sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

travessia


travessia


de Almada vou de atravessar o Tejo
barco à vela Portugal afora
em Lisboa vou compor um fado
e cantar no Porto feito um blues
rasgado de amor pela senhora
que me espera em paz

e todo vinho que eu beber agora
será como beijo que eu guardei inteiro
como um marinheiro que retorna ao cais

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com




nesta noite quieta

entre lençóis e travesseiros
eu aqui inquieta no meu canto
ouço Bob Dylan
bebendo esse conhac
com tua língua
em minha boca
as noites lá do sul
trago de volta entre os vinhedos
e tua pele entre meus dedos
o poema escrito em guardanapo
até hoje está guardado
na moldura o teu retrato

Federika Lispector

https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/



translúcida

 

levanta natureza morta

você não é cubism0 de Picasso

nem surrealismo de Salvador Dali

longe os cabelos de aço de Frida

calo

muitas vezes vejo muitas coisas

ao mesmo tempo na fotografia

dou um corte no pensamento

para que o vento me traga

o norte

levanta pássaro sem sorte

o passo em falso

o cadafalso

predestinada  sina em sua morte

 

Federika Lispector

https://fulinaimargem.blogspot.com/





Dani-se morreale

 

se ela me pisar nos calos

me cumer o fígado

me botar de quatro

assim como cavalo

galopar meus pelos

devorar as vértebras

 

Dani-se

se ela me vier de unhas

me lascar os dentes

até sangrar o sexo

me enfiar a faca

apunhalar meus olhos

perfurar meus dedos

 

Dani-se

se o amor for bruto

até mesmo sádico

neste instante lírico

se comédia ou trágico

quero estar no ato

 

e Dani-se o fato

deste sangue quente

em tua boca dos infernos

deixa queimar os ossos

e explodir os nossos

poemas físicos pós modernos


Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

https://secretasjuras.blogspot.com/

 


Poétttica

Imburi – essa palavra estranha
só existe em são francisco
e me arrisco
a pensar que seja engano
o biscoito de polvilho
farinha branca no trilho
morreu mais um – menos nada
a tapioca na telha
e o sol sumiu na estrada

Artur Gomes Fulinaíma 

www.fulinaimagens.blospot.com




esfinge

o amor
não e apenas um nome
que anda por sobre a pele

um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele

cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz

assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nosso profanos segredos

se um dia falta coragem
a noite sobra do medo

na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente

o nome tem seus mistérios
que se esconde sob panos

o sol e claro quando não chove
o sal e bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve

o mar que vai e vem
não tem volta

o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca e a porta
onde o poema não tem fim

artur gomes
http://juras-seecretas.blogspot.com 



eu quero mais a carNAvalha


me encanta mais teus olhos
que o plano piloto de brasília
o palácio do planalto o alvorada
me encanta mais as mãos da namorada
que a bandeira do brasil
o céu de anil a tropicalha

quero muito mais a carnavalha
do que palavra açucarada
quero a palavra sal
no suor da carne bruta
a flor de lótus no cio da fruta
mesmo quando for somente espinhos
me encanta os pés que a lata chuta
por entender que a vida é luta
e abrir novos caminhos

me encanta mais na lama o lírio
a flor do láscio
os olhos da minha filha
que o ouro dessas quadrilhas
que habitam esses palácios

artur fulinaíma

www.carnalhagumes.blogspot.com





Goitacá Boy

ando por são paulo meio araraquara
a pele índia do meu corpo

concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na  carne clara

juntei meu goitacá seu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
na sua boca caiçara

para falar para lamber para lembrar
de sua língua
arco íris litoral como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha
mineral da mais profunda lágrima
que mãe chorara

para roçar para cumer para tocar
na sua pele urucum de carne osso
minha língua tara
sonha lamber do seu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão da Guanabara

Artur Gomes
musicado e cantado por Naiman, no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002

clique no link para ver o vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=Y0KKfii2BKY

Bolero Blue


beber
desse conhac em tua boca
para matar a febre
nas entranhas entredentes
indecente
é a forma que te como
bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo
é
que a fome desse beijo
furta qualquer palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai



dentro dos olhos dela

o meu poema/favela


Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com


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