festival de pernambuco o eunuco dançarino enrola um papel de seda o pó da pluma na penumbra penetrou minha asp/irina
A
mulher que goza assistindo futebol
irina serafina januária vascaína goza assistindo
futebol na televisão do vizinho da esquina geme berra urra quando atinge o
ponto g eu peço não gema não grite e ela grita: - é gol de roberto dinamite!
tem
uma coisa aqui que ainda não sei decifrar o código do significado 7776668 é o
número do apartamento na quinta avenida e não estou em new york nem em bagdá
estou mirando itapoã em salvador dali me disse: meus bigodes são mais lindos do
que qualquer fellini no cinema meu sangue está na lama misturado a cocaína com
a língua clara dessa gosmenta gelatina - enquanto do outro lado da avenida
joaquim pedro de andrade me pergunta: e por onde andará macunaíma?
sou a lenda
oculta
para o imposto de renda
deixa star
presente
na oferenda
que fiz ontem
pra minha mãe yemanjá
antropofagia
esse poema é um tratado entre o poeta que tem fome de clareza e sua musa
simbolismo de beleza
se eu não beber teus olhos não serei eu
nem mais ninguém disse o poeta a sua musa ainda esfinge
beber na fonte dos seus olhos sem medo de ser feliz ela completa não quero
poema em linha reta ainda sou clarice/beatriz é ela quem me diz
mas eu não sou discreto no abstrato do concreto no concreto do abstrato todo
homem que tem fome abapuru é o teu auto-retrato*
com uma dentada na veia do pescoço matei o prefeito
de cambaíba limpei desossei lavei assei
no mesmo forno da usina recheado com maçãs
do paraíso e servi a santa ceia aos meus 12 apóstolos das bacantes com
um farto altar das mil e uma noites decorado com milhares de garrafas de vinho para o deleite
das 7 eras de vênus afrodite quem quiser
com os dentes cravados na
memória
A
Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No
Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que
cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a
Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural
desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci
Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.
*
A Igreja
Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de
Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de
Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica
Pereira : A Traição das Metáforas, em homenagem ao nosso grande e saudoso
mestre Uilcon Pereira.
O grande
objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma
forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em
alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando
metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá Canibal
Tupiniquim.
BIOGRAFIA
Artur Gomes
É poeta. ator. produtor cultural e vídeo maker. Em 2023, criou o projeto Campos Veracidade para a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima onde atualmente atua na coordenação cultural em Campos dos Goytacazes-RJ.
Livros Publicados: Um Instante No Meu Cérebro(1973), Mutações Em Pré-Juízo(1975), Além Da Mesa Posta(1977), Jesus Cristo Cortador de Cana(1979), Boi-Pintadinho(1980-1981), Suor & Cio(1985), Couro Cru & Carne Viva(1987), 20 Poemas Com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor De Campos(1990), Conkretude Versus ConkrEreções(1994), BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas(2000), SagaraNAens Fulinaímicas(2015), Juras Secretas(2018), Pátria A(r)mada(2019), O Poeta Enquanto Coisa(2020), Pátria A(r)mada, 2ª Edição revista e ampliada(2022), O Homem Com A Flor Na Boca(2023).
De 1975 a 2002 coordenou a Oficina de Artes Cênicas da ETFC – CEFET-Campos – no IFF Instituto Federal Fluminense. Em 1993, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira, Mário de Andrade – 100 Anos, realizado pelo SESC-SP. Em 1995, criou o projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim – realizado pelo SESC-SP. De 1996 a 2016, coordenou o Departamento de Audiovisual do Proyecto Sur Brasil – Bento Gonçalves-RS – realizando Mostras Cine.Vídeo na programação do Congressso Brasileiro de Poesia. Em 1999, criou o FestCampos de Poesia Falada, projeto que é realizado até hoje pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. De 2014 a 2016, dirigiu Curso de Artes Cênicas no SESC – Campos. Em 2018 e 2019, o autor lecionou no Curso Livre de Tetro da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. Em 2018, participou como convidado do I Festival Transepoéticas no Museu Naacional de Brasília-DF. Em 2021, Curador do 1º Festival Cine Vídeo de Poesia Falada que é realizado na página Studio Fulinaíma Produção Audiovisual no Facebook
Em 2019 criou o projeto Balbúrdia Poética, com duas edições realizadas na Taberna de Laura, em Copacabana – Rio de Janeiro, com a participação de diversos poetas convidados.
Em 2022, integrou a Mostra Bossa
Criativa, Arte de Toda Gente, realizada pela FUNARTE-Rio. Foi também curador da
Mostra Cine e Vídeo de Poesia Falada realizada pelo SESC Piracicaba. Realizou
7 edições do projeto Geleia Geral – Semana de 22 – 100 Anos Depois, na Santa
Paciência Casa Criativa em Campos dos Goytacazes-RJ. Em 2023 realizou 8 edições
do Sarau Multilinguagens no Museu Histórico de Campos, no Teatro de Bolso, no
Jardim do Liceu e no Palácio da Cultura em Campos dos Goytacazes-RJ.
Em 2024 em parceria com Tchello d`Barros e Luis Turiba realizou a Balbúrdia Poética 3 – Torquato Leminski a +
de 80 a ser realizada no dia 24 de Abril no Bar do Ernesto – Lapa – Rio de
Janeiro.
No dia 3 de outubro de 2024 foi eleito para a Academia Campista de Letras.
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O Homem Com
A Flor Na Boca