quinta-feira, 29 de agosto de 2024

com os dentes cravados na memória

Primeiro de uma série está no AR - é só clicar no link baixar e navegar pelo coração do mato dentro - Gratidão mais uma vez ao grande amigo e parceiro Jiddu Saldanha, amizade e parceria que começou quando nos conhecemos em 1992 quando ele estava chegando de Curitiba no Rio de Janeiro.


Novo e-Books, esse eu fiz para o Artur Gomes, o poeta mais escrachado da geração 1970!
Acompanho a trajetória desse poeta a pelo menos 30 anos. Fizemos um e-Book arqueológico, o leitor vai garimpar seu vasto mundo na internet...

 http://bit.ly/PoemasParaTodasAsHoras 

Poemas Para Todas As Horas
http://bit.ly/PoemasParaTodasAsHoras


Poucos poetas contemporâneos expressam tão bem as principais bandeiras do Modernismo de 22 quanto esse vate pós-moderno. Sua poesia é política, antropofágica, nonsense, musical, polifônica e sobretudo intertextual, além de dotada de uma brasilidade corrosiva, avessa ao nacionalismo acrítico que se tem espraiado pela ex-terra de “Santa cruz”.

Adriano Moura – fragmento do texto sobre O Homem Com A Flor Na Boca – livro lançado pela Editora Litteralux em 2023



tecidos sobre a pele

ó terra incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus comandantes só me enterro à fundo nos teus vagabundos com um prazer de fera e um punhal diamante

minha terra é de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta

 

 

COITO

 

teu corpo é carne de manga

em meu pênis viril

enquanto sangra

quando beijo tua boca

                     enfurecido

rasgando por trás

o teu vestido

 

COR DA PELE

 

África sou: raíz e raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele

é só pirraça

de branco

na cara do sistema

 

no  fundo é amor

que dou de graça

dou mais do que moça

no cinema

 

 

 

CARNE PROIBIDA

 

o preço atual

proíbe

que me coma

 

mas pra ti

estou de graça

pra ti

não tenho preço

 

sou eu

quem me ofereço

a ti

:

músculo e osso

 

leva-me à boca

e completa teu almoço

 

 

 PROFISSÃO

 

meu ofício é de poeta

pra rimar poema e blusa

e ficar em sua pele

pelo tempo em que me usa

 

 

FRUTAS

 

no vermelho dos morangos

marrom dos sapotis

na pele das romãs

carne das goiabas

polpa das amoras

licor das melancias

e tropical abacaxi

 

no gosto que elas têm de beijo

e jeito que elas têm de sexo

penetro os dentes mordendo

chupando dragando em ti

 

a terra das frutas na boca

arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

eu planto a língua molhada

 

PRIMEIRO AMOR

 

montado no sol a pino

no pasto do céu em chamas

eu cavaleiro menino

enlouqueci na sua cama

 

VOO SELVAGEM

 

I

 

correndo nos  cavalos

cresceu

meu coração de égua

enxertado

em ilusões de águias

 

II

 

meu coração galopa

pelo campo afora

no dorso dos poemas

na pele das esporas

 

III

 

diante da cerca

estão os bois

saciando o sexo:

corpos sob o sol

selvagens & parceiros

guiados pelo odor

amando pelo cheiro

 

IV

 

no pasto

o encontro boca a boca

a égua abriu-se toda

para que nela

entrasse

 

                 bastasse ver

o seu pulsar

           e gozo

para que o alazão também

          entre o capim

gozasse

 

V

 

com espada em riste

galopamos pradarias

e lutamos ferozmente

por dois segundos e meio

 

tua fúria era louca

e agarrei-me em tua crinas

para não cair da cama

 

mas o amor era tanto

e tanto era o prazer

quando fomos pra cama

não tinha mais o que fazer

 

 

CORAÇÃO CIVIL

 

meu coração vadio

quando está no cio

faz comício

em seu quintal

vai pro bar e bebe o rio

e canta um  hino nacional

 

 

 TEMPERO

 

é preciso socar certas palavras

com sal pimenta & alho

para dar o gosto

 

o ardido

que se traz na boca

é tempero mal cuidado

 

é preciso cortar o mofo

das ações de certas palavras

para quando for poema

ter ação presente

penetrar a carne

e ter sabor de gente

 

 

meu poema

se completa

em seu vestido

roçando sua carne

no algodão tecido

 

 

EXERCÍCIO

 

com um dedo

abro

a tua boca vagina

 

com dois

aperto

o bico do teu seio

 

e

 ultra passo

a porta do teu meio

 

 

TERRA

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca

no teu cio

e uma semente fértil

nos teus seios como um rio

 

o que me dói

é ter-te

devorada por tantos olhos

e deter impulsos por fidelidade

 

 

POESIA

 

I

 

chegas a mim

como uma égua assanhada

não quer saber do meu carinho

só quer saber de ser trepada

 

II

 

eu te penetro

em nome do pai

do filho

do espírito santo

amém

 

não te prometo

em nome de ninguém

 

 

boca do inferno

 

por mais que te amar

seja uma zorra

eu te confesso amor pagão

não tem de ter perdão pra nós

eu quero mais é teu pudor de dama

despetalando em meus lençóis

e se tiver que me matar que seja

e ser eu tiver que te matar que morra

em cada beijo que te der amando

só vale o gozo quando for eterno

infernizando os céus

e santificando a boca do inferno

 

Artur Gomes

Do livro Suor & Cio – MVPB Edições – 1985

Musicado e gravado por Luiz Ribeiro no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – Fulinaíma Produções – 2000

 

O CORPO DA POESIA

                        para Artur Gomes

 

I

Seu semântico

sêmen

quântico

seu semeio

sêmen

esteio.

nos aceiros

assim e

pinci

pau

mente

assados.

nas moendas

assim

e parti

cu

lar

mente

assadas.

 

II

seu pênis poético

(caneta tinteiro

lápis grafite)

é tênis

atlético

a cada passada

por toda calçada

por todos os Campos

&

campus.

seu gozo é pôr

prazer.

 

III

E se a terra é escrava

a mulher é companheira

e se todas duas suam,

gemem, sabem

da rija verga da cana,

só você pode fazer

com cada uma

uma mágica

e tê-las como fecundas,

frutas, fibras, forças, fadas

e não só vê-las (solvê-las) absurdas,

frias, frágeis, soturnas, apáticas.

 

IV

É que o corpo da poesia

tem em si suor & cio

tem assim toque macio

e braveza de enxurrada.

 

Marco Valença

Itapuã – Salvador – Bahia

05 setembro – 1985

 

Suor & Cio – Artur Gomes

 

A cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.

É o livro de Artur Gomes:

Suor & Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.

Artur tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes, gostaríamos de gritar com todas as forças.

Poeta de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia brasileira.

 

Hugo Pontes

Poços de Caldas-MG – 17 junho 1987

 

Obs. Os poemas tecidos sobre a pele e carne proibida estão publicados na antologia Carne Viva. Org. por Olga Savary, prmeira antologia de poesia erótica publicda no Brasil. 


sábado, 17 de agosto de 2024

Da Nascente A Foz : Um Rio de Palavras

o último goytacá

 

quando te tocar

é para alvoroçar os teus cabelos

eriçar teus pelos

molhar os teus mamilos de saliva

                         com essa língua viva

 aqui na minha boca

 

o último goytacá -

 coisa muito louca 

             feiticeiro – resistente

mastiga os mamilos da musa

armado de poesia até os dentes

 

Federico Baudelaire



Jura Secreta 54

 

nossas palavras escorrem

pelo escorrer dos anos

estradas virtuais

fossem algaravias

nosso desejo que não se concreta

 

eu tenho a fome entre os dedos

a sede entre os dentes

e a língua sobre a escrita

que ainda não fizemos

 

e o que brota desse amor latente

se o desejo é tua boca

no lençol dos dias?

 

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

https://braziliricapereira.blogspot.com/


a traição das metáforas

 

pássaro sem teto acima do delírio

coração de porco crava no oco da noite

a faca cega punhas de cinco estrelas

na constelação do cão maior

 

sob as pedras a água escorre

cada vez mais longe de mim

 

as vezes pergunto sim

as vezes respondo não

qual o sentido da folha

despetalada no chão?

 

áfrica sou raíz & raça

orgia pagã na pele do poema

 

um feixe de luz

contra a parede das ruínas

nos  seios deste terra eu vi

 

 

 

projeto foto poesia

FULINAÍMA MultiProjetos

Artur Gomes - poesia fotografia

portalfulinaima@gmail.com

(22)99815-1268 - WhatSaap

http://arturfulinaima.blogspot.com.br/2016/07/a-traicao-das-metaforas.html

o que vem do mar

 

os búzios não mentem jamais

no que vem do mar além de mim

em seus mistérios muito mais

o que vem do mar é salgado

o que vem do mar é sagrado

o que vem do mar eu não vendo

o que vem do mar não revendo

o que vem do mar eu não falo

o que vem do mar não empresto

o que vem do mar é meu falo

posso jurar que não presto

o que vem do mar que já fui

o que vem do mar o que sou

o que vem do mar me reflui

o que vem do mar eu te dou

 

Federika Lispector

https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/


 

Amanhã 30/08 -  2024 – é Nós em nome da Poesia dos cachorros loucos

 

nasci em agosto

a contragosto

pai não me disse

       mãe também

o preço da vida

o remédio pra ferida

o custo em cada missa

           pra dizer amém

 

Artur Gomes

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Irina ontem me perguntou se eu estava bem. Em relação a segunda sim, acho que o ofício de poeta me refaz. Enquanto isso Irina vem e vai como uma rima levada pelo vento sem tempo de captar 

 

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Mais perguntas chegando sobre o livro Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim. Desta vez da minha querida amiga Eugenia Henriques e me remetem outras possíveis facetas do Vampiro que eu mesmo não tinha ainda atentado pra elas.  Como o livro é escrito por 12 personagens a resposta para Eugenia pode ser verdadeiramente positiva, ou pelo menos estar presente nas entrelinhas das metáforas.

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Apesar da saúde da máquina corporal meio baqueada vamos chegando aos 7.6. Com 51 deles dedicados a poesia, jornada iniciada em 1973 com o lançamento do livro Um Instante No Meu Cérebro, livro com poemas dedicados aos ídolos musicais da época e a máquina linotipo, na Oficina de Artes Gráficas da Escola Técnica Federal de Campos, onde trabalhei de 1968 a 1985.

 

Ofício de Poeta

 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linha de pescar

moinhos de vento

entre o franzir e o bordado

escrevo um desenredo

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus brinquedos

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

Editora Penalux - 2023

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fotografia

meu olho gótico TVendo
em mar de fogo e maresia

 

Artur Gomes

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foto grafia

na veia
netuno perdeu seu sapato
na areia

 

Artur Gomes

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fotografia

 

a arte de transformar o tempo

                                  em  poesia

 

Artur Gomes

Foto: may pasquetti

Congresso Brasileiro de Poesia

Bento Gonçalves-RS -outubro 2015  leia mais no blog

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reformar recriar revisitar

ontem fiz uma postagem sobre os 7 anos da perda de Belchior para a cena cultural do país. Assisti   no Canal Brasil o programa  sobre a trilogia re de Gilberto Gil, com foco  sobre os discos: Refazenda, Refavela, Realce, onde ele fala da necessidade de reformar recriar revisitar.

https://www.youtube.com/watch?v=K3d_9TkZkcU

E no Roda Viva retrô de 1991, Gil é entrevistado por um grupo de jornalistas, que dialogam sobre as questões verdes, no meio ambiente, e suas visões políticas holísticas, cosmopolitas.

https://www.youtube.com/watch?v=M93WYLtuwSo

 Hoje vi em um dos meus grupos no zap o comentário do Luis Turiba:

“Viva Belchior

Porque hoje é sábado”

E me remete ao emblemático poema de Vinícius de Moraes que invadiu os palcos do Brasil lá pelos idos dos anos 70. Revisitar este poema e recriá-lo é um dos meus desafios do momento.

 

Artur Gomes

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Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras

 

 ela não era apenas

carne para a fome
do desejo
ela era o próprio desejo
da fome
estampada em letras grandes
na foto grafia do teu nome

 

Artur Gomes

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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

  com os dentes cravados na memória   vampiro goytacá canibal tupiniquim   *             poesia muito prosa viagens metafórica...