travessia
de Almada vou de atravessar o Tejo
barco à vela Portugal afora
em Lisboa vou compor um fado
e cantar no Porto feito um blues
rasgado de amor pela senhora
que me espera em paz
e todo vinho que eu beber agora
será como beijo que eu guardei inteiro
como um marinheiro que retorna ao cais
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
nesta noite quieta
entre lençóis e travesseiros
eu aqui inquieta no meu canto
ouço Bob Dylan
bebendo esse conhac
com tua língua
em minha boca
as noites lá do sul
trago de volta entre os vinhedos
e tua pele entre meus dedos
o poema escrito em guardanapo
até hoje está guardado
na moldura o teu retrato
Federika Lispector
https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/
translúcida
levanta
natureza morta
você não é
cubism0 de Picasso
nem surrealismo
de Salvador Dali
longe os
cabelos de aço de Frida
calo
muitas vezes
vejo muitas coisas
ao mesmo tempo
na fotografia
dou um corte no
pensamento
para que o
vento me traga
o norte
levanta pássaro
sem sorte
o passo em
falso
o cadafalso
predestinada sina em sua morte
Federika Lispector
https://fulinaimargem.blogspot.com/
Dani-se morreale
se ela me pisar nos calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim
como cavalo
galopar meus pelos
devorar as vértebras
Dani-se
se ela me vier de unhas
me lascar os dentes
até sangrar o sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos
Dani-se
se o amor for bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e Dani-se o fato
deste sangue quente
em tua boca dos infernos
deixa queimar os ossos
e explodir os nossos
poemas físicos pós modernos
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
https://secretasjuras.blogspot.com/
Poétttica
Imburi – essa palavra estranha
só existe em são francisco
e me arrisco
a pensar que seja engano
o biscoito de polvilho
farinha branca no trilho
morreu mais um – menos nada
a tapioca na telha
e o sol sumiu na estrada
Artur Gomes Fulinaíma
esfinge
o amor
não e apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele
cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz
assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nosso profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo
na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente
o nome tem seus mistérios
que se esconde sob panos
o sol e claro quando não chove
o sal e bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve
o mar que vai e vem
não tem volta
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca e a porta
onde o poema não tem fim
artur gomes
http://juras-seecretas.blogspot.com
me encanta mais teus olhos
que o plano piloto de brasília
o palácio do planalto o alvorada
me encanta mais as mãos da namorada
que a bandeira do brasil
o céu de anil a tropicalha
quero muito mais a carnavalha
do que palavra açucarada
quero a palavra sal
no suor da carne bruta
a flor de lótus no cio da fruta
mesmo quando for somente espinhos
me encanta os pés que a lata chuta
por entender que a vida é luta
e abrir novos caminhos
me encanta mais na lama o lírio
a flor do láscio
os olhos da minha filha
que o ouro dessas quadrilhas
que habitam esses palácios
artur fulinaíma
www.carnalhagumes.blogspot.com
Goitacá Boy
ando por são paulo meio araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara
juntei meu goitacá seu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
na sua boca caiçara
para falar para lamber para lembrar
de sua língua
arco íris litoral como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha
mineral da mais profunda lágrima
que mãe chorara
para roçar para cumer para tocar
na sua pele urucum de carne osso
minha língua tara
sonha lamber do seu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão da Guanabara
Artur Gomes
musicado e cantado por Naiman, no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002
clique no link para ver o vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=Y0KKfii2BKY
Bolero Blue
beber
desse conhac em tua boca
para matar a febre
nas entranhas entredentes
indecente
é a forma que te como
bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é
que a fome desse beijo
furta qualquer palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai
dentro dos olhos dela
o meu poema/favela
www.fulinaimagens.blogspot.com
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