Primeiro de uma série está no AR - é só clicar no link baixar
e navegar pelo coração do mato dentro - Gratidão mais uma vez ao grande amigo e
parceiro Jiddu Saldanha, amizade e parceria que começou quando nos conhecemos
em 1992 quando ele estava chegando de Curitiba no Rio de Janeiro.
Novo e-Books, esse eu fiz para o Artur Gomes, o
poeta mais escrachado da geração 1970!
Acompanho a trajetória desse poeta a pelo menos 30
anos. Fizemos um e-Book arqueológico, o leitor vai garimpar seu vasto mundo na
internet...
http://bit.ly/PoemasParaTodasAsHoras
Poemas
Para Todas As Horas
http://bit.ly/PoemasParaTodasAsHoras
Poucos
poetas contemporâneos expressam tão bem as principais bandeiras do Modernismo
de 22 quanto esse vate pós-moderno. Sua poesia é política, antropofágica,
nonsense, musical, polifônica e sobretudo intertextual, além de dotada de uma
brasilidade corrosiva, avessa ao nacionalismo acrítico que se tem espraiado
pela ex-terra de “Santa cruz”.
Adriano Moura –
fragmento do texto sobre O Homem Com A Flor Na Boca – livro lançado pela
Editora Litteralux em 2023
tecidos sobre a pele
ó terra
incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus comandantes só me
enterro à fundo nos teus vagabundos com um prazer de fera e um punhal diamante
minha terra
é de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus
grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta
COITO
teu corpo é carne de manga
em meu pênis viril
enquanto sangra
quando beijo tua boca
enfurecido
rasgando por trás
o teu vestido
COR
DA PELE
África
sou: raíz e raça
orgia
pagã na pele do poema
couro
em chagas que me sangra
alma
satã na carne de Ipanema
o
negro na pele
é
só pirraça
de
branco
na
cara do sistema
no
fundo é amor
que
dou de graça
dou
mais do que moça
no
cinema
CARNE PROIBIDA
o preço atual
proíbe
que me coma
mas pra ti
estou de graça
pra ti
não tenho preço
sou eu
quem me ofereço
a ti
:
músculo e osso
leva-me à boca
e completa teu almoço
PROFISSÃO
meu ofício é de poeta
pra rimar poema e blusa
e ficar em sua pele
pelo tempo em que me usa
FRUTAS
no
vermelho dos morangos
marrom
dos sapotis
na
pele das romãs
carne
das goiabas
polpa
das amoras
licor
das melancias
e
tropical abacaxi
no
gosto que elas têm de beijo
e
jeito que elas têm de sexo
penetro
os dentes mordendo
chupando
dragando em ti
a
terra das frutas na boca
arando
o vale das coxas
com
o caule da minha espada
eu
planto a língua molhada
PRIMEIRO AMOR
montado no sol a pino
no pasto do céu em chamas
eu cavaleiro menino
enlouqueci na sua cama
VOO
SELVAGEM
I
correndo
nos cavalos
cresceu
meu
coração de égua
enxertado
em
ilusões de águias
II
meu coração galopa
pelo campo afora
no dorso dos poemas
na pele das esporas
III
diante
da cerca
estão
os bois
saciando
o sexo:
corpos
sob o sol
selvagens
& parceiros
guiados
pelo odor
amando
pelo cheiro
IV
no pasto
o encontro boca a boca
a égua abriu-se toda
para que nela
entrasse
bastasse ver
o seu pulsar
e gozo
para que o alazão também
entre o capim
gozasse
V
com
espada em riste
galopamos
pradarias
e
lutamos ferozmente
por
dois segundos e meio
tua
fúria era louca
e
agarrei-me em tua crinas
para
não cair da cama
mas
o amor era tanto
e
tanto era o prazer
quando
fomos pra cama
não
tinha mais o que fazer
CORAÇÃO
CIVIL
meu coração vadio
quando está no cio
faz comício
em seu quintal
vai pro bar e bebe o rio
e canta um hino nacional
TEMPERO
é
preciso socar certas palavras
com
sal pimenta & alho
para
dar o gosto
o
ardido
que
se traz na boca
é
tempero mal cuidado
é
preciso cortar o mofo
das
ações de certas palavras
para
quando for poema
ter
ação presente
penetrar
a carne
e
ter sabor de gente
meu poema
se completa
em seu vestido
roçando sua carne
no algodão tecido
EXERCÍCIO
com um dedo
abro
a tua boca vagina
com dois
aperto
o bico do teu seio
e
ultra passo
a porta do teu meio
TERRA
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca
no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio
o
que me dói
é
ter-te
devorada
por tantos olhos
e
deter impulsos por fidelidade
POESIA
I
chegas a mim
como uma égua assanhada
não quer saber do meu carinho
só quer saber de ser trepada
II
eu
te penetro
em
nome do pai
do
filho
do
espírito santo
amém
não
te prometo
em
nome de ninguém
boca
do inferno
por mais que te amar
seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver que me matar que seja
e ser eu tiver que te matar que morra
em cada beijo que te der amando
só vale o gozo quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
Artur
Gomes
Do livro Suor & Cio – MVPB Edições – 1985
Musicado e gravado por Luiz Ribeiro no CD Fulinaíma
Sax Blues Poesia – Fulinaíma Produções – 2000
O
CORPO DA POESIA
para Artur Gomes
I
Seu
semântico
sêmen
quântico
seu
semeio
sêmen
esteio.
nos
aceiros
assim
e
pinci
pau
mente
assados.
nas
moendas
assim
e
parti
cu
lar
mente
assadas.
II
seu
pênis poético
(caneta
tinteiro
lápis
grafite)
é
tênis
atlético
a
cada passada
por
toda calçada
por
todos os Campos
&
campus.
seu
gozo é pôr
prazer.
III
E
se a terra é escrava
a
mulher é companheira
e
se todas duas suam,
gemem,
sabem
da
rija verga da cana,
só
você pode fazer
com
cada uma
uma
mágica
e
tê-las como fecundas,
frutas,
fibras, forças, fadas
e
não só vê-las (solvê-las) absurdas,
frias,
frágeis, soturnas, apáticas.
IV
É
que o corpo da poesia
tem
em si suor & cio
tem
assim toque macio
e
braveza de enxurrada.
Marco
Valença
Itapuã
– Salvador – Bahia
05
setembro – 1985
Suor
& Cio – Artur Gomes
A
cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.
É
o livro de Artur Gomes:
Suor
& Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da
terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.
Artur
tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito
de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes,
gostaríamos de gritar com todas as forças.
Poeta
de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia
brasileira.
Hugo
Pontes
Poços
de Caldas-MG – 17 junho 1987
Obs.
Os poemas tecidos sobre a pele e carne proibida estão publicados na antologia Carne Viva. Org. por Olga
Savary, prmeira antologia de poesia erótica publicda no Brasil.